ONU FALA EM “SENTENÇA DE MORTE” PARA FONTES FÓSSEIS APÓS NOVO RELATÓRIO ALARMANTE DO IPCC SOBRE O CLIMA
O mundo amanheceu nesta segunda-feira (9) com um alarme alto e preocupante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês). O órgão, ligado às Nações Unidas (ONU), divulgou um relatório com um recado duro: parte das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares de anos e algumas delas são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de anos. Diante do cenário dramático apontado no documento, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres (foto), foi categórico ao afirmar que o recado dado pelo IPCC deverá soar como uma “sentença de morte” para as fontes fósseis e o carvão.
“Os alarmes são ensurdecedores e as evidências são irrefutáveis: as emissões de gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento estão sufocando nosso planeta e colocando bilhões de pessoas em risco imediato”, escreveu Guterres. “Este relatório deve soar como uma sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis, antes que destruam nosso planeta… Os países também devem encerrar toda a nova exploração e produção de combustíveis fósseis e transferir os subsídios aos combustíveis fósseis para energias renováveis”, acrescentou.
O secretário-geral da ONU disse ainda que para manter uma trajetória líquida zero de emissões até meados do século, a capacidade solar e eólica deve quadruplicar até 2030 e os investimentos em energia renovável devem triplicar durante o intervalo.
O relatório do IPCC aponta que reduções fortes e sustentadas nas emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa limitariam as mudanças climáticas. O documento destaca que os benefícios para a qualidade do ar a partir da diminuição das emissões podem surgir rapidamente, mas ainda assim poderá levar de 20 a 30 anos para que as temperaturas globais se estabilizem. O estudo do IPCC prevê que o aquecimento de 1,5°C a 2°C será ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa.
“A estabilização do clima exigirá reduções fortes, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa e alcançar emissões líquidas zero de CO2. Limitar outros gases de efeito estufa e poluentes do ar, especialmente o metano, pode trazer benefícios tanto para a saúde quanto para o clima”, disse o membro do IPCC, Panmao Zhai. O novo relatório tem cerca de 3.500 páginas e foi escrito por mais de 200 cientistas de mais de 60 países.
O IPCC projeta que nas próximas décadas as mudanças climáticas aumentarão em todas as regiões. Para 1,5° C de aquecimento global, haverá ondas de calor crescentes, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. A 2° C de aquecimento global, os extremos de calor atingiriam mais frequentemente os limites de tolerância críticos para a agricultura e saúde, mostra o relatório. O documento também cita outras consequências, listadas a seguir:
– As mudanças climáticas estão intensificando o ciclo da água. Isso traz chuvas mais intensas e inundações associadas, bem como secas mais intensas em muitas regiões;
– A mudança climática está afetando os padrões de precipitação. Em altas latitudes, é provável que a precipitação aumente, enquanto se prevê que diminua em grandes partes das regiões subtropicais. Esperam-se mudanças na precipitação das monções, que variam de acordo com a região;
– As áreas costeiras verão o aumento contínuo do nível do mar ao longo do século 21, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e severas em áreas baixas e erosão costeira. Eventos extremos ao nível do mar, que anteriormente ocorriam uma vez a cada 100 anos, poderiam acontecer todos os anos até o final deste século;
– O aquecimento adicional ampliará o degelo do permafrost e a perda da cobertura de neve sazonal, o derretimento das geleiras e mantos de gelo e a perda do gelo do mar Ártico no verão;
– Mudanças no oceano, incluindo aquecimento, ondas de calor marinhas mais frequentes, acidificação dos oceanos e níveis reduzidos de oxigênio, foram claramente associadas à influência humana. Essas mudanças afetam os ecossistemas oceânicos e as pessoas que dependem deles e continuarão pelo menos até o final deste século;
– Para as cidades, alguns aspectos da mudança climática podem ser amplificados, incluindo o calor (já que as áreas urbanas são geralmente mais quentes do que seus arredores), enchentes devido a eventos de forte precipitação e aumento do nível do mar nas cidades costeiras.
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