OS PROBLEMAS DA PANDEMIA REFLETIDOS NA POLITICA DE FRETES PODEM TER MUDADO A CULTURA DE CONTRATAÇÕES, COM REDUÇÃO DE PREÇOS
Os desarranjos logísticos na cadeia global causaram impactos significativos nos custos de transporte ao longo dos últimos anos, sobretudo, em 2022, afetando empresas e consumidores. Ainda lidando com as consequências do fechamento de portos importantes em todo o mundo em razão da pandemia, as empresas sofreram no ano passado com a indisponibilidade de contêineres e navios em diversos portos, o que pressionou o preço do frete. Em quatro anos, o preço do frete marítimo chegou a custar quase 8,4% do valor do produto importado, mas não foi a única modalidade impactada. É o que indica o levantamento da Vixtra, fintech de comércio exterior, que analisou os dados relacionados ao frete aéreo, marítimo e rodoviário de 2019 ao primeiro trimestre de 2023. O levantamento foi realizado a partir de dados disponibilizados pelo Ministério da Economia e indica que, desde o início da pandemia, em 2020, os custos seguiram em uma curva de crescimento que teve seu pico no ano passado, quando atingiu 7,2% do custo do produto e começa a dar sinais de queda. Segundo os dados, em 2019, o custo médio do frete em relação ao do produto correspondia a 3,9%, aumentando para 4,9% em 2020 e alcançando 7% em 2021. Em 2022, houve um aumento adicional para 7,2% e, então, começou a cair. Nos quatro primeiros meses de 2023, o valor chegou a 5,4%.
Leonardo Baltieri, co-CEO da Vixtra, analisou as razões por trás dessas variações no preço: “O aumento no preço do frete pode ser atribuído a diversos fatores, como o aumento do custo dos insumos para o transporte, a escassez de mão de obra qualificada, os reajustes dos combustíveis e os impactos da inflação. Por outro lado, a redução em 2023 pode estar relacionada a uma menor demanda por transporte de cargas, bem como as medidas adotadas para otimizar a logística e torná-la mais eficiente.” Baltieri também destaca os impactos do alto preço do frete para as empresas e a população em geral. “O aumento no preço do frete afeta diretamente o custo de produção das empresas, principalmente aquelas que dependem de logística intensiva. Para a população, isso pode se refletir em preços mais altos nos produtos finais, já que o frete representa uma parcela considerável do valor total. Em alguns casos, como no aéreo, o frete chegou a representar quase 9% do valor do produto em maio de 2020, o que é significativo e pode inibir o consumo”.
Analisando os diferentes modos de transporte, o frete aéreo foi o que apresentou maior crescimento em relação ao preço do produto. Em 2019, representava 4,5%, subindo para 6,6% em 2020, chegando a 8,6% em 2021 e posteriormente caindo levemente para 8,2% em 2022 e 5,6% no primeiro quadrimestre de 2023. Já o frete marítimo teve uma variação menor em comparação ao aéreo: começou com 3,7% em 2019, subiu para 4,4% em 2020, alcançou 6,9% em 2021, e depois estabilizou em 7,2% em 2022, caindo para 5,4% nos meses iniciais de 2023. O frete rodoviário, por sua vez, não registrou aumento, pelo contrário, teve queda: começou com 3,5% em 2019, manteve o valor em 2020, e, posteriormente, caiu para 2,8% em 2021, teve um leve crescimento para 2,9% em 2022 e manteve-se em 2,9% no primeiro tri de 2023.
Um dado que chama atenção é que apesar da pandemia ter iniciado em 2020, os maiores patamares de custos no frete foram em 2021 e 2022. Baltieri explica: “Embora a pandemia tenha afetado profundamente as cadeias de suprimentos e o transporte em 2020, é importante considerar que o setor logístico enfrentou desafios adicionais em 2021, como redução de mão de obra no setor de transporte interno (truck) e terminais portuários trabalhando acima da capacidade. Esses problemas geraram outros novos, como escassez de contêineres, atrasos e congestionamentos”. E acrescentou novas informações: “Já em 2022, ainda se recuperando dos impactos desses eventos, o início da Guerra na Ucrânia impactou fortemente as cadeiras de distribuição e as operações logísticas, provocando atrasos e aumento no preço de diversos commodities, inclusive, a gasolina. Vale destacar que no ano passado, apesar de todos os acontecimentos, as economias globais ensaiavam uma retomada de suas economias, o que impulsionou a demanda por transporte de cargas, contribuindo para o aumento no preço do frete”.
Sobre a diferença no aumento do frete aéreo em relação aos demais modos de transporte, Baltieri comenta que o frete aéreo tende a ser mais sensível a fatores como o preço dos combustíveis, custos de manutenção de aeronaves e a disponibilidade de pilotos. “Além disso, a necessidade de transporte rápido e urgente de mercadorias, principalmente no caso de produtos perecíveis ou de alto valor, pode contribuir para um aumento mais acentuado nos custos do frete aéreo. Por outro lado, o frete marítimo e rodoviário são geralmente mais estáveis devido à sua natureza de longo prazo e à capacidade de transportar grandes volumes de carga”, frisou.
Para o executivo, o ambiente de comércio exterior além de complexo é altamente instável, o que faz com que acontecimentos em determinadas partes do planeta afetem toda a infraestrutura logística. Neste cenário, conclui o executivo, as empresas devem monitorar e entender essas flutuações, para se prepararem adequadamente. “Além disso, diversificar as opções de transporte, investir em tecnologias de rastreamento e planejamento logístico são algumas das medidas que podem ajudar a mitigar os impactos do preço do frete para as companhias”, concluiu.
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