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PRESIDENTE DA ABEMI DIZ QUE ENGENHARIA NACIONAL VIVE MOMENTO AUSPICIOSO, APESAR DE DESAFIO NA FORMAÇÃO DE NOVOS TALENTOS PARA O SETOR

_URA6729-Editar-EditarÀ frente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEMI) há quase seis meses, Nelson Romano enxerga um futuro promissor para as empresas brasileiras. Em entrevista ao Petronotícias nesta segunda-feira (1º), o dirigente avalia que o setor de engenharia nacional vive um momento especial. Grandes projetos no parque de refino e no segmento offshore têm sido retomados, abrindo espaço para que empresas brasileiras mostrem sua comprovada capacidade técnica. Ele cita, por exemplo, o Complexo Boaventura (antigo Comperj), em Itaboraí, que receberá uma planta para produção de lubrificantes grau 2. “Decisões criativas como essa beneficiam a sociedade, o dono do empreendimento e a engenharia. É um momento que se apresenta auspicioso para a engenharia”, afirmou. Romano, contudo, chama a atenção para a escassez de profissionais e o baixo interesse da nova geração pela carreira de engenharia — desafios que a associação busca enfrentar por meio de iniciativas que aproximam empresas, universidades e entidades sem fins lucrativos. “Associações como a ABEMI têm mais capacidade de enfrentar esse tema do que uma empresa isolada, porque representam um conjunto amplo de companhias. Esse não é um assunto para o governo resolver; cabe a nós, entidades e associações de classe, buscar soluções”, destacou.

Nelson, para começarmos a nossa entrevista, gostaria que o senhor fizesse um balanço desses primeiros seis meses à frente da ABEMI. Quais têm sido as principais metas e prioridades da sua gestão até aqui?

EngenhariaNosso primeiro objetivo foi dar continuidade ao bom trabalho realizado pelo presidente anterior, que conquistou um protagonismo importante para a ABEMI junto a entidades governamentais e empresas, especialmente a Petrobrás. Nesse período, renovamos o acordo com a Komea, entidade equivalente à ABEMI na Coreia do Sul, e participamos de feiras e eventos relevantes.

Hoje trabalhamos com duas grandes bandeiras. A primeira é a manutenção da produção de óleo e gás no Brasil, com atenção especial à Margem Equatorial.  Estamos acompanhamos a transição energética e acredito que ela ocorrerá na velocidade possível, não na velocidade desejada por todos. Em 2030, o petróleo ainda será essencial, e nossas reservas estão caindo. A Margem Equatorial pode sustentar a produção brasileira até 2040 ou 2050.

A segunda é a preocupação com a disponibilidade técnica no país, principalmente de engenheiros. O Brasil vive um esvaziamento preocupante: temos hoje talvez a metade dos estudantes de engenharia que existiam em 2015. Por isso, buscamos motivar e integrar os jovens, a chamada geração Z. Existem entidades sem fins lucrativos desenvolvendo programas semelhantes a residências para engenheiros, e apoiamos esse movimento.

Por isso, no próximo dia 23, a ABEMI realizará a Jornada de Engenharia, que vai reunir especialistas, executivos, fornecedores e representantes de grandes empresas industriais para debater os principais desafios e oportunidades da engenharia no Brasil. O evento faz parte desse esforço de sensibilizar a sociedade sobre a importância da engenharia nacional. Hoje, nossa formação de engenheiros é baixa em comparação a países desenvolvidos.

Uma pesquisa recente do Centro de Integração Empresa-Escola mostrou que apenas 12% dos jovens manifestam interesse em seguir carreira na engenharia, um dado preocupante. Na sua visão, a que se deve esse cenário e de que forma a ABEMI e o setor podem atuar para revertê-lo?

Artigo-engenharia-4.0Esse quadro é resultado de mudanças no relacionamento entre empresas e profissionais. O número de jovens engenheiros que ingressa em uma empresa e logo sai, seja por decisão própria ou da companhia, é muito alto. As universidades não conseguem cobrir essa lacuna — não por falha delas, mas porque não estão estruturadas para esse desafio.

Por isso, buscamos suprir esse vazio por meio de associações e institutos sem fins lucrativos. Não é um gap técnico, mas social. Pesquisas mostram que os objetivos dos jovens de hoje são diferentes: o principal é adquirir conhecimento, enquanto salário aparece em segundo plano. Não é um defeito da geração, mas uma realidade que precisa ser entendida e trabalhada.

Associações como a ABEMI têm mais capacidade de enfrentar esse tema do que uma empresa isolada, porque representam um conjunto amplo de companhias. Esse não é um assunto para o governo resolver; cabe a nós, entidades e associações de classe, buscar soluções.

