PROJETO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO ENTRA EM ÚLTIMA ETAPA ANTES DO INÍCIO DE SUA CONSTRUÇÃO
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Submarino com Propulsão Nuclear Brasileiro (SN-BR) é um dos mais importantes projetos de Defesa do Brasil e está entrando em uma nova etapa. De acordo com o diretor-presidente da Amazul, Antônio Carlos Soares Guerreiro, a empresa está agora levantando todas as necessidades em termos de recursos humanos para iniciar o projeto detalhado do submarino. Esta é a última fase antes do início da construção do ativo. “Vamos maximizar o esforço da Amazul nesse período, porque aumenta, e muito, a quantidade de projetistas trabalhando nesse projeto”, explicou. O executivo afirma que a companhia já começou a prospecção de empresas que podem ser parceiras neste empreendimento.
Esta é a segunda parte da nossa entrevista com Guerreiro (a primeira pode ser conferida clicando aqui). Nela, também abordaremos a parceria da Amazul com o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia para o desenvolvimento de um coração artificial, que dará novas perspectivas para pacientes com insuficiência cardíaca. Guerreiro detalhou ainda o novo plano de comunicação da empresa e os impactos sociais da Amazul na sociedade brasileira.
Nessa segunda parte da entrevista, gostaria que o senhor começasse nos atualizando sobre o andamento do projeto do submarino nuclear brasileiro.
O programa do submarino entra em uma fase importante agora. Estamos intensificando o nosso contato com o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo. Estamos levantando todas as necessidades, em termos de recursos humanos, para iniciarmos o projeto detalhado do submarino. Em termos de projeto, é a última fase antes da construção. Vamos maximizar o esforço da Amazul nesse período, porque aumenta, e muito, a quantidade de projetistas trabalhando nesse projeto.
Estamos intensificando o contato com o Centro Tecnológico e, em paralelo, começando a prospectar quais empresas no Brasil serão parceiras nesse empreendimento. Como eu disse, vamos precisar de muitos projetistas. Daí teremos que partir para a execução indireta de parte desse desse projeto detalhado, buscando empresas para poder participar do detalhamento. Acreditamos realmente que temos empresas no Brasil com capacidade de atuar nesse projeto. Agora é hora de estruturar. É a fase final antes da construção e a Amazul vai ter participação ativa nisso.
Existe algum prazo para que isso avance?
Ainda não porque, como eu disse, é a fase mais crítica. Estamos com um projeto básico todo pronto. Agora, esse projeto básico vai descer a um nível de conexões, redes e cabos. O detalhamento é muito grande. Para isso, vamos precisar estruturar uma equipe muito grande de engenheiros e, principalmente, projetistas para desenvolvermos todo o detalhamento.
Na primeira parte da entrevista, o senhor falou sobre mudanças na comunicação da empresa, para mostrar a importância da Amazul para a sociedade. Como será feito isso?
A primeira estratégia é mudar o perfil da nossa comunicação. A Amazul desenvolve suas atividades focada em três programas (Programa Nuclear da Marinha, Programa de Desenvolvimento de Submarinos e Programa Nuclear Brasileiro). Temos uma demanda muito grande, desde a criação da empresa, em cima dos dois primeiros programas. Então, a comunicação da empresa sempre foi no sentido de destacar os benefícios desses dois programas para a sociedade.
Mas, na verdade, nós temos outro importante programa, que é o Programa Nuclear Brasileiro. Como eu citei, temos inúmeras possibilidades de negócios. Agora, já iniciamos com Angra 1 e temos ainda as conversas sobre Angra 3. Os negócios da área do PNB vão permitir que a empresa mude a sua comunicação com a sociedade, mostrando que os benefícios da Amazul não estão restritos à área militar. Por exemplo, ao meu ver, o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) é o projeto de maior impacto social.
Outra estratégia é o que eu chamo de “traduzir a Amazul em números”. A companhia tem um ativo intangível muito grande, que está dentro do nosso corpo técnico. Hoje, contamos com cerca de 1.850 empregados, a maior parte deles está envolvida no desenvolvimento de tecnologia. Esse corpo técnico tem um valor muito alto. Por exemplo, quando é feito um exame de tomografia, muitas vezes isso não é quantificado. Existe uma dificuldade, principalmente para a sociedade, de enxergar que por trás de um radiofármaco existe um grande trabalho por parte de empresas.
Vamos agora começar a fazer esse trabalho de traduzir a empresa em números, permitindo que a sociedade e o próprio governo visualizem a Amazul de uma forma mais tangível, analisando números e resultados.
