PESQUISADORES BRASILEIROS ESTUDAM NOVA MATÉRIA-PRIMA DERIVADA DA CANA PARA PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEL SUSTENTÁVEL DE AVIAÇÃO
A corrida pela redução de emissões tem impulsionado diversos setores da economia a buscarem inovações e alternativas de combustíveis mais sustentáveis. Nesse sentido, um grupo de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) elaborou um estudo que revela que o combustível de aviação produzido a partir de óleo microbiano tem o potencial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em mais de 50%. Publicado na revista Bioresource Technology, o trabalho destaca que o óleo microbiano derivado da cana-de-açúcar pode se tornar uma opção viável aos combustíveis fósseis atualmente utilizados.
Os pesquisadores analisaram a conversão do óleo microbiano em Combustível Sustentável de Aviação (SAF) por meio do processo de hidroprocessamento de ésteres e ácidos graxos (HEFA). Segundo as estimativas, o Brasil seria capaz de suprir a demanda interna por combustível de aviação utilizando áreas de pastagens degradadas para o cultivo da cana-de-açúcar, sem comprometer a produção agrícola voltada para alimentos ou etanol.
A pesquisadora Tassia Lopes Junqueira (foto principal), que liderou o estudo no LNBR (Laboratório Nacional de Biorrenováveis) do CNPEM, explica que, embora o SAF produzido a partir de óleo microbiano ainda seja mais caro que o querosene convencional, ele atende à necessidade urgente do setor de aviação de cumprir metas de sustentabilidade. Essas metas envolvem reduções significativas nas emissões de carbono, com prazos estabelecidos entre 2027 e 2050.
Tassia destaca também que avanços em biotecnologia, especialmente no aprimoramento do processo de fermentação, serão essenciais para tornar o custo do produto mais competitivo. “Como temos uma grande biodiversidade no país, a prospecção de micro-organismos e enzimas pode impulsionar avanços significativos para o desenvolvimento da tecnologia”, afirmou a pesquisadora.
O estudo também aponta o impacto de melhorias no processo de produção. “Se for possível diminuir o tempo de fermentação ou aumentar a quantidade de óleo acumulado nas células, por exemplo, vai acontecer uma redução no volume necessário de reatores para o processo, o que tem grande impacto nos custos de fabricação”, complementa a pesquisadora Isabelle Sampaio.
A tecnologia tem o potencial de substituir, gradativamente, matérias-primas obtidas de oleaginosas tradicionais, como soja e palma, que estão frequentemente ligadas ao desmatamento e à perda de biodiversidade. O óleo microbiano produzido a partir da cana-de-açúcar não apenas reduziria esses impactos relacionados ao uso da terra, mas também apresentaria uma produtividade por área cerca de quatro vezes maior do que a do óleo de soja.
Já a pesquisadora Andressa Neves Marchesan destaca que o processamento do óleo microbiano poderia se beneficiar da infraestrutura já instalada no país. “O processo de conversão do óleo em combustível pode utilizar os mesmos catalisadores das refinarias de petróleo. A mesma tecnologia ainda pode ser utilizada para a produção de diesel verde, ampliando os impactos econômicos da tecnologia e sua relevância para a redução nas emissões de carbono no setor de transporte”, declarou.
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