PETROBRÁS PODE PERDER BILHÕES DE DÓLARES COM O SEU PLANO DE DESINVESTIMENTO

O Plano de Desinvestimento elaborado na gestão de Pedro Parente na Petrobrás, com a concordância e apoio do Conselho de Administração da empresa, é para levantar US$ 21 bilhões com a venda de ativos da companhia que não sejam considerados essenciais. A justificativa é reduzir o endividamento da empresa e concentrar as ações na exploração e produção. Na última quinta-feira (29), a Federação Nacional dos Petroleiros apresentou um trabalho para 45 deputados na Câmara Federal que acendeu uma luz vermelha para este processo. Mesmo que consiga vender todos os ativos relacionados e arrecadar os valores que objetiva, a Petrobrás vai perder muito mais dinheiro do que perdeu com os roubos identificados pela Operação Lava Jato. Serão bilhões e bilhões de dólares que deixarão de ser arrecadados e ativos praticamente entregues por preços considerados irrisórios.

Desde que assumiu a presidência da companhia, Pedro Parente, pediu e recebeu carta branca do Presidente Michel Temer para fazer o que fosse preciso na busca de reerguer a maior empresa da América latina, envolta em escândalos de corrupção, à época. Parente foi corajoso e os avanços que fez são inegáveis. O cargo de presidente da Petrobrás é muito mais importante do que muitos ministérios. E, de certa forma, ele sempre agiu assim, como se fosse um Ministro de Estado, estabelecendo políticas de impacto para a economia. Ora boas, como as mudanças  e anúncios dos reajustes dos combustíveis,  ora ruins, como as mudanças anunciadas no conteúdo local das obras capitaneadas pela Petrobrás, em claro detrimento de centenas de empresas brasileiras. O plano de desinvestimento, é outro exemplo. Neste caso, a atenção precisa estar redobrada. Se todas as denúncias apresentadas pela classe de petroleiros aos deputados forem comprovadas, a situação é gravíssima. Quase estarrecedora. Mas o Ministério Público tem atuado fortemente nos processos, dando mais luz em todas as ações. A justiça federal, o Tribunal de Contas da União e o CADE, tem agido com firmeza.

O trabalho apresentado aos deputados relaciona cada item disponibilizado para venda, preços já acordados pela companhia e seus valores reais. Exemplos como os Campos Petrolíferos de Baúna, Tartaruga Verde e Carcará, que se forem explorados pela Petrobrás serão muito mais lucrativos do que se forem vendidos. Os preços ofertados estão muito aquém do valor que cada um deles vale efetivamente. O Petronotícias teve acesso a este levantamento apresentado aos deputados e mostra agora para seus leitores criarem um juízo de valor sobre o assunto.

Ao falar ao grupo de deputados, a  Federação Nacional dos Petroleiros levanta uma suspeita de “sabotagem” contra o Complexo PQS – Suape &Citepe, controlado 100% pela Petrobrás, que produz ácido Tereftálico Purificado, fabrica polímeros, filamentos de Poliéster e resina de embalagens PET. Essas plantas foram construídas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e receberam investimentos de 11 bilhões de reais. A FNP apresenta um relatório feito pela própria Petrobrás recomendando que a Linha A de produção do complexo não seja concluída, o que impediria a empresa fazer uma verticalização completa, prevista na origem do projeto. Essa recomendação foi publicada no Relatório de Avaliação (Memorando de Valoração) divulgado pela própria Petrobrás em sua Assembleia Geral de 31 de janeiro deste ano.  Sem a construção da Linha A, não há como produzir um produto chamado POY, que é a matéria prima essencial para a operação daquela petroquímica. Com isso, Suape&Citepe precisam importar o POY, o que está causando o prejuízo alegado pela Petrobrás para vender a planta. A estatal colocou a petroquímica à venda pelo valor de US$ 385 milhões, o equivalente a R$ 1,2 bilhão. Quase dez vezes menos do que foi investido em sua construção.

O Campo de Baúna tem uma produção de 80.500 barris de petróleo e 2 milhões de m³ de gás natural por dia. Ao preço de US$ 48,5 o barril, apenas a produção diária equivale a US$ 1,425 Bilhão por ano. Os 50% da Petrobrás em Tartaruga Verde equivalem a mais de US$ 3 bilhões por ano. São 180 mil barris e 5 milhões de m³ diariamente. A reserva medida desse campo é de mais de 1,6 bilhão de barris. Os 50% que a Petrobrás queria transferir para a australiana Karoon, equivalem a US$ 39 bilhões de dólares. O preço pedido pela venda estava estabelecido em US$ 1,6 bilhão.