Falando sobre o momento atual da engenharia no Brasil, especialmente em obras, como o senhor vê a participação de empresas brasileiras em grandes projetos recentes, como o caso da P-78 com a DBR?

P-78

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Estamos vivendo um momento especial no país, apesar das dificuldades internas e externas. Um exemplo de solução inteligente foi a decisão da Petrobrás de concluir obras que estavam paradas e gerando custo sem retorno. O Complexo Boaventura, em Itaboraí, por exemplo, será transformado em unidade de produção de lubrificantes grau 2, que o Brasil não produz atualmente. A estatal também decidiu pela retomada da construção do Trem 2 da RNEST, em Ipojuca (PE). Decisões criativas como essas beneficiam a sociedade, o dono do empreendimento e a engenharia. É um momento que se apresenta auspicioso para a engenharia.

No setor offshore, os investimentos são mais oscilantes, mas há cinco plataformas em andamento. Tivemos adiamentos, como o da P-86, mas projetos como o Albacora seguem avançando. Curiosamente, apesar das dificuldades do país, é um momento positivo para a indústria de óleo e gás.

O senhor mencionou o setor offshore e a Margem Equatorial. Como avalia o papel da engenharia nacional para apoiar a Petrobras na exploração dessa nova fronteira?

Sail Away_P-78_Estaleiro Benoi_Singapura_Foto2A engenharia nacional está capacitada. Temos, talvez, pouca gente, mas somos qualificados. No caso da P-78, por exemplo, foram 22 módulos montados simultaneamente, mais de um milhão de homem-hora e um pico de mais de 400 pessoas — engenheiros e técnicos — coordenados juntos. Isso mostra que temos capacidade.

O desafio é ter coragem e apoio legal equilibrado para o conteúdo local. Todo país protege sua indústria: os Estados Unidos e a Noruega têm suas regras, por exemplo. No Brasil, o conteúdo local já passou por críticas quando foi exagerado. Precisamos de um equilíbrio que permita competir sem criar dificuldades desnecessárias. 

Ainda sobre conteúdo local, se a ABEMI fosse consultada, quais seriam as sugestões da associação para propor um modelo mais equilibrado, como o senhor mencionou?

O equilíbrio que menciono é que a engenharia poderia ter um índice próprio na política de conteúdo local. Caso contrário, fica difícil, já que, quando incluída dentro do percentual de construção, ela representa apenas uma pequena parte. A legislação poderia dar mais destaque à valorização da qualificação técnica da engenharia nacional, que é reconhecida internacionalmente. Nossas empresas são contratadas para realizar FPSOs fora do Brasil, o que mostra que temos capacidade. O desafio agora é criar oportunidades para que essa qualificação seja plenamente aproveitada.

Falando sobre mercado, especialmente gás natural, como o senhor avalia o crescimento do setor nos últimos anos e a necessidade de ampliar a concorrência?

GASNo momento, o gás natural é o combustível fóssil mais eficiente e menos poluente, além de ser matéria-prima fundamental para petroquímicos, fertilizantes e produção de energia. No Brasil, historicamente, o preço saiu de controle, chegando a 16 dólares por milhão de BTU, enquanto no mercado externo ficava entre dois e três dólares.

Esse valor alto prejudicou a indústria petroquímica e de fertilizantes, deixando plantas importantes paradas. Felizmente, há esforços para reduzir esse gap e viabilizar a retomada da produção nacional. Estamos na expectativa de que o preço alcance patamares mais baixos, permitindo novos investimentos. A Petrobras já está preparada para relançar a UFN-3, que, juntamente com as demais plantas do país, poderá suprir mais da metade da demanda de fertilizantes.

O gás natural, portanto, é uma solução estratégica. Seu preço tem sido um obstáculo, mas isso está sendo tratado. Em todos os segmentos da cadeia de óleo e gás há consenso de que é preciso reduzir os preços, e acreditamos que isso vai acontecer.

Para encerrar, o senhor poderia compartilhar conosco as próximas ações da ABEMI e destacar novidades ou iniciativas que a associação pretende promover?

A ABEMI é uma entidade estimuladora, atuando por meio de seus comitês de trabalho e eventos. Por exemplo, teremos um evento de ESG no Rio de Janeiro nesta semana e um evento de engenharia próximo à OTC Brasil.

Internamente, a ABEMI possui diversos comitês: o de produtividade, analisa as melhores técnicas de engenharia e construção; o de Engenharia 4.0, que se dedica à interface entre ferramentas de gestão e engenharia; e um comitê jurídico que defende os interesses dos associados. Também há comitês de naval e outros segmentos técnicos. Portanto, a associação se projeta por meio da participação em eventos, da divulgação de iniciativas e do trabalho contínuo de seus comitês operacionais e técnicos. 

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