PwC DESTACA POTENCIAL DO BRASIL NO MERCADO DE CARBONO E OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS NA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
O Brasil tem mais vantagens e fontes de oportunidade no contexto da transição energética do que ameaças e riscos. Essa é a avaliação do sócio e líder do setor de energia da PwC, Adriano Correia, nosso entrevistado desta segunda-feira (2). O especialista conta que a consultoria fez recentemente um trabalho para avaliar as principais oportunidades que o país pode aproveitar nesse cenário de transição. Com 40% das florestas tropicais do mundo, o Brasil é um dos destinos mais promissores para investimentos em compensação de carbono. “Estima-se que o país possa movimentar até US$ 45 bilhões nesse mercado. De fato, temos muito a oferecer nesse setor”, avaliou. Correia destaca que o país também tem grande potencial para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde a um custo altamente competitivo. No entanto, o Brasil precisa movimentar-se rapidamente, já que outras nações também estão trabalhando para competir por esses investimentos. “Quando analisamos relatórios anuais, percebemos um avanço acelerado na incorporação de renováveis na matriz global, assim como a chegada de novas tecnologias a custos baixos. Isso significa que, embora o Brasil tenha hoje o custo mais competitivo do mundo, essa vantagem pode não durar por muito tempo”, alertou. O entrevistado também fez reflexões sobre os desafios para garantir uma transição energética justa e igualitária para toda a população brasileira.
A transição energética é um processo crucial para o meio ambiente. No entanto, essa mudança na matriz energética também traz preocupações sociais significativas, o que leva o mundo a buscar formas de garantir uma transição energética justa. Poderia começar nossa entrevista abordando essa questão?
Essa não é a primeira vez que o mundo passa por uma transição energética. Já houve várias outras, mas todas as anteriores foram impulsionadas pela descoberta de uma fonte de energia mais eficiente e, muitas vezes, mais barata. Nas transições anteriores, a curva era declinante, ou seja, os preços tendiam a cair com o tempo. No entanto, a transição atual é diferente. Primeiro, porque não é motivada por uma nova fonte recém-descoberta, mas pela necessidade de reduzir as emissões. Como resultado, observamos uma curva de preços que tende a subir, pelo menos enquanto a tecnologia não evoluir, o que inevitavelmente resultará em aumento de custo.
Nosso receio é que as pessoas mais desfavorecidas sejam as mais impactadas, seja pelo aumento de preços (que reduzirá a capacidade dessas pessoas de consumir e ter acesso a condições básicas), seja pelos eventos climáticos. Quando analisamos as populações mais afetadas por eventos climáticos, geralmente são aquelas mais vulneráveis, que não têm condições de ter um plano B ou alternativas viáveis.
A desigualdade social é, de fato, um problema que afeta o acesso da população a fontes de energia. No Brasil, por exemplo, a pobreza energética ainda atinge uma parcela significativa da população. Quais são as alternativas para reverter esse cenário?
Estudos indicam que 25% das residências no país ainda utilizam lenha para cocção, o que é um número absurdamente alto. A lenha ainda é amplamente usada por populações de baixa renda, especialmente no Norte e Nordeste. De fato, não vamos resolver o problema ambiental trocando lenha por gás ou eletrificação nessas residências, pois a quantidade de emissões, em valores absolutos, é muito baixa. No entanto, é crucial destacar o impacto na saúde pública. No mundo, cerca de 3 milhões de pessoas morrem anualmente devido ao uso da lenha, um número superior ao causado pelos conflitos na Ucrânia e em Gaza juntos.
Acredito que precisamos desenvolver projetos que incluam essas populações em condições econômicas desfavoráveis. Por exemplo, em projetos de parques eólicos em comunidades do Nordeste, notamos um aumento significativo no IDH dessas localidades, o que gera riqueza e eleva a renda. No entanto, isso ainda não é suficiente, especialmente considerando a vasta extensão do Brasil, que demanda planos específicos para reduzir a pobreza energética.
