ESTUDO DO INEEP APONTA PARA INVIABILIDADE DE AUMENTO DA OFERTA DE GÁS A PARTIR DA REDUÇÃO DE REINJEÇÃO NO PRÉ-SAL
O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia , Alexandre Silveira, estão travando um embate sobre as quantias de reinjeção de gás natural da Petrobrás em campos do pré-sal, inclusive com troca de farpas pela imprensa. Silveira quer que a Petrobrás reduza a injeção para aumentar a oferta de gás, dizendo inclusive que a estatal trata a política para o energético com desdém. A linguagem corporal revela tudo. Vejam para onde cada um está olhando.A estatal rebate, dizendo que essa é uma questão técnica e que a reinjeção é necessária para aumentar a produtividade dos campos. No meio desse debate, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), elaborou um estudo para analisar o tema com uma lupa. Desta vez, o Ineep ficou do lado da diretoria da Petrobrás e diz que é inviável o aumento da oferta de gás no curto prazo a partir da redução da reinjeção.
O estudo do Ineep aponta que o Brasil é um país petrolífero, não gasífero e possui baixo volume de reservas de gás natural, de cerca de 12 trilhões de pés cúbicos (TCF), quando comparado aos maiores produtores de gás no mundo: Rússia (1.321 TCF); Qatar (870 TCFs); EUA (400 TCFs). O Ineep defende ainda que as práticas e os níveis de produção e de reinjeção existentes hoje foram definidos em pesquisas e indicadores aprovados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) há anos e de difícil alteração no curto prazo.
O trabalho aponta também que as reservas de gás natural brasileiras estão localizadas no offshore, águas profundas e ultraprofundas, o que torna o custo de extração mais alto que nesses grandes produtores, onde a extração é onshore. Além disso, no pré-sal, o gás natural é associado ao petróleo, o que exige operações de separação, também de alto custo e complexidade. Todo um processo que implica investimentos de longa maturação.
“Em vez de polemizar o tema, o ministro deveria trabalhar para ajudar o Estado brasileiro, a Petrobrás a ampliarem a exploração e produção de gás natural no país. Isso necessita de investimentos de longo prazo. Exige também investimentos em logística para trazer o gás do mar para a terra”, destacou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar (foto à direita).
A pesquisa do Ineep aponta também aspectos ambientais da prática de reinjeção, utilizada não só para aumento da produtividade dos poços, mas também para redução das emissões de gases de efeito estufa. O trabalho revela que 40% do insumo reinjetado é CO2 associado ao gás natural. Ou seja, caso o gás não fosse reinjetado, o CO2 seria separado e lançado na atmosfera, piorando os indicadores ambientais das companhias. Além disso, outros 40% servem para aumentar a pressão dos poços e, consequentemente, a produção de petróleo. A separação completa do gás natural e do CO2 necessita de equipamentos de alto custo.
“A redução da reinjeção implicaria uma regressão das metas de mitigação das emissões de GEE, no processo de descarbonização e de captura de carbono (CCS) da indústria de petróleo e da Petrobrás”, explicou Mahatma Ramos (foto à esquerda), pesquisador do Ineep, um dos autores do estudo. Segundo a Petrobrás, seu processo de separação do CO2 do gás natural e reinjeção no pré-sal, é a maior operação de captura de carbono (CCS) do mundo e constitui um importante atenuante da pegada de carbono da atividade petrolífera. “Ademais, esse gás reinjetado não é ‘perdido/descartado’, ele pode ser reutilizado na produção de óleo”, acrescenta Ramos.
Como demonstrado no trabalho do Ineep, é preciso observar os obstáculos técnicos, econômicos e ambientais à redução da reinjeção no Brasil no curto prazo, além de observar a maturação da implantação de novos projetos. A temporalidade dos projetos em execução (Rota 3 e atividades da Bacia de Sergipe-Alagoas) não atende a objetivos de curtíssimo prazo.
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