O senhor mencionou na última resposta que o RMB é o projeto de maior impacto social. Pode enumerar os principais?
O RMB, como o seu nome sugere, é um reator que tem múltiplos propósitos. A partir dele será possível produzir radioisótopos, que têm várias aplicações na agricultura, na conservação de obras de arte e documentos antigos, e até mesmo na medicina nuclear. Particularmente, eu vejo que esse projeto do RMB é o de maior impacto positivo na sociedade em relação a todos os outros que estão sendo produzidos no país – e que são igualmente importantes.
Hoje, nós importamos integralmente todos os radioisótopos para produção de radiofármacos no país. O custo é alto. Temos uma estimativa de 15 milhões de dólares por ano na importação desses radioisótopos. Além disso, é uma importação bastante complexa, porque uma fonte radioativa sai do seu país de origem e faz uma viagem até o Brasil. Em algumas ocasiões, ela já chega em um nível de radiação baixo e não pode ser mais ser aproveitada. Existe algum desperdício nisso muitas vezes. Então, são gastos mais recursos para que esse radioisótopo saia com maior capacidade de radiação, para que chegue aqui ainda com um volume de radiação que possa ser aproveitado.
Sendo assim, o fato de produzirmos os radioisótopos no país, na proporção que o RMB se propõe, representará uma economia na importação. Vamos nos livrar do problema logístico, porque o radioisótopo produzido no Brasil será transformado aqui mesmo em radiofármaco, em uma quantidade muito superior à que hoje importamos.
O que mudará na área brasileira de saúde a partir da entrada em operação do RMB?
Só para você ter ideia, dos cerca de 15 milhões de dólares que gastamos com a importação de radioisótopos, conseguimos realizar cerca de 2 milhões de procedimentos. Esse número, em função do tamanho da população brasileira, é muito pequeno. Os benefícios do radiofármaco para a sociedade não têm alcance social completo. Ou seja, não alcança a todos que precisam desse tipo de medicina nuclear. O RMB vai permitir o benefício da medicina nuclear a um número muito grande de brasileiros.
Além disso, o RMB possibilitará a redução do custo na produção de radiofármacos, porque deixaremos de importar. O custo vai ser reduzido tremendamente e a produção será bem maior do que a atual, expandindo a medicina nuclear para diversos brasileiros. Só para você ter uma ideia, a informação que eu tenho é que cerca de somente 25% da produção de radiofármacos vai para o Sistema Único de Saúde. Todo o resto é enviado para a rede privada.
Há ainda em andamento um projeto para o desenvolvimento de um coração artificial, em parceria com o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Gostaria que falasse sobre isso.
Esse, talvez, seja o primeiro pontapé na direção da diversificação de atuação da empresa. Esse projeto tem uma história muito interessante. Vou falar rapidamente do seu histórico. Há cerca de 8 anos, o Instituto Dante Pazzanese procurou o Centro de Tecnologia da Marinha em São Paulo, pedindo auxílio no desenvolvimento de um motor elétrico para um dispositivo auxiliar ventricular. Este dispositivo é implantado no paciente que tem insuficiência cardíaca.
Foram feitos dois motores iniciais e entregues ao Instituto Dante Pazzanese. O projeto, porém, ficou parado após o falecimento do Dr. Adib Jatene, que conduzia esse processo dentro do Dante Pazzanese. O instituto procurou a Amazul porque teve a informação de que as pessoas que trabalharam nesse projeto no passado, estão empregadas na Amazul.
Em que fase se encontra?
Nós levantamos todo histórico e o pessoal já iniciou o trabalho de desenvolvimento desses pequenos motores que vão dotar esse dispositivo auxiliar ventricular.
Vamos produzir cerca de 4 ou 5 motores, que serão montados em uma carcaça de titânio lá no próprio instituto. Serão feitos os testes em porcos. A partir desse primeiro teste, eles poderão fazer ainda alguma alteração no projeto. Depois, vamos partir para uma segunda bateria de testes. Uma vez aprovados e certificados pelos órgãos brasileiros do setor, vamos buscar uma empresa que venha produzir os dispositivos completos.
A nossa estimativa é de produzir o motor com preço muito abaixo do similar importado, cujo preço gira em torno de US$ 100 mil a US$ 150 mil cada. Acreditamos que possamos produzir no país um motor com um valor muito abaixo disso. A informação que nós temos é que cerca de 300 mil brasileiros estão na fila para transplante e, muitas vezes, não resistem a essa espera. Podemos atender cerca de quase 300 mil brasileiros, que terão uma sobrevida muito melhor com esse dispositivo, sem ter a necessidade de ficar na fila enfrentando essa espera.
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