Existe, no entanto, uma oportunidade interessante: combinar o investimento em energias limpas com a substituição de fontes que ainda causam a morte de muitas pessoas, como a lenha. O grande desafio para viabilizar esses planos ainda é econômico. Precisamos repensar os subsídios, revisando quais tecnologias realmente necessitam deles, para garantir uma alocação mais racional e eficiente dos recursos. Isso já seria um bom começo. Além disso, ao considerar os investimentos estrangeiros, poderíamos vincular esses recursos a questões sociais. Precisamos ser mais criativos na forma como lidamos com essas questões.
Como as vantagens competitivas do Brasil podem ajudar o país a realizar uma transição energética justa?
O Brasil possui uma oportunidade ímpar. Ao analisar a matriz energética global, o país se destaca por ter cerca de 50% de energia renovável em sua matriz, enquanto a média mundial é de menos de 20%. Comparando as características da nossa matriz com as de outras regiões, vemos que temos a chance de fortalecer a chamada economia verde. Nossos principais desafios energéticos estão nos setores de transporte e industrial, que são relativamente mais fáceis de transitar para energias limpas. Além disso, o Brasil possui grande capacidade e conhecimento na produção de biocombustíveis e biogás, e também na produção de hidrogênio a um custo mais competitivo.
Outro aspecto importante é o potencial inexplorado do mercado de carbono no Brasil. Enquanto em algumas partes do mundo, como a Europa, esse mercado já está mais desenvolvido, o Brasil, que detém 40% das florestas do mundo, seria um destino natural para investimentos em sustentabilidade, especialmente em projetos de compensação de emissões.
A PwC tem alguns dados que ajudam a retratar o potencial de oportunidades no Brasil relacionadas à transição energética?
A PwC realizou um brainstorm para avaliar os custos e as oportunidades da transição energética no Brasil. Chegamos à conclusão de que há muito mais vantagens e oportunidades para o país do que ameaças ou riscos. O Brasil é um dos destinos mais promissores para investimentos em compensação de carbono. Estima-se que o país possa movimentar até US$ 45 bilhões nesse mercado. De fato, temos muito a oferecer nesse setor. Além disso, o Brasil conta com uma das primeiras bolsas de carbono do mundo, a Moss, que movimenta cerca de US$ 2,5 milhões diariamente através de seus contratos inteligentes de carbono.
O país também tem grande potencial para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde a um custo altamente competitivo. A oferta combinada de geração solar e eólica de baixo custo nos mesmos locais permite que as plantas brasileiras tenham uma utilização superior a 70%, um número que supera quase qualquer outra região do mundo. A eletrificação da economia e a descentralização do sistema elétrico têm incentivado investimentos relevantes em armazenamento, tanto no hidrogênio quanto em outras inovações e tipos de bateria, que devem ter aplicações crescentes e criar ainda mais valor.
No entanto, é crucial que nos posicionemos rapidamente. Quando analisamos relatórios anuais, percebemos um avanço acelerado na incorporação de renováveis na matriz global, assim como a chegada de novas tecnologias a custos baixos. Isso significa que, embora o Brasil tenha hoje o custo mais competitivo do mundo, essa vantagem pode não durar por muito tempo. Precisamos agir rapidamente para atrair esses investimentos e não perder essa oportunidade.
Como a PwC pode ou pretende contribuir com o Brasil nessas discussões sobre transição energética justa?
Nós, na PwC, temos atuado principalmente em duas frentes. Primeiro, estamos defendendo o país em fóruns internacionais, destacando os potenciais que enxergamos para o Brasil. Mostramos como o país pode contribuir para uma atividade mais verde e sustentável em comparação a outros territórios, com o objetivo de atrair os investimentos necessários para reduzir as emissões.
A segunda frente em que atuamos, mais no nível micro, é auxiliando empresas na revisão de suas estratégias de negócios. Ajudamos a montar planos de negócios, avaliando a viabilidade e rentabilidade dos projetos, sempre trazendo uma visão que vai além dos aspectos econômicos e financeiros. Acreditamos que é essencial garantir que essa transição energética seja justa, sem deixar para trás as pessoas mais necessitadas.
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