PROJETO BRASILEIRO VAI UNIR ACADEMIA E INDÚSTRIA DE PETRÓLEO PARA DESENVOLVER INOVAÇÕES COM NANOTUBOS
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
Um projeto anunciado recentemente no Brasil pretende unir a academia e a indústria de petróleo na construção de um novo centro tecnológico, voltado a inovações que utilizem nanotubos. A unidade, fruto de uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Petrobrás, o BNDES e a empresa de cimento Intercement, está orçada em cerca de R$ 35,4 milhões e deve iniciar a fase de obras daqui a dois meses. O coordenador do CTNanotubos, Marcos Pimenta, conta que já obtiveram a licença de implantação e agora estão finalizando o projeto executivo. Com previsão de entrar em operação plena em 2017, o centro tecnológico funcionará como uma espécie de fábrica piloto para projetos mais avançados na área de nanotubos, com o intuito de transferir as tecnologias das universidades para a indústria.
Quais são as principais inovações que o centro de tecnologia em nanotubos pode trazer à indústria de óleo e gás?
Existem muitas aplicações, e algumas são de interesse da Petrobrás. Nosso grupo trabalha com ela há mais de sete anos, em três projetos específicos. Um deles é um tipo de plástico com adição de nanotubos de carbono, para ficar mais flexível e resistente. Outro é um tipo de cola, um epóxi, que suporta temperaturas mais altas, utilizadas em revestimentos de tubulações de óleo. O terceiro é um cimento com nanotecnologia de carbono, para compactação de poços de petróleo.
Tem essas três aplicações mapeadas e estudadas, mas eles tem várias outras aplicações, então dominar a tecnologia de produzir e aplicar esses materiais vai permitir futuras aplicações que não estamos focando hoje.
Quais serão as linhas centrais das pesquisas?
A palavra pesquisa não se adapta bem, porque vamos exatamente pegar as pesquisas das universidades e trabalhar com a otimização dos processos, fazendo em grandes quantidades, reduzindo custos do que já é feito nas universidades. A ideia é fazer uma ponte entre a academia e o setor industrial. A unidade vai trabalhar principalmente para desenvolver processos para transferir essa tecnologia das universidades para a indústria. Isso envolve o aumento de escala e também a redução de custos e otimização de processos.
Como será a estruturação da unidade?
Vai ter quatro braços, sendo três deles produtos – o nanotubo de carbono, os plásticos com nanotubos, e o cimento com nanotubo de carbono. A quarta área é segurança, meio ambiente e saúde – ela tem dois objetivos: desenvolver protocolos para uso seguro desses materiais, seja por quem produz ou por quem usa, e prestar serviços em termos de nanotoxicologia, para certificação, caracterização e metrologia de outros materiais que usam nanotecnologia. Não necessariamente nanotubos, apesar deste ser o foco.
Como ficou a divisão entre os parceiros?
No processo de criação, demoramos dois anos discutindo o contrato. Então foi assinado pela UFMG, pela Petrobrás e pela Intercement, sendo que em cada um dos produtos foram negociadas as frações da propriedade intelectual. Cada um terá uma parte neles. A ideia é que, uma vez que a tecnologia seja transferida realmente para um fornecedor, já esteja tudo negociado sobre qual será o percentual para cada um dos parceiros.
Houve outras fontes de financiamento?
O BNDES deu metade do dinheiro. Então essa parte fica com a UFMG, que tem 50%, e todos os produtos. O resto fica dividido entre a Petrobrás e a Intercement. Na parte de plástico e polímeros, é tudo da Petrobrás. Na parte do cimento, tem uma parte para poços e outra para construção civil. Nos poços, a Petrobrás tem mais, e na outra, a Camargo Corrêa, dona da Intercement, tem mais.
Qual o plano de desenvolvimento do centro?
Fizemos um plano de negócios prevendo que a partir deste ano ele passe a ser autossustentável. Isso vai vir principalmente de royalties e também de prestação de serviços. Uma coisa que teremos que fazer será um estudo mais aprofundado de viabilidade técnica e comercial, para avaliar cada produto desses.
Existe alguma estimativa de redução de custos que os nanotubos podem trazer aos projetos brasileiros?
O objetivo é que, com esses nanotubos incorporados aos materiais convencionais, tenhamos um material que suporte condições mais extremas de temperatura, pressão, ambiente químico agressivo, então teremos um material com propriedades superiores, adequadas, por exemplo, para a exploração do pré-sal, que envolve ambientes agressivos. Vai aumentar principalmente a performance, impactando também a produtividade, a sustentabilidade e a segurança.
Como será aproveitada a produção do Centro Tecnológico?
A ideia não é ser um fábrica. Vamos ter uma fábrica piloto e ali vamos demonstrar que os projetos funcionam em escala industrial. Estando prontos, a ideia é transferir a tecnologia para uma empresa que faça a produção industrial. No caso do cimento, será a própria Intercement. No caso do plástico, será algum dos fornecedores que a Petrobrás já tem. Então não será uma indústria, mas uma ponte entre a academia e ela.
Deixe seu comentário