PREÇOS ELEVADOS EM OBRAS TEM UMA EXPLICAÇÃO: PETROBRÁS FAZ EXIGÊNCIAS A EMPRESAS BRASILEIRAS QUE NÃO FAZ ÀS ESTRANGEIRAS
A Petrobrás continua insensível à crise que o setor está passando com a quebra de muitas empresas e desemprego em massa provocado por ela mesma. Apesar dos inúmeros apelos que vem recebendo para que mude a sua escolha, a estatal bateu pé e sua diretoria de engenharia vai mesmo entregar a construção dos 24 módulos que estavam sob a responsabilidade da IESA em Charqueadas para empresas estrangeiras. Não se sabe se todos os módulos serão entregues para uma mesma empresa, mas se tem a certeza de que os milhares de empregos que serão criados neste empreendimento vão beneficiar operários asiáticos. Embora não divulgada a lista de empresas convidadas oficialmente, sabe-se que as favoritas são a Exterran, cujos projetos são executados em Cingapura, além de Wuchuan, Cosco Dalian e Cosco Quidon, da China, país onde o diretor de engenharia José Figueiredo fez uma visita de cortesia no ano passado para conhecer empresas locais. O anúncio do vencedor ou vencedores deverá ser feito no dia 3 de fevereiro. Até lá, a concorrência “pública” será mantida em segredo.
A estatal alega eficiência e preços baixos que os chineses cobram para fazer os mesmos módulos. Mas um mergulho para se conhecer as exigências que a Petrobrás faz às empresas brasileiras e não faz às estrangeiras, entre outras coisas, revela porque os preços lá fora são mais baratos do que aqui dentro.
O Petronotícias teve acesso a um calhamaço de 35 páginas com a lista de exigências de QSMSRS feitas às empresas que faz módulos no Brasil. O desperdício é estarrecedor. Tudo contribui para duas coisas: aumentar os preços e proporcionar multas ou corrupção. Uma coisa que o brasileiro conhece bem: vender dificuldade para conseguir facilidades.
O nível de exigência que a Petrobrás faz para as empresas brasileiras sempre foi motivo de discussões no setor de engenharia, principalmente em relação aos quesitos de Qualidade, Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Responsabilidade Social, o QSMSRS. Tantos são os detalhes e as requisições, que as empresas foram obrigadas ao longo do tempo a criarem áreas somente para o atendimento de todos os itens, que incluem algumas coisas importantes, de fato, mas muitas outras que servem apenas para aumentar a burocracia, encarecer os projetos e deixá-los ainda mais lentos.
Boa parte dessas exigências extravagantes acaba acomodando funcionários das empreiteiras nos canteiros de obras, demandando quase que uma obra extra somente para deixá-los o mais à vontade possível. É a imagem que a estatal tenta passar de ultraexigente com a segurança, mas, quando contrata empresas fora do País ou até quando contrata empresas brasileiras para que façam serviços fora, o tratamento é totalmente diferente. Agora, que a empresa decidiu convidar apenas companhias estrangeiras para a construção dos módulos que estavam sendo feitos pela IESA, o mercado questiona se a Petrobrás vai se portar da mesma maneira, relaxando as demandas e as exigências para as concorrentes internacionais. Uma pergunta feita à estatal, mas não respondida.
No documento que tivemos acesso, algumas requisições feitas pela estatal para a construção de módulos vão desde acomodações para 50 pessoas apenas para funcionários da estatal, com internet ininterrupta, vários aparelhos de televisão HD, telefones à disposição, secretárias bilíngues, até máquina de café industrial para a cozinha, freezer de 340 litros, mesas, cadeiras, áreas com especificações exatas para colocação delas, tipos de encosto, salas para supervisores, salas para coordenadores, salas de TI e telecomunicações – com impressora laser, plotadora, scanner, máquina de xérox, gravador de Blue-ray, latas de lixo com pedais (uma para papel e outra para plástico) –, sala de reunião para os 50 funcionários, dentre outras coisas.
