PROTESTOS DOS AGRICULTORES EUROPEUS PODEM AFETAR E MUITO A ECONOMIA NO BRASIL. EM PORTUGAL, TRATORES FECHAM O ACESSO À LISBOA

Os protestos dos agricultores europeus interessam e muito à economia do Brasil e, principalmente, a perna forte que está equilibrando o superavit da balança comercial brasileira: o agronegócio. Além de todas as reivindicações em relação ao subsídio à produção, fim dos impostos para produzir alimentos, os agricultores querem também sobretaxas à importação de produtos semelhantes aos produzidos na Europa e o fim das negociações para o acordo entre a União Europeia e o Mercosul para um mercado comum. O protecionismo dos países voltou forte e parece ser o início do do fim do mercado globalizado. Paris continua cercada por tratores e caminhões; Grécia, Holanda, Itália, Alemanha e Bélgica,  registram protestos que já duram alguns dias e já há desabastecimento nos supermercados e indústrias parando porque os insumos não chegam. Na Espanha, os agricultores prometem iniciar os protestos na segunda-feira. Em Portugal, os tratores impedindo o tráfego já se aproximam de Lisboa.

Os agricultores portugueses, já no segundo dia de protestos estão chegando perto da capital, Lisboa, provocando engarrafamentos nas rodovias A-33 e A-5 entre o Monte da Caparica e Alcochete. No início da manhã de hoje (2), alguns acessos à famosa Ponte Vasco da Gama foram interditados por precaução. Mais de 100 tratores e máquinas agrícolas estão numa marcha lenta na Estrada Nacional (EN) 109 em Estarreja, no distrito de Aveiro. Organizado pela União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro (UABDA), o protesto surge um dia depois de o Governo ter garantido que a maior parte das medidas do pacote de apoio aos agricultores portugueses, que foi anunciado na quarta-feira, com mais de 400 milhões de euros de dotação, entra em vigor ainda este mês, com exceção das medidas que estão dependentes de ‘luz verde’ de Bruxelas, onde fica a sede na União Europeia.

Os agricultores dizem que os apoios prometidos pelo Governo não são suficientes para resolver os problemas do setor que dizem estar vivendo uma situação crítica. “Os fatores de produção têm vindo a subir de tal ordem que não há ninguém que consiga viver na agricultura. Tenho três filhos e nenhum deles trabalha na agricultura. Não ganham suficiente e buscam alternativas. Imaginem o futuro. Antigamente a agricultura era uma profissão como outra qualquer. Hoje se tem vergonha”, disse Carlos Alves, Presidente da UABDA. “Não nos interessam linhas de crédito, nem subsídios. Queremos só um preço justo à produção. Só vamos sair daqui quando a ministra nos der resposta a isso. Os apoios prometidos pelo Governo não passam de migalhas. Parte do que o governo vem anunciando já estava destinado aos agricultores”. Ele disse também que “No fundo isto acaba por ser uma grande encenação de desmobilização do movimento dos agricultores que estão  reivindicando.  Estes apoios só beneficiam os lobbys da agroindústria enquanto os pequenos e médios agricultores, que estão sofrendo na pele, são deixados de lado”.

As largas dezenas de tratores formam fila de vários quilômetros, prejudicando o trânsito  que dá acesso às autoestradas A1 e A29 e  o acesso aos hipermercados. Com bandeiras da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), os agricultores ostentam mensagens reivindicativas como “O nosso fim é a vossa fome” e “mais respeito pelos agricultores”. A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, vai reunir-se nesta sexta-feira por videoconferência com representantes dos agricultores, na Câmara de Alcochete. A reunião será realizada a partir das 13h, horário de Brasília, estando prevista a presença dos agricultores para a reunião nas instalações da Câmara Municipal de Alcochete, no distrito de Setúbal. Os protestos dos agricultores portugueses foram organizados pelo Movimento Civil de Agricultores, que se juntou às manifestações que têm ocorrido pela Europa.