Outro caso é o da NTS, uma empresa construída com dinheiro público e que controla uma imensa rede de dutos de gás natural, através dos quais o gás produzido nos campos de petróleo da Bacia de Campos e da Bacia de Santos é transportado para ser distribuído no continente. A lucratividade da companhia é de 85%, de acordo com o Manual da Assembleia Geral distribuído aos acionistas. Nos anos de 2013, 2014 e 2015, o lucro bruto da NTS chegou a R$ 8,39 bilhões. O seu preço de venda é o equivalente a cinco anos do lucro. A projeção de lucros até 2028, conforme informações do manual distribuído aos acionistas, é de R$ 49 bilhões. Esse valor não está sendo considerado sem a entrada da produção dos campos gigantescos do pré-sal, o que triplicará esse lucro.

O documento apresentado aos deputados denuncia também a venda de 50% da participação da Petrobrás na Termobahia para a francesa Total. A empresa controla duas usinas termelétricas: Usina Celso Furtado, que gera 185 MW no Pólo de Camaçari e a Usina Rômulo de Almeida, que gera 138 MW, em ciclo combinado. A FNP levanta suspeitas e acusa a Total de ser uma empresa corruptora de agentes políticos. Lembram que os franceses assinaram um acordo de leniência com a justiça norte-americana de US$ 245 milhões por ter pago propina a políticos iranianos para obter a concessão do South Pars, o maior campo de gás do mundo. Na França, a empresa pagou uma multa de US$ 825 mil por corromper funcionários do governo do Iraque; e na Itália executivos da empresa foram presos por subornar políticos italianos para obter a concessão do campo de Basilicata, o maior campo de petróleo terrestre da Europa.

Denunciam  ainda a venda do Campo de Lapa, com reservas provadas de 1,6 bilhão de barris de petróleo e 39 bilhões m³ de gás; A concessão de Iara, que contém oito campos de petróleo (Berbigão, Norte de Berbigão, Sul de Berbigão, Sururu, Norte de Sururu, Sul de Sururu, Atapu e Oeste de Atapu), com a fabulosa quantidade de 5 bilhões de barris de petróleo de alta qualidade. O plano é entregar 22,5% da área de Iara e 35% do Campo de Lapa. Considerando o preço do barril a US$ 48.5, Lapa equivale a US$ 27 bilhões e Iara US$ 54 bilhões. Os dois campos mais a Termobahia seriam da Total pelo valor de US$ 2,225 bilhões, sendo que US$ 1,675,  à vista.

Sobre o Campo de Carcará, mais denúncias. O ativo é um dos maiores campos de Petróleo do pré-sal, considerado como a Joia da Coroa. Pelo plano de desinvestimento, o foco seria venda de áreas não essenciais para concentrar a atuação da Petrobrás no segmento de extração de óleo e gás, especialmente no pré-sal. O preço da venda desse campo para a Statoil, da Noruega (país em que o Presidente Temer acabou de visitar e saiu humilhado por verdades constrangedoras, uma verdadeira carraspana, que foi obrigado a ouvir calado, ao vivo, ditas pela Primeira Ministra Erna Solberg), vai pagar US$ 2,5 bilhão. Considerando o mesmo patamar de US$ 48,5 o barril, este valor seria como se a Statoil pagasse por barril apenas US$ 5,41. As reservas de Carcará chegam a dois bilhões de barris, de acordo com a Federação Brasileira de Geólogos, com base em dados da própria Petrobrás. São reservas equivalentes a US$ 97 bilhões que estão sendo entregues pro US$ 2,5 bilhões.

Fora desta lista, os deputados também ouviram informações sobre outras áreas colocadas a venda, como os Campos de Petróleo Terrestres nos Estados de Sergipe, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Espírito Santo:  Sirizinho, Riachuelo, Fazenda Belém, Riacho da Forquilha, Macau, Buracica, Miranga, Fazenda São Jorge, Lagoa Parda. E ainda Campos de Petróleo em águas rasas nos Estados de Sergipe e Ceará: Caioba, Camorim, Dourado, Guaricema, Tatui, Curimã, Espada, Atum e Xaréu. Além de tudo isso, não deixou de ser falado também as tentativas de se vender a Liquigás, a BR Distribuidora,  ativos na África, a Refinaria de Pasadena e a participação da Petrobrás na Braskem.