PARCERIA ENTRE NUCLEAR E SOLAR TRARÁ MAIS SEGURANÇA PARA O SISTEMA ELÉTRICO, AVALIAM MEMBROS DO SETOR DE ENERGIA

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

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Reive Barros e Rodrigo Sauaia falaram ao Petronotícias sobre a complementariedade entre usinas solares e nucleares

O Petronotícias abre o noticiário desta sexta-feira (20) trazendo um debate sobre o futuro do setor elétrico brasileiro. Na segunda reportagem da série especial Nuclear & Renováveis, convidamos o diretor de Engenharia da Chesf, Reive Barros, e o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, para discutirem sobre como as duas fontes podem desempenhar um papel complementar na matriz elétrica brasileira. De um lado, Sauaia destaca que as plantas nucleares operam com alto fator de capacidade, favorecendo o planejamento da operação do setor de energia. Ele vê uma possibilidade de parceria entre usinas solares e nucleares, no sentido que esses dois tipos de empreendimento podem trabalhar de mãos dadas, cada um cumprindo seu papel. O presidente da Absolar, no entanto, cita alguns desafios ambientais e de aceitação pública, que podem despontar como obstáculos para a construção de novas plantas nucleares. Enquanto isso, Barros lembra da fartura de fontes no Brasil e que esse mix diversificado deve ser aproveitado em sua plenitude pelo planejamento energético. Especificamente sobre a nuclear, além de não gerar emissões de CO2, o diretor da Chesf aponta outras vantagens intrínsecas da fonte.

A nuclear tem um fator de capacidade elevado, na faixa de 95%. Então, é uma fonte que pode ser instalada próxima do centro de carga. Isso reduz custos de transmissão e dá mais segurança elétrica à região onde a planta está instalada. A nuclear permite desenvolver toda a vantajosidade que o Brasil tem, isto é, o recurso abundante de combustível. Nós temos a tecnologia do processamento do combustível e uma competência já consagrada nas usinas de Angra, com o conhecimento de operação e manutenção dessas instalações com segurança”, afirmou.

angraA questão dos custos de implantação é um ponto sempre levantado quando o tema geração nuclear é posto sobre a mesa. O diretor de engenharia da Chesf sustenta que para aumentar a competitividade da fonte, é preciso trazer escala – ou seja, construir uma série de novas plantas. Barros afirma que para um programa nuclear ser bem-sucedido, é preciso que haja um intervalo de pelo menos dois anos entre o término de uma usina e outra. “A sinalização que o Brasil deu no Plano Nacional de Energia 2050, indicando 10 GW de geração nuclear nos próximos 30 anos, é fundamental. Isso cria um ambiente de atratividade e, consequentemente, traz um aumento de competitividade. Os principais players mundiais têm interesse de investir no Brasil. Essa competição é importante e vai ter um reflexo, com a redução no preço”, previu.

Reive Barros ressalta a importância das fontes renováveis  do ponto de vista de geração de energia, mas lembra que usinas desse tipo apresentam variabilidade ao longo do dia, a depender do clima. Portanto, é preciso ter usinas hidrelétricas ou térmicas na retaguarda do sistema, pois são fontes despacháveis que podem estabilizar o sistema. Paralelamente, no futuro, novas tecnologias permitirão maior flexibilidade à geração nuclear. “As usinas nucleares atuais estão mais vocacionadas para atuarem na geração na base. Mas, como se sabe, estão sendo desenvolvidos os pequenos reatores modulares (SMRs), tecnologia que deve ser usada nos próximos projetos. Os SMRs poderão ser despacháveis, fazendo assim uma complementação com as renováveis”, lembrou.

No Brasil, o tema de SMRs está em suas discussões iniciais. Uma das entidades que têm trazido o assunto à tona é a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN). A principal iniciativa nesse sentido foi o lançamento do Fórum sobre SMRs, em parceria com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A ABDAN também contratou o Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL/UFRJ) para realizar estudos sobre essa tecnologia.

NUCLEAR E SOLAR: DOBRADINHA POSSÍVEL, MAS AINDA COM DESAFIOS

portal solarA crise hídrica vivida pelo Brasil no último ano acendeu o alerta no setor elétrico do país. Para o presidente da Absolar, é preciso reduzir a dependência hídrica do setor, para trazer mais segurança de suprimento no sistema elétrico. Nesse sentido, avalia Sauaia, fontes como a eólica, a biomassa, o biogás e, claro, a solar ajudarão o Brasil a ter um menor risco de falta de suprimento. Sobre a opção nuclear, o dirigente da associação também destacou o fato de a fonte ter um alto fator de capacidade. Ele vê uma porta aberta para que usinas nucleares e solares trabalhem em harmonia.

Nesse sentido, existe sim uma possibilidade de complementariedade e parceria entre as usinas solares fotovoltaicas e as nucleares. As usinas solares têm a característica de serem limpas, renováveis, sustentáveis, além de terem uma rápida implementação e baixo custo operacional. Trata-se de um recurso muito bem disponível e distribuído ao redor do Brasil. As usinas nucleares, por sua vez, têm a característica de produzir uma energia estável e contínua ao longo dos meses do ano. Portanto, as duas podem trabalhar de uma forma complementar”, opinou. Sauaia defende ainda que as usinas termelétricas, como um todo, possam competir entre si, de modo que as plantas mais competitivas se coloquem no mercado com melhores preços para os consumidores.

radiacao-na-medicina-tipos-exames-medicina-nuclearContudo, o presidente da Absolar avalia que existem desafios para a expansão do parque de geração nuclear no país. Além das questões ambientais e de segurança, Sauaia vê dificuldades de aceitação social da fonte no Brasil. “Sabemos que uma parcela importante da sociedade Brasileira tem resistência ao usinas nucleares. Essa situação aconteceu em outros países também, em especial na Europa. Alguns deles chegaram, inclusive, ao extremo de banir o uso de usinas nucleares da sua matriz elétrica. Uma decisão, talvez, um pouco rígida. Mas esses países seguiram esse caminho por pressão popular”, ponderou. Para vencer essa barreira, o presidente da associação acredita que ações educativas podem ajudar a melhorar o entendimento da população sobre as qualidades, os benefícios e mesmo as limitações da tecnologia nuclear.

Por fim, Sauaia  avalia que a fonte nuclear pode ter um papel mais segmentado, não apenas voltado à geração de energia elétrica, mas também em outras aplicações da vida cotidiana. “Seja na saúde, em fármacos ou na alimentação. Existe uma série de outras funções importantes que a tecnologia nuclear como um todo pode desempenhar. Esses atributos muitas vezes são desconhecidos pela sociedade”, concluiu.

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