Para os funcionários das empresas contratadas, a lista é ainda pior. Desde a contratação do plano de saúde e dentário para toda família; programas de prevenção de riscos; implementação de planos de gestão de algumas normas; identificar eventuais impactos às comunidades; treinamentos de várias naturezas; liberar o funcionário do trabalho para cursos realizados pela Petrobrás com o aproveitamento mínimo de 70% na avaliação; fornecer equipamentos de EPI e uniformes suficientes para que não haja utilização de uniforme rasgado ou sujo; não é permitido o uso de andaimes; é preciso instalar elevadores para trabalhos em altura; intercomunicadores portáteis com certificados do Inmetro; ônibus ou micro-ônibus para transporte do funcionário da residência para o trabalho ou vice-versa. Os veículos precisam ter no máximo 4 anos de uso; Programa de coleta seletiva de lixo; equipes de emergência nas frentes de trabalho, profissionais de saúde precisam ter treinamentos específicos. Essas exigências respondem apenas por cerca de 20% do que é pedido pela estatal. Há uma lista ainda maior, principalmente para gerar papelada com números e levantamentos.
Pode ser que alguém tente argumentar que são os padrões do novo século, com mais preocupação ambiental e tudo o mais, mas um caso em contratos da própria Petrobrás revela uma situação quase inverossímil. Uma empresa brasileira que tem dois contratos diferentes para a construção de módulos para a estatal, um feito no próprio País e outro feito no exterior, reflete a disparidade de postura da Petrobrás. Apesar de fazer uma quantidade de módulos parecida aqui em relação ao que está montando fora, a empresa precisou construir um prédio inteiro no canteiro brasileiro, apenas para acomodar os fiscais da estatal, com mais de 100 funcionários dela presentes no local, com a exigência de computadores, iPads e celulares para todos. Enquanto isso, no canteiro desenvolvido em outro país, apenas dois empregados da Petrobrás atuaram, desempenhando exatamente o mesmo papel de fiscalização.
Se essas exigências são tão importantes para a companhia, por que tamanha diferença de cobrança? Neste caso específico, trata-se da mesma empresa contratada. O que muda?
Algumas das exigências desconsideram a própria realidade de serviços brasileiros, que nem sempre poderão ser atendidos diretamente pela própria empreiteira. Um exemplo é a exigência de que o reparo de eventuais problemas em alguma das acomodações ou em algum dos serviços utilizados nelas seja feito em no máximo quatro horas para equipamentos críticos e oito horas para equipamentos não-críticos. Se, por exemplo, cair a conexão da internet, serviço que independe diretamente da empreiteira, e não voltar no período necessário, a empresa pode ser multada.
Um caso que ilustra o cúmulo da insensatez a que a estatal pode chegar quando decide se portar dessa maneira é a necessidade, por exemplo, de ter um fiscal para medir a temperatura do arroz e do feijão quando eles saem da cozinha para serem servidos aos trabalhadores. Acredite. É isso mesmo que você acabou de ler. Se a comida não estiver na temperatura estipulada pela Petrobrás, a empresa contratada para fazer a obra pode ser multada. Parece piada, mas é uma triste verdade.
Enquanto isso, as empresas estrangeiras são tratadas por outro padrão de comportamento. As obras fora do País serão fiscalizadas, mas em função de seu andamento, seus custos e sua agilidade. Os fatores fundamentais. Não haverá fiscais de sobra, andando pelos canteiros muitas vezes sem terem propósito específico. O resultado, naturalmente, é menos atrito e menos empecilhos ao avanço natural dos projetos. No Brasil, dependendo da região, raios quando estão a 200 km das obras, param as operações. Na China, mesmo na Neve, o funcionário segue o trabalho. No máximo joga sal na neve e as operações continuam.
Por que a Petrobrás faz tantas exigências absurdas aqui no Brasil e não faz quando contrata serviços no exterior ? Esta talvez seja a chave para se chegar a preços melhores e com serviços mais eficientes. Uma resposta que a diretoria de engenharia não consegue dar. Desde sexta-feira (23) procuramos ter algumas explicações da empresa estatal. Mas depois de três tentativas, apesar das promessas verbais, não recebemos qualquer resposta.
