PRESIDENTE DA ABDAN ALERTA PARA GRANDE NÚMERO DE SUBSÍDIOS PARA FONTES EÓLICAS E SOLAR E DESARRANJOS NO SETOR ELÉTRICO
Os desafios do setor elétrico e o papel da energia nuclear deram a tônica do discurso de abertura do evento Nuclear Legacy 2024, organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN). O presidente da entidade, Celso Cunha, inaugurou o encontro, no Clube Naval Piraquê, no Rio de Janeiro, chamando a atenção para uma série de desarranjos do setor elétrico atualmente, que incluem o uso excessivo das hidrelétricas para compensar as variações provocadas por usinas eólicas e solares, bem como o grande número de subsídios para as fontes intermitentes. Um levantamento feito pela ABDAN aponta que, atualmente, existem cerca de 86 projetos de lei (PLs) que buscam incentivar ainda mais as fontes eólicas e solar.
“A maioria destes PLs, colocam as fontes eólicas e solares como únicas beneficiárias dos projetos. O que o planeta precisa é de energia de baixa emissão de baixo carbono, é de energia limpa, e não de exclusividade para estas fontes que podem levar a insegurança energética”, afirmou Cunha. “O Brasil tem taxas de crescimento sem precedentes das fontes solar e eólicas, que trouxeram muita variabilidade para o sistema, causando insegurança para matriz elétrica brasileira, tem preocupados a todos os especialistas do setor. Precisamos discutir de forma serene esses subsídios”, acrescentou.
O presidente da ABDAN também apontou para o crescente número de novas linhas de transmissões para o sistema para escoar as energias eólica e solar, trazendo custos extras. “O consumidor cativo é que paga 50% do custo das linhas de transmissão destas fontes, que são colocadas muito longe do sistema elétrico brasileiro, por acordos realizados com municípios que buscam atrair estes investimentos”, ponderou. Para o dirigente da associação, é necessário estimular ainda outras fontes de geração limpa e de baixa emissão no país. “Está na hora de entendermos que a transição energética requer um volume de energia tão grande, que é impossível estas fontes atenderem a esta demanda”, disse.
Cunha reforçou também que as hidrelétricas brasileiras estão sendo muito exigidas e que essas plantas não foram projetadas para serem utilizadas para compensar a variação provocada pelas fontes solares e eólicas. Ele lembrou da crise hídrica dos últimos anos e das queimadas que ocorreram no Brasil este ano em proporções inimagináveis. “Um fato importante aqui é a questão do múltiplo uso das águas (agricultura, uso humano, turismo, navegação fluvial etc.) irá pressionar para que se use cada vez mais as águas armazenadas nestes reservatórios”, pontuou.
Sobre o futuro do setor nuclear, Celso Cunha voltou suas atenções para a conclusão da obra de Angra 3, projeto que está prestes a entrar em um momento decisivo. Como se sabe, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) se reunirá no dia 4 de dezembro para discutir a retomada das obras. Para a ABDAN, a conclusão de Angra 3 será fundamental para ampliar a confiabilidade do setor elétrico nacional.
“Se Angra 3 já estivesse funcionando, a bandeira vermelha, sem sombra de dúvida teria sido postergada. A não conclusão de Angra 3 levará ao colapso do setor nuclear e a transformação das empresas públicas em empresas dependente do tesouro”, avaliou. “Gostaria de ressaltar aqui, os esforços dos gestores do setor, inclusive do Ministro Alexandre Silveira, do Ministro do GSI, Marco Amaro, e do Comandante da Marinha Marco Olsen, pelo apoio a solução deste assunto”, complementou.
Por fim, Cunha comentou ainda que A ABDAN acabou seu relatório sobre o uso dos pequenos reatores modulares (SMRs) como uma das possíveis fontes a substituírem as térmicas a carvão, que de acordo com a Lei nº 14.299, de 5 de janeiro de 2022, criou o Programa de Transição Energética Justa (TEJ), até 2040, deveram deixar de operar no Brasil. “Continuamos nos preparando para a nova década, na qual os SMRs terão participação ativa na descarbonização da indústria”, afirmou. “Estamos lançando um programa de apoio a alunos que estejam cursando o mestrado e doutorado para estudar as demais cadeias eletrointensivas que poderão ter a sua pegada de carbono reduzida pelo uso dos SMRs”, finalizou.
Uma grande número de autoridades e nomes relevantes da indústria nuclear e da esfera política participaram do encontro. Entre os presentes, estavam o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Olsen, o Ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, General Marcos Antônio Amaro dos Santos, o Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Vitor Saback, a Embaixadora Chefe do Ministério de Relações Exteriores do Rio de Janeiro, Márcia Maro, o Secretário de Saúde do Rio de Janeiro e Deputado Federal Daniel Soranz, o presidente da Frente Parlamentar Nuclear, deputado Julio Lopes, os deputados Reimont Otoni e Arnaldo Jardim, entre outros. Hoje (6) será o segundo dia de programação do Nuclear Legacy, com uma série de debates sobre temas relacionados ao setor nuclear.
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