PETROLEIRAS LISTAM AÇÕES QUE ESPERAM DE TEMER CASO ELE ASSUMA A PRESIDÊNCIA
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) / Enviado Especial –
HOUSTON – A iminente mudança de governo que está em vias de ocorrer no Brasil, caso o impeachment da presidente Dilma Rousseff seja aprovado no Senado, já movimenta especulações em todas as áreas, e no setor de óleo e gás também gera grandes perspectivas de novos rumos, com a expectativa de que uma série de ações importantes para a agenda do setor sejam levadas adiante. Os executivos de algumas das principais petroleiras presentes no Brasil, como Shell, Total, Repsol Sinopec, Queiroz Galvão Exploração e Produção, Barra Energia e Ouro Preto Óleo e Gás, com a exceção da Petrobrás, da Chevron e da Statoil, participaram de um painel especial na Offshore Technology Conference (OTC) para falar sobre a presença no mercado brasileiro e as oportunidades de investimentos na região, mas a situação política acabou sendo trazida para o centro das atenções durante o debate.
Depois de apresentarem brevemente seus planos para os próximos anos no País, todos com grande ênfase no potencial das áreas exploratórias nacionais, porém com diversas críticas a aspectos regulatórios e à intensa e oscilante taxação brasileira, os executivos foram abordados pelo presidente do IBP, Jorge Camargo, que estava na plateia, sobre o que esperam do novo governo, caso seja efetivada a mudança que está em curso na política nacional. Camargo, que é um dos cotados, assim como o consultor Adriano Pires, para assumir a presidência da Petrobrás caso Temer ocupe a presidência da República, colocou a seguinte questão:
“Gostaria de propor a vocês uma situação hipotética. Como foi dito, nós podemos ter um novo presidente em breve – ou não, mas é uma possibilidade. Nessa situação, considerando que o vice-presidente Michel Temer assuma a presidência, imaginem que ele convide vocês para uma reunião e diga: ‘Estou aqui e posso não ter muito tempo, porque a situação política é muito difícil, então preciso produzir resultados rapidamente, para ganhar força política para sobreviver, e sei que a área de óleo e gás pode dar essa direção’. Quais seriam as duas ou três ações concretas fundamentais que vocês recomendariam para que ele tomasse de forma a mostrar que o Brasil mudou de fato?”
Após a pergunta, houve uma gargalhada geral da plateia, pelo visível constrangimento dos palestrantes com a pergunta, seguida de palmas, e de uma brincadeira do presidente da Queiroz Galvão Exploração e Produção, Lincoln Guardado – “Provavelmente, quem tiver essa resposta poderá ser um ministro desse governo”.
Apesar do aparente desconforto inicial, todos acabaram respondendo, com propostas muito alinhadas à pauta de reivindicações do IBP. A única exceção foi o presidente da Barra Energia, Renato Bertani, que moderava o painel, mas não respondeu à pergunta, repassando a questão aos outros cinco, que listaram algumas das expectativas para o novo governo, reproduzidas a seguir.
Lincoln Guardado, presidente da Queiroz Galvão Exploração e Produção:
“Acho que destravar a economia será um movimento muito importante. Principalmente na nossa área especificamente, onde lidamos com muitas operações diversificadas. É preciso que a indústria de petróleo seja incentivada e que os próximos passos que estamos vendo agora não parem. Que vão em frente e que tenham ainda mais agilidade”.
André Araújo, presidente da Shell Brasil:
“Para mim é uma questão simples. Na semana passada, estive com o Ministro de Minas e Energia e meu discurso com qualquer pessoa que esteja no governo continuará sendo o mesmo. O Brasil tem grandes oportunidades, mas precisa agilizar a tomada de algumas medidas que irão proteger o que já foi descoberto. Nós falamos muito sobre investimentos, mas há um grande número de questões que precisam ser colocadas em pauta. Vou citar algumas delas. Eu focaria na extensão do Repetro, que é muito importante e está nas mãos do governo para que seja assinada; nos ajustes do conteúdo local, porque há um grande volume de investimentos que exigem um cenário mais claro sobre esse aspecto, para que, no fim das contas, os investidores possam ter certeza de quanto custará cada projeto; outro ponto fundamental é a unitização de áreas exploratórias. Provavelmente a lista poderia continuar por algum tempo, mas já citei três, e todas essas ações estão nas mãos do governo.
Existe um grande debate sobre a possibilidade de haver mais de um operador (no pré-sal), que atualmente está em pauta no Congresso, um tópico-chave também, mas isso deverá ser levado adiante no ritmo do parlamento. No entanto, há algumas ações-chave que darão a direção de que o país quer atrair novos investimentos”.
Rodolfo Landim, presidente da Ouro Preto Óleo e Gás:
“Sou membro do IBP e o que o André falou é exatamente a agenda do IBP, então aí estão os principais pontos para a nossa indústria. Porém, além disso, acho importante dar foco no licenciamento ambiental, que tem sido uma questão complicada para todos nós, criando vários atrasos nas fases de exploração e desenvolvimento. Então acho que deveria ser criada uma forma de licenciamento mais específica para o nosso setor. Sei que é uma questão muito difícil, porque envolve a criação de novas leis, mas acho que também deve ser uma das principais pautas em mente”.
Maxime Rabilloud, diretor geral da Total no Brasil:
“É importante dar visibilidade aos investidores. Dar maior clareza aos impostos, estender o Repetro, dar mais visibilidade às áreas exploratórias que serão colocadas à disposição do mercado; uma avaliação melhor do conteúdo local, para que possa ser concedido o waiver (perdão das multas) para as empresas que fizeram o melhor possível para atingir aos índices exigidos, mas que não tenham conseguido. Levando adiante essas ações, já se destravaria enormemente a indústria de petróleo e gás.
Além disso, seria importante olhar para a Região Norte, onde está a Margem Equatorial, como um novo País, e criar uma regulamentação adaptada para aquela área, para que os investimentos possam ser levados adiante e os projetos tocados com mais agilidade”.
Leonardo Junqueira, diretor financeiro e de relações com investidores da Repsol Sinopec Brasil:
“A maioria das ações fundamentais já foram citadas, mas eu iria primeiramente na questão do Repetro. É um ponto que a indústria vem discutindo nos últimos dois anos e que é fundamental para os próximos anos. O segundo ponto é o conteúdo local. Acho que é necessário que haja regras justas para o processo de waiver. A terceira ação é sobre o setor de gás, que precisa ser repensado. Não é algo que possa ser feito em poucos meses. É muito fácil dizer que a Petrobrás precisa repassar a responsabilidade por isso, mas nos últimos anos tivemos alguém fazendo esse planejamento, assim como o planejamento das reservas e de como a produção deve ser iniciada. Então existe uma visão clara deles sobre a integração de toda essa cadeia, mas a questão é quem terá um papel fundamental na execução de todos esses planos? E não só de uma perspectiva romântica, mas de uma perspectiva pragmática. Então esses seriam os meus três tópicos principais se eu tivesse cinco minutos com o novo presidente”.
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