O ANO DE 2023 MARCOU O RESSURGIMENTO DA IMPORTÂNCIA DOS BENEFÍCIOS DA ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL EM VÁRIAS FRENTES

O ano de 2023 para o setor nuclear no Brasil tem sido marcante por várias razões. Seja na geração de energia, seja na ampliação da ciência da medicina nuclear, seja no reconhecimento do governo em acelerar a conclusão do Reator Multipropósito Brasileiro ou mesmo no início da construção do primeiro submarino brasileiro de propulsão nuclear, seja no reconhecimento da ideia de se considerar estratégica a mineração de urânio no Brasil e da fabricação própria do combustível nuclear. Mas, acima de tudo, há de se reconhecer o trabalho quase incansável realizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN). A entidade reúne grandes empresas do setor no mesmo propósito, ampliando a comunicação e a divulgação de um tema tão delicado, combatido por ambientalistas sem conhecimento científico ou por pessoas que se usufruem da tecnologia nuclear de ponta sem saber, repetindo chavões surrados e manchados pelo desconhecimento.

Neste particular, a ABDAN se esforçou muito fazendo investimentos, realizando eventos e reunindo o conhecimento de profissionais brasileiros e estrangeiros de alta capacidade técnica para difundir o conhecimento nuclear pelo Brasil, envolvendo políticos e autoridades governamentais no entorno deste tema. Por isso, convidamos hoje (21) o presidente da ABDAN, Celso Cunha, para relembrar nesta edição do Projeto Perspectivas 2024 as ações deste ano e ouvi-lo sobre o que está planejando para 2024.

 – Como foi o ano de 2023 para a ABDAN?

 – O ano de 2023 foi extremamente intenso para a ABDAN. A Nuclear Trade & Tecnhology Exchange (NT2E), realizada em maio, no Expomag, teve uma repercussão monstruosa e com grande participação do público. Foi a primeira vez que uma feira de negócios do setor nuclear desse calibre foi realizada no Brasil. O resultado foi muito bom.

Nós fechamos o ano com chave de ouro, com duas grandes atividades. A primeira delas foi o evento Nuclear Legacy, em Brasília, que contou com trezentas participantes, sendo quatro ministros e o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria Comércio e Serviços (MDIC). Foi uma atividade imensa que veio mostrar para todos em Brasília que o setor nuclear está vivo e muito ativo. E está tão vivo e ativo que, logo a seguir, em novembro, saímos em uma missão de uma semana para a World Nuclear Exhibiton, na França, fazendo reunião na embaixada brasileira, atividades e muitas conversas com diversas empresas. Saíamos às sete horas da manhã e parávamos às onze horas da noite. Na sexta-feira, dividimo-nos em dois grupos e um deles foi para a Framatome, uma fábrica de alta tecnologia; e o outro grupo foi para o ITER, conhecer o reator de fusão, que é fabuloso.

Também não podemos esquecer que neste ano fizemos pela primeira vez o Nuclear Communication, lá em março, para poder falar de comunicação do setor nuclear e todas as atividades nesse sentido.

Nós também lançamos uma série de trabalhos, a exemplo de um estudo com a Fundação Getúlio Vargas. Esse trabalho ressaltou os impactos do setor nuclear na cadeia produtiva e no PIB, bem como a importância dessa atividade econômica para o Estado do Rio de Janeiro. Entregamos também todo um levantamento de dados da medicina nuclear, fechando o trabalho agora, no final do ano.

– Quais as sugestões que a ABDAN pode dar para melhorar o ambiente de trabalho no setor nuclear?

Evento sobre Medicina Nuclear

–  Não podemos deixar de lembrar que logo no início do ano, o deputado Júlio Lopes, conseguiu formar uma frente parlamentar sólida, com 213 deputados e senadores  sob sua liderança. A vice-presidência ficou com o deputado Áureo Ribeiro e a Secretaria Executiva com o deputado Lindbergh Farias.

Então, estamos colhendo o fruto disso tudo. Tenho que reconhecer que trabalhamos muito mais acima do que planejamos, exigindo demais de nossa equipe, que deu conta do trabalho. Foi um ano de muitas reflexões, com muitas viagens à Brasília o ano todo, com muitas reuniões para conversar com autoridades do governo. Isso foi importante para superar as dificuldades.

Em Paris, reunião com o Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica

O MDIC sinaliza com a construção de uma política para o setor nuclear e incluiu os SMRs nesta política. O Ministério da Ciência e Tecnologia lançou o RMB, disponibilizou dinheiro e está andando.

O recado que temos deixar é que não podemos deixar passar o ano sem deixar de definir a questão de Angra 3. Nós mesmo fomos contra a tarifa de R$ 700,00, achamos que o modelo estava sobrecarregando. Isso é uma modelagem. Não podemos trazer os problemas do passado de Angra 3 para dentro do empreendimento e depois dizer que é caro. Agora, parece estar se resolvendo. Li uma reportagem outro dia indicando que o governo deve estar chegando a um valor de R$ 500,00 para essa tarifa.

No início do ano, fomos ao BNDES e entregamos uma lista enorme de sugestões. Fizemos sugestões para baratear a tarifa. Nesse tipo de debate nós também entraremos. Agora precisamos que o Ministério de Minas e Energia leve isso para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e tome a decisão logo de uma vez. Esperamos que esse assunto avance, principalmente agora com as novas diretorias das estatais que tomaram posse.

– E quais são as perspectivas para o ano que vem?

Nós precisamos avançar com os SMRs. Não é algo que vai acontecer daqui a seis ou oito anos, que devemos esperar. Esse assunto tem que avançar e entrar na agenda de descarbonização. O mundo inteiro está indo neste caminho. Na COP-28 só se falava disso.

Nós vamos trazer novidades grandes para o próximo ano. Não só de eventos, mas vamos trazer pessoas de peso para o Brasil para poder falar sobre os pequenos reatores modulares no Congresso. Eu acredito que a grande perspectiva para 2024 é o governo anunciar a retomada das obras de Angra 3.