ABIMAQ DEFENDE CONTEÚDO LOCAL E DIZ QUE MUITAS EMPRESAS PODEM QUEBRAR SE A PETROBRÁS NÃO PAGAR
O presidente da Associação Brasileira da Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza (foto), criticou duramente a política de conteúdo local adotada pelo governo. Segundo o executivo, as regras de conteúdo local são falhas e não conseguem fiscalizar uma empresa que não queira cumprir o conteúdo estabelecido. “É uma política esquizofrênica. Ao mesmo tempo em que exige conteúdo local nas regras de concessão, o governo dá isenção para importações”, afirmou. o impacto disso, somado ao cenário ruim da economia brasileira, levou os fabricantes de equipamentos e máquinas a demitirem mais de 13 mil pessoas no ano passado, segundo o executivo.
Apesar da promessa de correção feita pelo governo, Pastoriza criticou o pequeno impacto gerado pelos investimentos da Petrobrás na cadeia de equipamentos e máquinas, aproveitando para elogiar a forma com que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lida com a política: “Ao todo, tivemos R$ 4 bilhões em vendas de óleo e gás em 2014, sendo que só a Petrobrás investiu mais de R$ 100 bilhões no setor. É uma quantidade irrisória de conteúdo local. No sistema de financiamento do BNDES, ao contrário, temos um funcionamento sério da política, exigindo 60% de participação no peso e no preço dos produtos”, observou.
O cancelamento das refinarias Premium também foi criticado e tratado como um grande problema para a Abimaq. Além disso, o executivo afirmou que mais de 60 empresas já relataram problemas muito sérios em relação à situação de inadimplência com a Petrobrás e alertou: “Se a Petrobrás não olhar com atenção para isso, muitas empresas ficarão no meio do caminho”, previu, contando que hoje as associadas tem pelo menos R$ 200 milhões a receber por equipamentos e máquinas já entregues. Pastoriza ainda foi taxativo ao afirmar que a estatal, que segundo ele já não cumpria o que prometia, reduzirá seus investimentos em 30%, o que classificou como uma piora na situação atual.
Ao longo da entrevista, os executivos da Abimaq não fizeram muita questão de esconder a insatisfação com o momento pelo qual passa a indústria brasileira. Com uma queda de 13,7% no faturamento total (de R$ 82,47 bilhões para R$ 71,19 bilhões), a indústria de máquinas e equipamentos brasileira diminuiu seu faturamento pelo quarto ano seguido, intervalo de tempo chamado de “recesso” por Pastoriza. Esse dado, além de outros índices muito negativos, fazem a Abimaq acreditar que em 2015 o Brasil terá um ano muito ruim na indústria, com uma queda no seu Produto Interno Bruto (PIB).
Empresários associados à Abimaq também deixaram clara a frustração com o pacote de medidas anunciado por Levy, principalmente porque o “pacote de bondades”, tão esperado pela indústria e prometido pela presidente Dilma Rousseff, ainda não foi anunciado. José Velloso, diretor executivo da Abimaq, foi categórico: “Só poderemos avançar novamente com uma reforma política, tributária, estruturante e administrativa. Só assim devolveremos competitividade à nossa indústria. Até aqui, tudo que foi anunciado só piora o custo Brasil, impulsionado pela defasagem de câmbio”, afirmou.
A Abimaq garantiu que terá atitudes mais contundentes para “ajudar o governo a perceber a encruzilhada em que está se metendo”. No entanto, seus representantes não pareciam muito confiantes na capacidade de mudança do governo. Tanto é, que o próprio Pastoriza resumiu a entrevista em em duas palavras: “feliz 2016.”
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