O DIRETOR TÉCNICO DA ABDAN ESCLARECE SE POSSÍVEL VAZAMENTO DE RADIAÇÃO NO IRÃ CAUSARIA PROBLEMAS GRAVES
Depois dos ataques do B-2 norte-americano as instalações de Fordow, Esfahan e Natanz, além dos ataques israelenses preliminares contra as instalações nucleares onde Irã enriquecia o Urânio até 95% para uso militar, surgiram duas dúvidas importantes: Poderia haver vazamento de radiação contaminando o meio ambiente? Ela seria como Chernobyl ou Fukushima? O Petronotícias procurou o diretor técnico da ABDAN, Associação Brasileira Para o Desenvolvimento das Atividades Nucleares, o ex-presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, para esclarecer o assunto. Leonam também é consultor da Agência Internacional de Energia Atômica, o órgão da ONU dirigida pelo argentino Rafael Grossi, responsável pela supervisão mundial dos países que estão ligados às atividades nucleares.
De pronto Leonam afirmou que o bombardeio de uma usina de enriquecimento de urânio, como aquelas que utilizam tecnologia de centrífugas a gás (como a INB em Resende ou a instalação de Natanz, no Irã), representa um tipo de ameaça bastante sensível por envolver riscos radiológicos, ambientais, estratégicos e de proliferação. Ele divide por categoria:
- Riscos radiológicos diretos
“ Apesar de conter material radioativo, uma usina de enriquecimento não possui material altamente radioativo como um reator em operação ou combustível irradiado. O urânio enriquecido (LEU – até 5% de U-235), mesmo em forma de hexafluoreto de urânio (UF₆), não representa risco elevado de radiação externa. No entanto:
- UF₆ é altamente tóxico e reativo: Em contato com umidade do ar, forma ácido fluorídrico (HF) e urânio oxifluoreto (UO₂F₂), ambos altamente corrosivos e perigosos para a saúde respiratória e dérmica.
- Dispersão local: Um ataque que leve ao rompimento de cilindros ou tanques contendo UF₆ pode causar nuvens tóxicas localizadas, contaminando trabalhadores, áreas vizinhas e águas subterrâneas, embora os efeitos sejam limitados espacialmente.”
- Riscos ambientais
“ A liberação de UF₆ ou de produtos da sua reação química pode contaminar solo, água e atmosfera local.
- A depender da intensidade do ataque e da ventilação da instalação, pode ocorrer dispersão atmosférica de contaminantes químicos em raio
de alguns quilômetros.
- Contudo, não há risco de explosão nuclear ou de radiação penetrante de largo alcance, como ocorre em acidentes com reatores.”
- Riscos de proliferação
“A destruição da planta pode comprometer o controle internacional do material nuclear (salvaguardas), criando o risco de desvio de material nuclear (se partes sobreviventes forem saqueadas).
- Em zonas de conflito ou instabilidade política, material físsil parcialmente enriquecido pode cair em mãos de grupos não estatais, aumentando o risco de uso indevido (ex: “bomba suja”).”
- Riscos estratégicos e políticos
“Um ataque a uma instalação de enriquecimento pode ser interpretado como ato de guerra contra a soberania nuclear de um Estado.
- Pode provocar retaliações militares ou romper tratados e inspeções da AIEA.
- Em países com programas sensíveis (Irã, Coreia do Norte, etc.), um ataque desse tipo pode levar à retirada do TNP e aceleração de programas clandestinos.”
- Exemplos históricos relevantes
“ O Irã (Natanz e Isfahan): Alvo de ataques cibernéticos (Stuxnet, 2010) e explosões misteriosas (2020–2022). Os danos físicos a centrífugas causaram atrasos, mas sem consequências radiológicas graves.
- Iraque (Osirak, 1981): Embora fosse um reator, não uma planta de enriquecimento, foi bombardeado por Israel preventivamente. Gerou
forte condenação internacional e debate sobre ataques preventivos a infraestrutura nuclear civil.
6 – Conclusão
“Um bombardeio a uma usina de enriquecimento não geraria efeitos radiológicos catastróficos, como no caso de um reator ou depósito de combustível irradiado. Porém, os riscos químicos e ambientais locais são significativos, e os efeitos políticos e de segurança internacional podem ser severos.”
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