PRÉ-SAL PODE SER VÍTIMA DE AÇÕES INCONSEQUENTES
A indústria do petróleo está vivendo um momento delicadíssimo no Brasil, em função do acidente na Bacia de Campos e, principalmente, pela qualidade das providências tomadas pelas empresas envolvidas direta e indiretamente com o problema. Quase ninguém está se dando conta das graves consequências que toda cadeia de negócios sofrerá a partir daí. Os erros sucessivos podem gerar prejuízos econômicos imprevisíveis. A incompetência, a omissão e a arrogância de algumas empresas envolvidas serão responsáveis por paralisar novos negócios, atrasar tecnologias submarinas e criar barreiras ambientais quase intransponíveis para toda cadeia de negócios do petróleo. O pré-sal, esta mina de ouro que alavancou a economia e o otimismo brasileiro nesses últimos anos, pode se tornar uma grande frustração para toda sociedade brasileira.
A Chevron, esta gigante americana, em muitos momentos tomou atitudes que lhe fizeram parecer uma empresa pequena, sem expressão e inconsequente. Neste episódio, nunca mostrou a realidade de seu tamanho. Da omissão inicial das informações, passou a sofismar. De um presidente insosso, inexpressivo e inseguro na relação com as autoridades, passou à arrogância de um novo executivo que chegou para tomar a frente das ações, mas nunca soube se assumia os erros ou se criticava o rigor do governo. Chegou ao ponto de se dizer magoado por não ter tido a empresa protegida por autoridades brasileiras, que apontaram o dedo e acenderam uma luz sobre a irresponsabilidade e a incapacidade técnica revelada pela Chevron ao mundo.
Surpreendeu também a atuação da sua assessoria de imprensa, a experiente e tradicional In Press Porter Novelli, que lhe atende na relação com os jornalistas. Se houvesse uma oportunidade para a publicação de um manual de erros sobre a relação de uma empresa com jornalistas, certamente este caso seria exemplar. Uma sucessão de equívocos. Informações solicitadas e não atendidas. Omissões, tentativas de driblar a verdade, fatos óbvios escondidos. A impressão é que apostaram que o volume diário de informações, como a queda de um ministro acusado de corrupção, pudesse desviar o foco do vazamento no noticiário.
Desde o dia 25 de novembro, por exemplo, solicitamos à assessoria de imprensa a confirmação do nome da empresa responsável pela sísmica e pela perfuração do poço no Campo de Frade, mas até agora nada foi divulgado. Esta informação é importantíssima, porque efetivamente é esta empresa quem tem a responsabilidade pelo vazamento.
O Petronotícias obteve a informação com fontes seguras de que a Halliburton teria sido responsável por este serviço. No entanto, a diretora de assuntos corporativos da empresa, Beverly Stafford, negou que tenham realizado o trabalho. No Brasil, apenas quatro empresas fazem este tipo de serviço: Halliburton, Schlumberger, Weatherford e Baker Hughes. Os motivos que fazem a Chevron omitir a informação não estão claros até o momento. Sabe-se que a empresa tem mais de um contrato com a Halliburton em sua campanha de exploração, o que poderia estender a insegurança às atividades da companhia em outros poços. Além disso, a associação com a Halliburton, por seu envolvimento no maior desastre ambiental do Golfe do México, com o vazamento de 5 milhões de barris de petróleo, traria conseqüências ainda piores para a imagem da Chevron. Esta semana, a BP acusou a Halliburton de destruir provas de suas responsabilidades neste acidente.
Quando foi descoberto, entre 2006 e 2007, o pré-sal foi alardeado mundialmente como um novo marco para o futuro da indústria petroleira no Brasil. Companhias de exploração e produção vieram, a cadeia de bens e serviços entrou em ebulição, estaleiros foram montados e o mercado de óleo e gás brasileiro deu um salto incrível rumo ao progresso e ao desenvolvimento.
O pré-sal está em fase de desenvolvimento e ainda há, sim, muitas incertezas sobre a produção em águas profundas. Novas tecnologias estão sendo estudadas e testadas, como os modernos separadores submarinos da FMC Technologies. Um passo a frente nas pressões ambientais pode comprometer esta e outras tecnologias para o pré-sal.
O futuro da indústria brasileira é promissor e o setor de óleo e gás é quem vive isso com mais intensidade. Mas ainda estamos no campo da pré-produção, de modo que se o país não mantiver sua firmeza contra a incompetência, será difícil manter essa linha ascendente nos gráficos e estatísticas.
As consequências desta história ainda estão sendo formadas. O Secretário Estadual de Ambiente do Rio, Carlos Minc, já avisou que vai exigir auditorias de padrão internacional também às outras companhias que estão com planos de exploração na Bacia de Campos. O Greenpeace despertou o interesse de outras entidades ditas preservacionistas para o problema. A fiscalização e o preparo para eventualidades são importantíssimos e devem fazer parte da agenda do governo e dos órgãos reguladores, mas é preciso muita atenção e cuidado com a condução dessas ações.
A ditadura de um ambientalismo radical e inconsequente pode acabar levando o país para os braços de outro poderoso inimigo: o medo do progresso. É preciso equilíbrio e bom senso. O pré-sal é uma pedra preciosa. Precisamos lutar por ela e pela fiscalização de sua exploração, sem perder o foco no que a sua riqueza pode proporcionar: progresso para nosso país e justiça social para a nossa sociedade.
MUITO LUCIDO ESSE EDITORIAL. ESTÃO DANDO DE MÃO BEIJADA, MUITA MUNIÇÃO, AOS RADICAIS AMBIENTALISTAS, PARA QUE SE DE UMA UMA PARALISAÇÃO OU NO MÍNIMO DISCUSSÕES ETERNAS QUE INIBIRÃO INVESTIMENTOS. PROVAVELMENTE A INDUSTRIA ANSEIA POR UMA LEGISLAÇÃO E REGULAÇÃO JUSTAS.
Lendo esse brilhante editorial fiquei imaginando quantos interesses há por trás dessa “cadeia de burradas técnicas” e quantos “laranjas ” serão obrigados a assumir a responsabilidade por não terem previsto essa catástrofe que seria perfeitamente evitável ,a exemplo de tantas outras que já ocorreram nos últimos anos. Pena que mudem os cenários e os players mas o resultado seja sempre o mesmo com danos irreparáveis ao meio ambiente e às pessoas. Não tenho a menor dúvida de que houveram sim vários alertas de especialistas sobre os riscos inerentes à operação mas certamente também houve uma ordem firme e inquestionável mandando… Read more »