PESQUISADORES DO INEEP ANALISAM OS DESAFIOS QUE A PETROBRÁS ENFRENTARÁ NO FUTURO, NA VÉSPERA DOS 70 ANOS DA EMPRESA
A Petrobrás, que completará amanhã (3) 70 anos de atividades, tem pela frente um cenário de desafios ditados não apenas pelas imposições da geopolítica mundial e das mudanças climáticas, mas também pelas questões voltadas para o equilíbrio entre preços internos e externos, os limites do seu parque de refino, a legislação ambiental para a exploração de novas fronteiras, a transição energética e a adequação da atual política de governança aos interesses do país. Estes temas em destaque foram explorados por pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) ao falarem sobre o que esperam da companhia no futuro. Amanhã (3), o Petronotícias trará uma entrevista exclusiva com o Presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, que em pouco mais de oito meses de atuação, sacudiu a companhia, com promessas de novos e grandes investimentos em todos os setores da empresa, dando ênfase ao conteúdo local, valorizando os funcionários e animando as empresas brasileiras que se preparam para um novo boom na indústria brasileira nos setores do petróleo, gás, naval e geração de energia.
Na análise feita pelo INEEP, o pesquisador na área de preços, Adhemar Mineiro (foto à direita), fala sobre os Limites a serem superados para garantir preços e desenvolvimento:
“A garantia do suprimento regular de derivados de petróleo, nesse momento, em todo território nacional, a preços compatíveis com o desenvolvimento do país e de cada região e estado, tem se mostrado complexa. As limitações na capacidade de produção de derivados, em especial o diesel, aumentam a dependência de importações e das flutuações de preços no mercado mundial. A própria transição – anunciada pela nova direção da Petrobrás esse ano – da política de preço de paridade internacional (PPI), adotada desde 2016, para uma política de preços mais nacional, flexível e vinculada a uma estratégia de concorrência da empresa no mercado nacional, tem se mostrado difícil face às restrições de abastecimento de alguns derivados, em um quadro em que refinarias foram privatizadas e a importação e exportação de derivados desregulamentada.
Uma política de preços que possa garantir aqueles objetivos apontados em maio deste ano, quando a Petrobrás anunciou a mudança, fica muito restrita não apenas pela limitação da capacidade de produção da Petrobras, mas também pela saída da empresa da distribuição de derivados, pela venda de unidades de refino que são importantes para o abastecimento regional e pela desregulamentação levada adiante no setor nos últimos anos. As limitações apontadas deverão ser levadas em consideração, e políticas específicas terão que ser levadas adiante para a modificação da situação hoje existente.”
André Tokarski (foto à esquerda), pesquisador na área de regulação e governança, fala que as políticas de governança da Petrobrás devem estar alinhadas ao interesse público que justificou a criação da empresa.
“As empresas estatais são instrumentos da administração pública para a viabilização dos objetivos constitucionais de direção e planejamento do desenvolvimento nacional. Para retomar os trilhos do interesse público na gestão da empresa, devem ser revistas as exigências e proibições impostas pela Lei das Estatais para a nomeação de diretores e integrantes do Conselho de Administração.
Esses critérios são uma espécie de controle prévio que visa restringir indevidamente as possibilidades de escolha por parte da autoridade pública que foi eleita para tal função. Em última instância, é uma ingerência às atribuições do acionista controlador e em seu poder de dirigir as atividades sociais da empresa”, declarou.
A área de produção traz desafios imensos para garantir produção de petróleo e avanço na transição energética. O Pesquisador deste segmento, Francismar Ferreira (foto à direita), aborda essa questão:
“Mesmo em um contexto em que se debate a transição energética, não se pode negar que o petróleo e o gás natural permanecerão indispensáveis para assegurar a oferta de energia nos próximos anos. Assim, se faz necessária a continuidade de atividades exploratórias para garantir a manutenção da produção. Compete à Petrobrás priorizar e avançar no desenvolvimento de novas tecnologias em atividades exploratórias e produtivas focadas na baixa emissão de carbono que serão essenciais para avançar sobre novas fronteiras petrolíferas, em especial nas bacias da costa atlântica e também na Margem Equatorial.
A Petrobrás, em razão de ser dirigida pelo Estado, possui compromissos sociais, econômicos e ambientais com os brasileiros, tem condição de dialogar com órgãos ambientais e de controle, comunidade acadêmica e população em geral, de modo a aprofundar conhecimentos sobre os ambientes e os territórios e desenvolver medidas e tecnologias para o desenvolvimento das atividades de exploração e produção de petróleo e gás e, ao mesmo tempo a preservação das condições ambientais e territoriais.
Por outro lado, cabe também à Petrobrás, juntamente com o Governo Federal, fomentar medidas de incentivo ao conteúdo local para o desenvolvimento das atividades de exploração e produção. São etapas que demandam um grande volume de serviços e equipamentos, logo, mobilizam uma extensa cadeia produtiva, gerando emprego e renda no Brasil.”
Outro Tema abordado pelos especialistas do INEEP também é polêmico: o refino do petróleo e as necessidades urgentes, como diz Luiz Fernando Ferreira (foto à direita):
“O caminho a ser seguido pela Petrobrás na área de refino deve levar em consideração as nossas necessidades e nossos limites locais. Nesse sentido, espera-se que as refinarias iniciem, já, um caminho de transformação para o futuro. No entanto, uma análise do planejamento estratégico da companhia não deixa isso claro, e algo propositivo parece adequado para o momento. Como passo inicial na transformação do refino, o coprocessamento de óleo vegetal nas refinarias com a adaptação plena das unidades de hidrorrefino para o processamento total desse insumo é algo urgente. Esse movimento encontraria alguma harmonização com o projeto de Lei “Combustíveis do Futuro”, mas não só.
No médio prazo, a utilização de biomassa e a integração da estrutura de refino com uma política de resíduos sólidos para o aumento da disponibilidade de gás natural por meio de tratamentos nas refinarias de petróleo contribuiria para a diminuição da emissão de CO2 equivalente dos resíduos sólidos urbanos. Ainda no médio prazo, durante o processo de transição energética, as refinarias deveriam se transformar em grandes centros de eficiência energética. A produção de hidrogênio azul e a utilização de ciclos combinados de turbinas a gás com captura de carbono são uma opção importante para o aumento da disponibilidade de energia elétrica.”
A Petrobrás volta a investir na descarbonização e na energia limpa. Para Maria Clara Arouca (foto à esquerda), pesquisadora na área de transição energética e sustentabilidade, isso é fundamental:
“Diante da relevância do setor energético no combate às mudanças climáticas e do potencial que o Brasil apresenta no segmento das energias renováveis, é fundamental que a Petrobrás retome e intensifique os seus investimentos não apenas na descarbonização das suas operações, mas também na geração de energia limpa com o intuito de se inserir de forma efetiva na agenda da transição energética mundial. Para continuar desempenhando papel central no setor, é a Petrobrás precisa adotar uma abordagem contrária àquela observada nos últimos anos. É essencial seguir a tendência das outras grandes empresas do mesmo ramo, ou seja, diversificar o seu portfólio a fim de se tornar uma empresa integrada de energia, ampliando sua atuação nos segmentos de energia eólica, especialmente a offshore, energia solar e também no setor de biocombustíveis.
Além de manter seu protagonismo na segurança energética nacional, a Petrobrás possui grande potencial de atuar de forma estratégica no futuro cenário energético global, contribuindo significativamente para a realização de uma transição energética justa e para o desenvolvimento de inovações em soluções de baixo carbono, alinhada com os compromissos climáticos internacionais e às necessidades do desenvolvimento nacional.”
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