PETROBRÁS COMPLETA 68 ANOS NESTE DOMINGO EM MEIO À VENDA DE ATIVOS E ALTA NOS COMBUSTÍVEIS

O domingo é especial para os mais de 40 mil brasileiros que trabalham atualmente na Petrobrás. Hoje (3), a empresa completa 68 anos de vida, carregando nas costas um legado de sucesso na exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas, mas também com um horizonte de desafios importantes à frente. Em meio à transição energética, a Petrobrás concentra forças na exploração e produção do pré-sal e ainda se mostra tímida em relação aos investimentos em outras fontes que despontam na indústria, como as renováveis. Ao mesmo tempo, a empresa fez e ainda faz uma série de desinvestimentos importantes em setores considerados estratégicos, como refino e gás natural. As vendas de refinarias, inclusive, acontecem em um momento emblemático, já que a Petrobrás está no centro das discussões sobre a escalada no preço dos combustíveis que o Brasil tem experimentado ao longo dos últimos anos, especialmente em 2021.

A Petrobrás se aproxima do seu septuagenário vendo sua curva de produção experimentar uma ascensão importante na última década. A produção total petroleira saiu do patamar de 2,5 milhões de barris por dia em 2010 e alcançou os 3 milhões de barris por dia no final de 2019, antes do início da pandemia. Após a covid-19, o volume total variou entre 2,7 e 2,9 milhões de barris por dia. Enquanto isso, as suas reservas provadas seguem em queda, deixando a casa dos 13 bilhões de barris de óleo equivalente em 2013 para chegar aos 8,8 bilhões de barris de óleo equivalente no final de 2020.

No pré-sal, o sucesso é inquestionável. A camada responde atualmente por 67% da produção total da petroleira. Essa fatia pode subir para até 80% em 2025, de acordo com o último plano de negócios da companhia. Fora isso, as tecnologias usadas no pré-sal são reconhecidas internacionalmente pelo grau de inventividade. Não à toa, a Petrobrás foi homenageada repetidas vezes com a principal honraria da indústria offshore, o Distinguished Achievement Award for Companies, por causa das inovações aplicadas na camada. Em 2015, o prêmio veio pelo conjunto de dez tecnologias especialmente criadas para produção do pré-sal. Em 2019, a Petrobrás foi homenageada pelas inovações implantadas durante o Teste de Longa Duração (TLD) de Libra. E, neste ano, o prêmio foi concedido por conta das inovações desenvolvidas para viabilizar a produção de Búzios.

Mas nem todos estão batendo palmas e soprando velinhas neste aniversário da Petrobrás. Uma boa parte dos funcionários da empresa está insatisfeita com as escolhas das últimas gestões. A maior discordância, sem dúvida, paira sobre o plano de desinvestimentos da petroleira. Um levantamento do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) indica que a companhia já desinvestiu cerca de US$ 36 bilhões desde 2016. A estatal, como se sabe, tem vendido seus campos de terra e águas rasas, refinarias e ativos relacionados aos segmentos de gás, renováveis, fertilizantes, petroquímica e termelétricas. Por isso, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) diz que não têm motivos para comemorar os 68 anos da Petrobrás porque a empresa está tornando-se exclusivamente produtora e exportadora de petróleo bruto, saindo do refino e demais atividades.

“Com os desinvestimentos, a Petrobrás vai deixando de ser uma empresa integrada e perde capacidade econômico-financeira de resistir a sobressaltos do volátil mercado global de petróleo e gás natural”, avaliou o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar. “Assim, vemos a Petrobrás atingir os 68 anos desmontada, investindo menos, deixando de lado as fontes renováveis e apostando numa política de reajustes que prejudica os brasileiros e faz com que alimentos e outros produtos subam de preço, contribuindo para o empobrecimento da população brasileira, mas para os ganhos de seus acionistas, entre os quais boa parcela de estrangeiros”, completou.

O aniversário também acontece em um momento em que os preços dos combustíveis no país está em alta. Embora haja uma discussão em curso sobre a tributação de ICMS pelos estados, a política de preços praticada pela companhia desde 2018 também tem sua parcela de responsabilidade, segundo afirmam membros do setor. O presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, esteve recentemente em audiência na Câmara dos Deputados e teve de ouvir cobranças de alguns parlamentares para que a companhia reveja sua política de preços. O executivo, porém, garantiu recentemente que a metodologia para fixar os preços dos derivados não será alterada.

Os dados mais recentes da Agência Nacional do Petróleo (ANP) indicam que o gás de cozinha (GLP) fechou a última semana com o preço médio de R$ 98,47 no Brasil. Esse valor representa uma sonora alta de 28% quando comparado com o preço médio cobrado pelo botijão em janeiro (R$ 76,86). Na gasolina, a situação é igualmente dramática. O Brasil começou 2021 com o litro do combustível custando, em média, R$ 4,62. Agora, brasileiro precisa desembolsar R$ 6,09 por litro, em média. A alta é de quase 32%. No diesel, o crescimento no preço ao longo do ano foi de 30% (saindo de R$ 3,60 para R$ 4,80).