AUMENTO DA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA SERÁ UM DESAFIO PARA O PAÍS EM 2017
Os desafios na geração de energia firme na matriz energética do Brasil ainda precisam ser muito discutidos em 2017. É inegável o crescimento dos investimentos em energia eólica e solar, que parecem atender a uma garantia de fornecimento mais imediata. No entanto, a falta de chuvas desvendou uma face disforme de nossa matriz energética, obrigando o país, mais uma vez, a recorrer às usinas termelétricas, produzindo energia cara e poluente, que tem sacrificado a população com o desfraldar de suas bandeiras vermelhas. Bandeiras que apontam o risco do preço alto do consumo e identificando também a vergonha dos estrategistas brasileiros do setor. O segmento nuclear também foi duramente impactado com a explosão das denúncias de corrupção que atingiram alguns executivos da Eletronuclear. A falta de pagamento às empresas que construíam Angra 3 obrigou que as obras fossem suspensas. Neste momento, costuram-se soluções que podem envolver empresas privadas para financiarem a conclusão da usina. Uma alternativa que poderá ser ideal para o modelo de construção das novas usinas nucleares que o país precisa até 2050.
Dentro do projeto Perspectivas 2017, convidamos dois especialistas de peso neste setor de energia: Jésus Ferreira, Presidente da PP Engenharia, e Olga Simbalista, que depois de militar no setor nuclear brasileiro desse o início das operações no Brasil, acaba de assumir a presidência da ABEN, Associação Brasileira de Energia Nuclear.
Vamos saber suas opiniões. Primeiramente, Jésus Ferreira, da PP Engenharia:
1-Como analisa os acontecimentos do seu setor em 2016 ?
– Olhando um pouco para trás, dentro do setor de geração de energia elétrica, não foi muito diferentes dos demais setores de nossa economia. A queda do consumo de energia acompanha pare passu a queda da atividade econômica. Foram concedidos perto de 600 Mw em Pequenas Centrais Hidroelétricas e 3 Gw em wind power em implantação. Entretanto estas concessões e implantações não foram suficientes para representar um crescimento do setor. Para a atual demanda, que está baixa, muitos investimentos em infraestrutura de transmissão deveriam ter sido feitas e não o foram. Em uma pequena retomada de nossa economia nos depararemos com este gargalo.
2- Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa ?
Não devemos anualizar os problemas e nem as soluções uma vez que ambos são bastante complexos. Prefiro analisar um período passado maior.
Considerando a matriz energética brasileira, como solução técnica, seria necessário dobrar a capacidade de geração com termelétricas para termos maior segurança no fornecimento de eletricidade. Entretanto existem problemas muito maiores que interferem diretamente estes investimentos. Continuamos com um estado grande, ineficiente sem força para mudar. Somente conseguimos mudar quando estamos bem, o que não é o nosso caso. Há cerca de 30 anos, no governo FHC, o então ministro Malan negociou com os estados suas dívidas, fechou bancos estaduais, ordenou os gastos, num esforço que todos pagamos. O que vemos hoje é exatamente o mesmo problema. A lei de responsabilidade fiscal não foi cumprida e a conta chegou.
Na área de energia as privatizações ficaram pela metade, inclusive com sinalizações fortes nos últimos anos do governo PT de estadualização de empresas do setor. Estas sinalizações trouxeram instabilidade jurídica para os investidores. Problemas complexos não podem ter soluções fáceis.
3- Quais as perspectivas para 2017 ? Pessimistas ou otimistas ?
– Enxergo com um pouco de otimismo porque acredito que o pior passou. Existe um movimento claro no sentido de participação da sociedade nas decisões legislativas, o que deve ficar mais acirrado no próximo ano.
E agora, as opiniões de Olga Simbalista, presidente da ABEN
1 – Como analisa os acontecimentos de 2016 em seu setor?
Os acontecimentos de 2016 impactaram de forma muito intensa o setor nuclear, sob os aspectos econômico, político e ético. Sob o aspecto ético, as apurações de denúncias e as consequentes condenações de dirigentes e executivos da Eletronuclear, no âmbito da Operação Lava-Jato, levaram à descontinuidade administrativa da empresa, paralisação das obras de Angra 3, agravada, também, pela crise econômica que dificultou a obtenção de recursos para o empreendimento.
A crise econômica também impactou a construção do Reator Multipropósito Brasileiro – RMB do IPEN, fundamental para a independência nacional no setor de produção de radiofármacos, as ampliações das instalações de enriquecimento isotópico, tanto nas Indústrias Nucleares Brasileiras, a INB, para o suprimento do combustível das plantas de Angra, quanto para a produção do combustível do Reator Múltipropósito Brasileiro.
2 – Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
Os maiores problemas pelos quais passa o país estão centrados na volta do crescimento econômico, na diminuição do nível de desemprego e da corrupção, os quais, para serem realmente obtidos, requererão um pacto nacional, envolvendo os poderes executivo, legislativo e judiciário e que seja compreendido e aceito pela sociedade civil, hoje descrente e sem perspectivas.
3 – Quais as perspectivas para 2017? Pessimistas ou otimista?
Analisando pela conjuntura atual, as perspectivas não são otimistas. Mas caso haja uma sinalização de estabilidade, principalmente política, o segundo semestre poderá trilhar caminhos mais estáveis.
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