PETROBRÁS CANCELA OUTRA LICITAÇÃO SEM EXPLICAÇÕES CAUSANDO GRANDES PREJUÍZOS ÀS EMPRESAS QUE PARTICIPAVAM

Se alguém comparar a atual direção da Petrobrás com a Hidra de Lerna, uma serpente monstruosa de sete cabeças da Mitologia Grega, não vai estar muito distante de sua realidade administrativa. Uma companhia que dá sinais confusos o tempo todo para o mercado. Exige que seus parceiros e fornecedores tenham compliance, mas é incapaz de cumprir seus compromissos. Em alguns casos, mostra um profundo desrespeito por essas empresas, que são suas fornecedoras, causando prejuízos imensos à elas. Um exemplo mais recente foi o cancelamento da licitação da UTGCA de Caraguatatuba. Um trabalho gestado por empresas de vários países durante dez meses, cancelado por uma nota lacônica. Tão arrogante quanto a atitude da companhia. Sequer com uma explicação convincente, verdadeira, um desculpe lá, pelo menos. O resultado, todos já conhecem. Os investimentos feitos na elaboração de uma sofisticada proposta técnica, se transformaram em prejuízos nas empresas que já estavam abaladas em seus caixas desde a paralisação do mercado do petróleo no Brasil, agravada pela Pandemia. O primeiro caso, no início do ano, foi a licitação do  gasoduto do Parque das Baleias, no Espírito Santo. Depois de abrir as propostas e eleger um contestado vencedor, a Petrobrás virou as costas e simplesmente cancelou tudo. Os investimentos que as mais de 30 empresas que participaram da licitação fizeram, foram jogados no lixo. Dinheiro pelo ralo. Constrangimento pela incompetência? Nenhum.

Agora, a atitude se repete, da mesma maneira fria. E com mais prejuízos para as quase  30 empresas que acreditaram que podiam concorrer para fornecer 92 Estacas Torpedo de 120 toneladas. Lançada em agosto para ser entregue em setembro, a entrega dos envelopes foi transferida para outubro e mais uma vez adiada para simplesmente ser cancelada, no dia 18 deste mês. A Petrobrás cancelou e pronto e acabou-se. Passe a mão no toco e vai reclamar com o bispo. Novamente deu de ombros e fingiu que não viu. Aqui para nós, não é preciso ter no currículo cursos na Universidade de Chicago para se dirigir uma empresa desta maneira.

Esta é a lista de empresas que participaram da licitação das Estacas Torpedo e vão arcar com os prejuízos, mais uma provocados pelo mau planejamento, inconcebível para uma empresa com a tradição da Petrobrás:  KETTENFABRIK MESTER GMBH;  DGVITEC INDÚSTRIA E TECNOLOGIA DE EQUIPAMENTOS E CALDEIRARIA;  INDÚSTRIAS FAP DO BRASIL; COSTANOX ACOS INOXIDAVEIS EIRELI;  DAO TRADE COMERCIAL, IMPORTACAO E EXPORTACAO;  CARAVAN EXPORTACAO & IMPORTACAO DO BRASIL;  PETROCARGA TRANSPORTES;   NUCLEBRAS EQUIPAMENTOS PESADOS- NUCLEP;  KREITON CALDEIRARIA E USINAGEM;  WEIHAI SHIDAO HEAVY INDUSTRY;  CONFAB INDUSTRIAL SOCIEDADE ANONIMA;  DELP ENGENHARIA MECANICA; IMETAME METALMECANICA;  JMB EQUIPAMENTOS;   PYTHON ENGENHARIA E EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS;  ASVOTEC TERMOINDUSTRIAL;  SUPERPESA MARITIMA; ASVOTEC TERMOINDUSTRIAL;   JARAGUA ENGENHARIA E INSTALACOES INDUSTRIAIS;  SUBSEA7 DO BRASIL SERVICOS.

Para lembrar, no dia 4 de dezembro, há poucos dias da entrega das propostas que demoraram dez meses para serem elaboradas, a Petrobrás cancelou a proposta para o desenvolvimento do projeto de adequação de infraestrutura da Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA), em Caraguatatuba (foto à direita), no litoral norte de São Paulo. O trabalho de centenas de profissionais, engenheiros, técnicos, das diversas empresas envolvidas no estudo, elaboração das propostas, foi jogado no lixo. Segundo o comunicado feito ao mercado, “a decisão foi tomada devido à perda de atratividade econômica do projeto, avaliada à luz das premissas do Plano Estratégico 2021-2025.” Além disso, a  estatal  decidiu cancelar as licitações associadas que atenderiam ao projeto. A Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato tem capacidade para processar diariamente até 20 milhões de m³ de gás natural, oriundo de diversas plataformas, interligadas à Plataforma de Mexilhão (PMXL-1), instalada a cerca de 140 quilômetros da costa. De lá, o produto chega à UTGCA por meio de um gasoduto. O gás processado na UTGCA dá origem a três produtos: o gás natural, que tem uso industrial, residencial e veicular.  O GLP (gás liquefeito de petróleo ou gás de cozinha); e o C5+ (condensado), parte líquida do gás. Depois do processamento na UTGCA, outro gasoduto, o Gastau, leva o gás natural até a cidade de Taubaté (SP), onde é lançado na malha de gasodutos da Petrobrás, seguindo para distribuição. O C5+ segue em carretas até a Refinaria Henrique Lage (Revap) em São José dos Campos (SP). Já o GLP, desde dezembro de 2015, passou a ser enviado para São José dos Campos por meio do oleoduto Caraguatatuba-Vale do Paraíba (Ocvap I). E o  Ocvap II  exporta o  C5+ através de oleoduto.

Enquanto a isso, a Hidra de Lerna continua a dar seus sinais confusos ao mercado. Agora, a empresa pede à Odebrecht R$ 800 milhões a título de indenização pelas delações feitas à Lava Jato. A empresa lista 23 nomes envolvidos, entre eles, João Santana e Mônica Moura, João Vaccari, ex-Tesoureiro do PT, que nem delator foi.  A empresa não lista nenhum ex-diretor da Companhia, que viabilizava todos os desvios. Nem o seu próprio Conselho de Administração à época, presidido por Dilma Rousseff, com uma participação decisiva na compra e venda da Refinaria de Pasadena. Nesse processo, sequer cita o famoso Gabinete de Investigação, ligado diretamente ao Presidente da empresa, que durante anos não percebeu que a empresa estava sendo tungada por sua diretoria, gerentes executivos e fiscais. Não percebeu ou viu, mas não quis falar. Uma das cabeças da Hidra, a que cuida dos prejuízos ao Fundo Petros, está escondida. Bem escondida e não quer se apresentar e muito menos aparecer.