PORTUGAL DESCOMISSIONA EM SEGREDO SEU ÚNICO REATOR NUCLEAR COM AJUDA DOS ESTADOS UNIDOS
O jornal Público, um dos mais importantes de Portugal, traz nesta segunda-feira (2) que o único reator nuclear em funcionamento em Portugal foi descomissionado numa operação sigilosa, em março deste ano. A exploração do reator era feita pelo Instituto Tecnológico e Nuclear, integrado no Instituto Superior Técnico, mas deixou de operar em maio de 2016, previsto num acordo assinado entre Portugal, Estados Unidos e Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Este ano, Portugal realizou essa operação secreta para transporte o combustível de urânio e outros produtos radioativos que estavam no núcleo do reator do campus tecnológico e nuclear na Bobadela para Tróia, para depois seguir para os Estados Unidos.
O transporte foi confirmado por José Marques (foto), físico nuclear responsável pela operação: “A operação teve de ser mantida secreta por razões de segurança”, explicou. Ele garantiu que quatro Ministérios (Ciência, Defesa, Administração Interna e Finanças) estiveram envolvidos na operação: “A questão foi tratada como um assunto de Estado.” O acordo foi assinado entre as três partes. Por ele, Portugal só poderia devolver o urânio aos norte-americanos se o reator parasse de funcionar até dia 12 desse mês; se continuasse a operar (tinha capacidade para o fazer até 2026), Portugal teria que encontrar uma solução para se livrar dos materiais radioativos. Uma inspeção da AIEA ( Agência Internacional de Energia Atômica) detectou falhas técnicas e recomendou algumas melhorias. José Marques disse que as obras poderiam chegar ao valor de dez milhões de euros: “Não mandaram parar o reator. Recomendaram é que fizéssemos diversas outras inspeções por causa do envelhecimento das estruturas. Decidimos, então, parar preventivamente.”
Assim, na sequência dessa decisão, a operação acabou por ser feita em março de 2019, após um longo processo de burocracia com os norte-americanos. O material radioativo, com cerca de 100 quilos, foi transportado num caminhão do Exército até Tróia: “O transporte foi feito pelo Exército com condutores que tinham formação para fazer esse transporte. Tínhamos a necessidade de manter a operação confidencial e seria muito delicado estarmos a lidar com empresas exteriores”, contou José Marques. A partir de Tróia, um navio norte-americano partiu com o conteúdo do reator para o Laboratório Nacional de Savannah River (Carolina do Sul), pertencente ao Departamento de Energia dos EUA.
Oficialmente, sabe-se que foram pagos cerca de US$ 600 mil dólares aos norte-americanos pela operação, mas não são conhecidos mais valores: “Houve uma série de custos que foram absorvidos pelos diferentes ministérios do Governo”. José Marques explicou que será feito um plano de descomissionamento ao longo de 2020 e 2021, com o apoio de peritos da AIEA, que irá ser aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente. Esses resíduos radioativos poderão ser armazenados no Pavilhão de Resíduos Radioativos do próprio campus tecnológico e nuclear.
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