ONS APURA PRELIMINARMENTE O APAGÃO E APONTA PROBLEMAS NO SISTEMA DE PROTEÇÃO COMO O RESPONSÁVEL
Depois de mais de 24 horas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) concluiu a análise do apagão em todo Brasil na última terça-feira (15). E mesmo assim, diz o ONS, o relatório é “preliminar”. Foi constatado que o primeiro evento da ocorrência foi a abertura, por atuação incorreta da proteção, da linha de transmissão de 500 kV Quixadá-Fortaleza II, de propriedade da Chesf/Eletrobrás. Em um comunicado, o operador do sistema diz que “o desligamento isolado não causaria o impacto visto no SIN e este é um ponto que ainda está sendo apurado”. Neste momento, as equipes do Operador seguem aprofundando a análise da ocorrência, estando prevista para o dia 25 de agosto uma reunião com os agentes envolvidos, além do MME e ANEEL, para avaliar detalhadamente as causas e as consequências da ocorrência. Essa avaliação será consolidada em um Relatório de Análise da Perturbação (RAP), que leva cerca de 30 dias para ser concluído. O ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, politizou o apagão, empurrou responsabilidades, apressou-se em dizer que os reservatórios estavam cheios, mostrando todo seu desconhecimento da situação, e ainda pediu para a Polícia Federal e, acredite, até para a ABIN, a agência de inteligência brasileira, investigarem o que havia acontecido e “mostrar os responsáveis”.
O levantamento realizado até o momento da sequência de eventos verificada na terça-feira (15), quando foi registrada interrupção no fornecimento de cerca de 18.900 MW no Sistema Interligado Nacional (SIN), indica que houve, após a abertura da linha, “um afundamento brusco de tensão seguido da atuação de proteções de caráter sistêmico instaladas no SIN, as quais têm por objetivo conter e minimizar a propagação das perturbações no SIN, além das proteções intrínsecas dos equipamentos.” De acordo com as conclusões preliminares já alcançadas, as proteções sistêmicas, que são mecanismos automáticos de intervenção no SIN, com destaque para a proteção de perda de sincronismo (PPS) e o Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), foram sensibilizadas de modo a evitar oscilações no sistema após a ocorrência do distúrbio inicial. As indicações preliminares são de que a atuação dessas proteções foi correto. Além disso, cabe destacar que a atuação do ERAC foi uma das razões que permitiu o rápido restabelecimento de 100% da carga no Sul e no Sudeste/Centro-Oeste em aproximadamente uma hora.
O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi (foto), disse: “Tivemos um evento de grandes proporções e uma resposta ativa e adequada. A análise preliminar aponta as causas do ocorrido e agora vamos aprofundar os estudos para redefinir mecanismos de prevenção. As ações de segurança que foram adotadas permitiram, por exemplo, que subsistemas que não estavam no centro do problema tivessem uma retomada mais rápida da carga. Por fim, destaco que o ONS se comprometeu a apresentar as primeiras conclusões em até 48 horas e estamos cumprindo este prazo. Nosso papel é esse: gerir o SIN de forma eficiente, transparente, responsável e à serviço da sociedade brasileira”.
Ciocchi ressaltou ainda que, diferentemente de outros eventos similares, não houve incidências de raios, queda de torre, de linha ou qualquer evento relacionado à investigação. Ele disse que também está descartada a hipótese de uma segunda ocorrência na região Norte que poderia ter contribuído com o apagão. O diretor do ONS declarou também que a possibilidade de falha humana não está descartada, mas ainda não há evidências que sustentam essa possibilidade.
A cronologia da recomposição das cargas desligadas foi assim: a ocorrência no Sistema Interligado Nacional (SIN) provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste, com abertura das interligações entre essas regiões.
- Às 08h43 foi iniciado o restabelecimento das cargas da região Sul, sendo concluída às 09h05
- Às 08h52 iniciado o restabelecimento das cargas do Sudeste/Centro-Oeste, sendo concluída às 09h33
- O SIN foi 100% recomposto às 14h49
Em nota, a Eletrobrás confirmou a falha na linha de transmissão e disse que a manutenção da estrutura está em conformidade com as normas técnicas associadas. “Ressalta-se que o desligamento da citada linha de transmissão, de forma isolada, não seria suficiente para a abrangência e repercussão sistêmica do ocorrido. As redes de transmissão do SIN são planejadas pelo critério de confiabilidade ‘n-1’, de modo que, em caso de desligamento de qualquer componente, o sistema deve ser capaz de permanecer operando sem interrupção do fornecimento de energia”, explicou a Eletrobrás.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, realizou ontem (16) uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para levantar as informações sobre o apagão de terça-feira. Após o encontro, ele disse que a Chesf já corrigiu a falha na linha de transmissão, mas voltou a frisar que o problema visto no Ceará não seria capaz de desencadear o blecaute nacional: “Mais do que nunca é necessária a participação (da PF), já que o ONS não apontou falha técnica que pudesse causar [o apagão] na dimensão que foi”, avaliou. “Todas as possibilidades estão sendo avaliadas. A penalização depende das apurações. Isso depende dos desdobramentos”, acrescentou.
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