PESQUISA INDICA QUE EMPRESAS BRASILEIRAS AINDA ESTÃO COM METAS DE EMISSÕES ABAIXO DO NECESSÁRIO PARA FREAR AQUECIMENTO
O nível de ambição das empresas brasileiras para reduzir efetivamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE) ainda está abaixo do necessário para evitar que o planeta Terra esquente mais do que 1,5°C – temperatura limite estabelecida pelo Acordo de Paris para reduzir os impactos das mudanças climáticas. A informação consta em um novo estudo elaborado pela CDP, plataforma global de dados ambientais de empresas, cidades, estados e regiões. Considerando as metas de redução de emissões resultantes diretamente das operações da própria empresa (escopo 1) e as emissões provenientes da energia elétrica adquirida para uso da própria companhia (escopo 2), o cenário atual apontaria para um aquecimento de 2,2°C.
Apenas 68 das 229 empresas de capital aberto avaliadas (30%) possuem metas válidas para reduzir as emissões desses escopos, alinhadas com o nível de descarbonização necessário para ser consistente com os cenários de aquecimento de 1,5°C. Se todas as organizações emissoras de gases de efeito estufa (GEE) tivessem a mesma linha de base e metas das empresas de capital aberto, o aumento médio da temperatura global seria de 2,7%. Quando incluídas as emissões indiretas (escopo 3), o aumento de temperatura seria de 2,7°C, aumento considerável uma vez que essas categorias representam 91% das emissões totais avaliadas. Trata-se de um quadro bastante crítico uma vez que somente 26% (59) das empresas desse escopo contam com metas válidas de redução de emissões.
O comprometimento das empresas em relação às metas de emissões varia significativamente. Enquanto algumas empresas possuem metas ambiciosas e alinhadas às recomendações científicas, a maioria (70%) apresenta metas de escopo 1 e 2 que as colocam em trajetórias alinhadas a um aquecimento global de 3,1°C. Esse nível representa o provável aumento de temperatura caso não ocorra uma mudança significativa no atual modelo de negócios.
“Sabemos que a exposição a riscos climáticos representa impactos financeiros significativos nos negócios, um elemento ao qual investidores e stakeholders em geral estão cada vez mais atentos”, pontua diretora executiva do CDP Latin America, Rebeca Lima. “É interessante notar que, mesmo se tratando de uma amostragem de empresas listadas com padrões qualificados de governança, a projeção do estudo indica um aumento de temperatura acima dos níveis seguros indicados pela ciência. Portanto, é urgente que o setor privado se comprometa com metas mais ambiciosas e maior celeridade nas ações no sentido de promover uma transição para uma economia de baixo carbono”, completa.
A amostragem da pesquisa é composta por 229 empresas brasileiras listadas na bolsa de valores, com o objetivo de verificar se os compromissos assumidos são suficientes para evitar cenários futuros mais graves no que se refere ao aquecimento do planeta e suas consequências, tais quais eventos extremos que vêm sendo registrados com maior frequência. Juntas, essas organizações representam 89% da capitalização total do mercado, incluindo setores como: serviços; infraestrutura; varejo; manufatura; e materiais.
O setor do varejo foi o que apresentou o melhor desempenho para as emissões diretas, com metas alinhadas a um cenário médio de 1,7ºC. Entretanto, quando incluídas as emissões da cadeia de valores, as emissões de escopo 3, essa temperatura sobe para 2,9ºC. O mesmo pode ser visto para o setor de alimentos, bebidas e agricultura e para o de manufatura, que apresentaram trajetórias médias alinhadas a um cenário de até 2ºC, mas, quando somadas às emissões de escopo 3, a temperatura média sobe para a mesma marca de 2,9ºC. (Veja a lista completa na tabela abaixo)
O estudo faz parte de um conjunto de dados denominado Net-Zero Alignment do CDP, cobrindo mais de 100 métricas de avaliação de ambição e performance para mais de 9 mil empresas. A metodologia de classificação de temperatura foi desenvolvida em uma parceria entre o CDP e a WWF e tem como objetivo traduzir as metas de redução de emissões de GEE em uma métrica única e intuitiva: a temperatura. Os resultados obtidos a partir dos dados fornecidos pelas empresas se encaixam em trajetórias de alinhamento a cenários que variam entre 1,5ºC e 3,1ºC.
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