PRESIDENTE DA ABDAN FAZ CRÍTICAS À EPE POR NÃO PREVER NOVAS USINAS NUCLEARES NO PLANO NACIONAL DE ENERGIA
Um dos destaques da abertura do Seminário Internacional “The World Nuclear Industry Today”, esta manhã, (19) na Escola de Guerra Naval, na Urca, no Rio de Janeiro, foi a palestra do presidente da ABDAN, Celso Cunha, um dos organizadores do evento, fez a palestra mais contundente da abertura, cobrando uma solução urgente para a conclusão das obras de Angra 3 e uma crítica ao fato da EPE ignorar a energia nuclear como alternativa de geração de energia em seus planos estratégicos. A ampliação da geração nuclear de energia não foi prevista no PNE de 2026 e, até agora, não há informações firmes sobre o PNE 2050. Com a perspectiva do aumento da demanda de energia com o crescimento da economia e o aumento substancial do número de veículos híbridos, movido a eletricidade, isso se torna realmente preocupante. O país precisa de matrizes firmes e limpas. Por isso, as críticas. Vamos reproduzir alguns trechos da palestra de Celso Cunha, que o Petronotícias teve acesso:
“ O crescimento acelerado da economia global tem impulsionado a construção de novos reatores de energia nuclear. A geração desse tipo de energia vai ser uma peça muito importante no desenvolvimento global. Nos próximos dois anos devem entrar em operação 57 novos reatores no mundo. Segundo as estimativas da Agência Internacional de Energia, até 2040 os investimentos em energia nuclear devem somar US$ 1,1 trilhão, elevando os níveis de produção em cerca de 46 %. Mesmo num cenário favorável, o PNE lançado pela EPE, se limitou somente a prever o término de Angra 3. O PNE 2050, até a presente data, não foi apresentado. O que nos deixa com uma grande dúvida sobre o futuro do uso da geração termonuclear no Brasil. Vivemos tempos com problemas hídricos. Poderíamos ter uma fonte de geração de base confiável e limpa em nossa matriz energética.”
Celso Cunha também lembrou o já velho problema da conclusão da usina nuclear de Angra 3:
“ A conclusão de Angra 3, continua em um horizonte cinzento. Segundo estimativa do mercado, o custo para concluir as obras do ativo da Eletronuclear, que começou em 1984, chega a R$ 13 bilhões, além dos R$ 7 bilhões já consumidos. A Eletrobrás procura um sócio para a conclusão da usina. E há empresas dispostas a isso. Mas o projeto de lei da privatização da Eletrobrás está atrapalhando. A separação das Eletronuclear da holding é um imperativo nesse processo. Já não existem mais razões para mantê-la vinculada a Eletrobrás. Quem entende de geração termonuclear é a Eletronuclear. Ao longo desses anos, Angra 2 se mantem entre as 10 usinas de maior desempenho no mundo. Em passado recente, chegou a ser a 3ª melhor.”
O Presidente da ABDAN também falou sobre o modelo de negócio de Angra 3:
“ A tarifa de energia para a geração de Angra 3, deve estar entre R$ 350 e R$ 400. Será uma forma de restabelecer o equilíbrio financeiro do empreendimento e a assegurar a sua atratividade, viabilizando a sua conclusão. As dívidas com a Eletrobrás, BNDES e Caixa, sangram da empresa R$ 30 milhões mensais. Outra barreira é o PDV e a saída de profissionais que teremos que superar nos próximos anos. Felizmente a UFRJ começa a formar as primeiras turmas de engenheiros nucleares. Precisamos que o CONFEA homologue os registros destes profissionais, que estão parados em alguma gaveta. A Eletronuclear está construindo, apesar de toda crise, os novos depósitos de rejeitos. E a empresa ainda gasta alguns milhões com a manutenção dos equipamentos. Mesmo com todas essas dificuldades, com a liderança do Presidente Leonam Guimarães, retomaremos as obras”.
A Idade da Pedra não acabou por falta de Pedra. A máxima foi lembrada por Cunha, no comparativo com as nossas minas de urânio que o país tem e explora pouco:
“ O Brasil tem a sétima reserva de urânio do mundo, com potencial para ser o primeiro. O Brasil surpreendeu o mundo, enriquecendo o urânio por meio de suas centrífugas desenvolvidas pela Marinha. Portanto, o país tem matéria-prima e tecnologia para galgar a posição de player no mercado global. São mais de 400 usinas nucleares no mundo com necessidade de manutenção e abastecimento de urânio. Um mercado de US$ 20 bilhões, restrito a cinco países. Só que o Brasil ainda não entrou nesse mercado global. Mas avançaremos com apoio de toda a sociedade e de profissionais excepcionais da INB.”
O desenvolvimento do Prosub, também foi lembrado:
“ O nosso submarino tem uma importância geopolítica estratégica, já que o país tem uma costa extensa onde há petróleo e minérios valiosos que podem ser explorados. A falta de recursos deixou que o submarino só fique pronto em 2029, mas a Marinha manteve o projeto em curso.”
Celso Cunha apontou também alguns avanços:
“ A Eletronuclear contratou a modelagem do estudo de negócios para o término de Angra 3. Também contratou a construção para o depósito de combustível utilizado. O Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro foi reativado. Voltaremos a tratar o tema como um programa de Estado. Foi criada a Agência Nacional de Segurança Nuclear e Qualidade. A Nuclep conseguiu a certificação do projeto de construção do cilindro 30B fabricado para a INB. A Amazul e a CNEN iniciaram o desenvolvimento do reator multipropósito brasileiro. O maior objetivo é o país autossuficiente na produção de radiofármacos. Milhares de brasileiros vão se beneficiar com exames usados para diagnóstico de câncer e doenças dardíacas e fazem uso de radiofármacos para tratamento de tumores. Atualmente o Brasil importa da Freança, Rússia e África do Sul radioisótopos, insumos para os radiofármacos. São 2 milhões de procedimentos de medicina nuclear, número bem inferior a demanda nacional. A nossa vizinha, Argentina, realiza cinco vezes mais esses procedimentos.”
Celso Cunha finalizou o seu discurso, falando sobre contradições:
“ Enquanto temos parcerias entre USP e a Universidade de Princeton para pesquisas de produção de energia praticamente inesgotável, a partir da fusão nuclear, o Cern adotando um sistema de filtragem on line de elétrons desenvolvido pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra e pela Coppe, a Nasa desenvolvendo um reator, o Kilopower, para primeiras missões tripuladas à Marte, nós ainda discutimos questões antigas. Mas não iremos recusar em nossa luta em benefícios da nossa sociedade e pelo uso de uma energia pacífica e limpa.”
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