Prezados; Tudo isso, além de verdadeiro, é a pura demonstração da irresponsabilidade com o dinheiro da Petrobras, e isso é só pelo cunho administrativo e de gestão. Quem conhece a Petrobras dos belos idos de suas conquistas e realizações que hoje suportam a sua produção e comercialização, os quais foram construídos pelos profissionais da época, sabe que a empresa foi invadida por administradores com “Modismos” que sustentaram várias outras empresas sem fundamento algum (mamatas) e com isso deturparam a verdadeira missão da Petrobras, que é: Produzir, Refinar e Distribuir. Aí vieram os camaradas do 5S, do 5W e 1H; do… Read more »
Isso tem um nome: SÍNDROME DO CACHORRO VIRA-LATA
Parabéns a Petronotícias por colocar “o dedo na ferida”. E essa é apenas uma das feridas. São muitas. As questões técnicas, projetos básicos de péssima qualidade também levam a formação de preços equivocadas – com forte inclinação para corrupção. Por utro lado, quando finalmente os técnicos envolvidos da Petrobras “descobrem” o que querem, essas modificações tem custos e as empreiteiras tem que ser remuneradas por eles. Não tem “brinde”, não tem nada “grátis”. Temoss que continuar fazendo barulho em prol dos profissionais de engenharia do Brasil – sérios e competentes na sua grande maioria!
Artur, você tem toda razão, a burocracia que a Petrobras coloca para empresas fornecedoras brasileiras é um absurdo, fora da realidade de outras obras no Mundo e do custo Brasil, você fala que a Petrobras aos poucos esta colocando mão na ferida, vamos torcer rezar para que o corpo todo não esteja coberto de feridas como o corpo de Jó, caso assim for, somente Deus para dar o Jeito! mas lhe informo que essa visão engessada que a Petrobras tem, também tem outras grandes empresas brasileiras estatais e privadas VALE, VALEC, ALL, VLI etc.. algumas delas tem mais de 200… Read more »
Sensacional! Bem redigido, muito preciso. Este texto merece iniciar um pedido de CPMI. Algum politico poderia incorporar o assunto e abrir a análise mais ampla. Isto afeta o custo Brasil. Temos também de considerar que antes de iniciar as operaçoes de contratos na Petrobras, as estruturas tem de ser montadas pelas contratadas e permanecer mobilizadas até o inicio dos trabalhos, sem poder cobrar disponibilidade.
Parabens pelo acerto. Sds. Erani.
Prezados,
saúdo a Petronotícias pela matéria! É difícil ver a imprensa levantar matérias como a publicada.
O comportamento às vezes arrogante que alguns profissionais têm com empresas brasileiras geralmente não se mantém com empresas estrangeiras.
Temos competência e qualidade para desenvolvermos nossa indústria. Não faz sentido a política de dois pesos e duas medidas muitas vezes praticadas pela Petrobras.
Parabéns Petronotícias!
Muito bem feito este pequeno resumo da enorme burocracia que as empresas brasileiras estao submetidas nas contratacoes da Petrobras. Um absurdo! Este tem que ser um tema a ser discutido pela industria de bens e servicos do setor de P&G no Brasil para sua sobrevivencia.
Parabéns, O que lemos agora é só a ponta do iceberg, fabricamos equipamentos no Brasil com mais de 30 paralisações (programadas) para aguardar a disponibilidade dos inspetores da Petrobras em liberar etapa por etapa a realização dos serviços, inclusive na inspeção de toda MP aplicada(confiabilidade ZERO!), muitas vezes aguardando mais de 5 dias pela presença do inspetor, isto resulta em mais de 100 dias aguardando a inspeção, resultado: atraso e consequentemente uma grande multa. Hoje os orçamentistas já incluem uma previsão de multa em seus preços (custo Brasil).Agora, no exterior é outra coisa, a Petrobras confia plenamente nos fornecedores, tanto… Read more »
Por isto nos assustamos com a atitude do presidente da indonésia ( cumprimento da lei )
No Brasil, pode tudo.
Materia interessante. O que me tras estranheza e que esses mesmos empreiteiros que A TEMPIS CONHECIAM TODOS ESSES PROBLEMAS AQUI DESCRITOS so agora ante a possibilidade de perderem sua EXCLUSIVIDADE reagem com furia. Sao os mesmos que sem escrupos combram PRECO DE CUSTO BRASIL POREM CONTROEM NA INDONESIA, NA TAILANDIA e inescrupulosamente e gananciosamente colocam a diferença no bolso. Penso sim que essa relação obscura dessas empreiteiras necessita ser investigada a fundo e desvendada. Nao so nas obras do setor petroleo, como em todas as obras como ferrovias, rodovias, hidreletricas, obras do PAC. Ai sim teremos noção da extensão do… Read more »
Quem escreveu foi dirigido e leviano. Tampouco conhece o que é fazer obra no Brasil e na China. De tao distorcido suspeito este artigo deveria ser retirado com retratação.