PETROBRÁS ENFRENTA RESISTÊNCIA NA VENDA DE CAMPOS DO PRÉ-SAL PARA A TOTAL

Pedro Parente e Patrick PouyanneA Petrobrás está prestes a entregar áreas próximas ao que internamente na empresa chamam de “joia da coroa” para a gigante francesa Total. As duas empresas negociam a venda de participações na zona mais cobiçada do pré-sal, onde ficam os campos gigantes de Lula e Sapinhoá, de larga produção de petróleo. A Justificativa da estatal brasileira é fazer caixa e reduzir o nível de endividamento da companhia. Tudo deverá estar sacramentado no próximo mês. A venda  de grandes reservas da companhia tem recebido forte pressão internamente pelos funcionários de carreira influentes que não aderiram ao plano de demissão e nem foram demitidos, que defendem que está havendo uma espécie de “privatização branca” da estatal. O objetivo é a Petrobrás obter US$ 15,1 bilhões com a venda de ativos.

Podem entrar no pacote dos franceses os campos de Iara, Berbigão, Sururu e Oeste de Atapu (situados no bloco BMS-11, onde está Lula) e também o campo Lapa (no BMS-9, vizinho a Sapinhoá). A expectativa é que haja disputa entre a Total e a Shell pelos campos que estão no bloco BMS-11. A Shell e a portuguesa Galp já são sócias da Petrobrás nesse bloco e teriam direito de preferência para cobrir a proposta feita pela Total.

A Associação de Engenheiros da Petrobrás, instituição de concentra uma fortíssima resistência aos planos de desinvestimento que está sendo colocado em prática desde a gestão Bendine e que foi acelerada na gestão Parente, tem feito críticas contundentes a  essas iniciativas da atual diretoria. Principalmente em relação ao desejo permanente de quebrar as regras de conteúdo local, levando para o exterior as poucas obras que a estatal se vê obrigada a fazer para manter o nível de produção de petróleo e gás.

O presidente da associação de engenheiros, Felipe Coutinho, considera um equívoco a venda de ativos importantes da empresa, principalmente os campos de produção de petróleo. Para ele, é quase um dogma da nova diretoria o esforço que está sendo feito nas ações de venda de importantes ativos da companhia:

“Nós temos um estudo que demonstra claramente que a Petrobrás não precisa vender essas empresas e os campos de petróleo para reduzir sua dívida. A companhia não está quebrada e é bastante rentável. A pressa em antecipar para 2018 a redução da dívida não é coerente. Constantemente fazemos gestões à diretoria da Petrobrás, que não se abre claramente para discutir e aproveitar a nossa experiência para ouvir o que temos a propor, a dizer. Trata-se de um erro vender ativos tão importantes.”

A negociação em curso faz parte de um acordo que foi anunciado pelas duas empresas durante a  realização da Rio Oil&Gas 2016, em outubro, no Riocentro. Os  presidentes das duas companhias, Pedro Parente e Patrick Pouyanné, estiveram reunidos para acertar os últimos detalhes. No acordo, deverão ser incluídas ainda as vendas de duas usinas térmicas e o aluguel de um terminal de gaseificação na Bahia. Até agora, a Petrobrás conseguiu US$ 10,7 bilhões ao se desfazer de empresas na Argentina e no Chile, ativos de distribuição e transporte de gás, a distribuidora Liquigás e o campo de Carcará. Além disso, a estatal vem negociando com a australiana Karoon Gas a venda dos campos de Bauna, que produz 45 mil barris por dia, e de Tartaruga Verde, que também é outra grande promessa do portfólio da companhia. A negociação, no entanto, foi suspensa pela justiça esta semana, após o Sindicato dos Petroleiros de Sergipe e alagoas entrar com uma liminar.

Já os campos em negociação com a Total ficam nos blocos BMS-9 e BMS-11, na Bacia de Santos. Lula e Sapinhoá não vão entrar diretamente no negócio, mas a infraestrutura montada nesses campos para escoamento de gás natural pode ser compartilhada, reduzindo os custos de novos investimentos. Lula é o campo com maior produção do país, com 639,7 mil barris por dia, seguido por Sapinhoá, com 264 mil barris por dia. 

Procurada pelo Petronotícias, a Petrobrás respondeu de forma enigmática. Não disse nem que sim, nem que não. Mas por não ser taxativa, dá margem a se acreditar que realmente em dezembro a notícia da venda será anunciada:

“A Petrobrás só comunica sobre venda de ativos via Fato Relevante divulgado ao mercado, e não emitiu nenhum comunicado sobre esse assunto.”

A Total também foi procurada via assessoria de imprensa, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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Luciano Seixas Chagas
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Senhores, Concordo inteiramente com as posições da AEPET, que junto com a Febrageo (geólogos) e Federações de Engenheiros chamam tais vendas de crime de Lesa-Pátria e acionam a Justiça com tal desmonte insano da grande empresa brasileira. Por exemplo, ao olharmos os novos ativos a serem vendidos para a Total, e nos concentrarmos na acumulação de Iara, vejamos o descalabro: Apesar de ser uma acumulação do Pré-Sal, a descoberta em Iara é completamente diferente da de Lula (ex Tupi). Nela não existem os carbonatos microbiais ou seja, os situados logo abaixo do sal. Aí estes foram removidos, por um processo… Read more »