QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS GANHAM PRIORIDADE EM NOVOS PROJETOS DE GASODUTOS
Calgary – CA – A linha de operação de gasodutos, com termos como segurança, integridade e gestão, foi um dos pontos mais abordados durante a International Pipeline Conference (IPC), que acontece em Calgary, no Canadá. Ainda assim, uma tendência que chamou atenção nessa feira, fruto de um processo que vem acontecendo em todo o mundo, é uma preocupação maior com os impactos socioambientais que os novos projetos de gasodutos podem gerar. Para o gerente geral de engenharia para empreendimentos de gás e energia da Petrobrás, Celso Araripe, nos últimos anos a indústria global tem ficado mais atenta aos anseios da sociedade e aos riscos ambientais de novos empreendimentos, principalmente depois de alguns vazamentos ocorridos nos Estados Unidos. “As empresas tem tentado trazer os projetos para maior participação popular, ainda na fase inicial. No Brasil nós fazemos isso através das audiências públicas, que já acontecem há bastante tempo”, ressalta. Celso conta ainda que viu algumas novas tecnologias interessantes durante a feira, que podem ser levadas ao Brasil, e adiantou que já estão preparando algumas apresentações para a Rio Pipeline 2015.
Quais são as suas impressões sobre a feira?
Eu vim em 2008, 2010 e esse ano estou na minha terceira vinda. Estão sendo discutidas muitas questões relacionadas a confiabilidade, travessia e cruzamento, uma série de debates sobre erosão e vazamento, muito também sobre automação e medição. A feira está muito focada nessa linha de operação. Algumas linhas novas estão discutindo muito a questão social, que aqui no Canadá está sendo bastante discutida, diferente de outras edições. Estão vendo o lado da sociedade, e a sociedade também tem interesse na questão, como a questão do gasoduto nos Estados Unidos, depois o vazamento na Califórnia e dois vazamentos de petróleo em rios. A sociedade tem feito movimentos contra algumas obras especificamente, portanto a questão social tem tido bastante relevância.
Existe alguma proposta nova para atuação das companhias sendo sugerida na feira?
As empresas tem tentado trazer os projetos para maior participação popular, ainda na fase inicial. No Brasil nós fazemos isso através das audiências públicas, que já acontecem há bastante tempo. Aqui parece que eles avaliam muito o projeto, passando pelos governos municipal, estadual e federal, para, somente mais a frente, consultar a população. A comunidade opinava, mas, na maioria dos casos, suas demandas não eram atendidas. Aqui no Canadá tem o caso emblemático dos índios locais, que são muito organizados e fazem campanhas através da mídia contra projetos que não atendem às suas demandas.
Que tipo de contribuição a Petrobrás deu para os trabalhos que estão na feira?
São dois trabalhos da Transpetro, um deles sobre treinamento de pessoal novo e o outro sobre falhas e defeitos, sobre como melhorar a maneira de se reportarem esses erros. No primeiro, o treinamento era “on the job”, um trabalhador experiente, engenheiro, grava uma aula e, somado ao livro digital, simulações de equipamento e instalação no computador, o aluno interage com o equipamento, percebe falhas e etc. Também teve o trabalho sobre o HDD do Rio Solimões, em que foram comentados os problemas técnicos, construtivos e de logística.
A Petrobrás trouxe bastante gente para a conferência?
Sim. Pessoas da área de Engenharia, da Transpetro, do Cenpes e da TAG. Alguns com trabalhos sendo apresentados, como um sobre dutos submarinos e outro que recebeu o prêmio da Rio Pipeline, sobre o tratamento no Rota 2. São trabalhos extremamente técnicos e de alto nível.
Como vê a interação entre Canadá e Brasil?
São mercados diferentes, com um crescimento da produção canadense de Oil Send, do Tight Oil e do Shale Gas, como são chamados por aqui. Inclusive, pude ir a uma palestra aqui sobre a implantação de um gasoduto, vindo do litoral, na British Columbia, até Alberta. Ainda há algumas questões ambientais e de comunidade indígena sendo tratadas. Seriam exportados mais de 500 mil barris de petróleo. Trabalhos de travessia já são feitos entre 15 e 20 anos no Brasil, e agora está começando o mesmo movimento aqui no Canadá.
Em relação à feira de equipamentos, algo novo?
Vi um projeto que consiste em apoiar tubos em rochas, em que eles fazem peso para abaixar a linha em áreas inundadas. É o chamado pipe pillow, feito um travesseiro de polietileno. O representante da empresa está aqui na feira e parece estar interessado em levar essa tecnologia para o Brasil. Outro projeto interessante é o de inspeção interna por meio de ultrassom, que inspeciona internamente a solda já deixando tudo digitalizado. Também tem o que faz isso através de radiografia.
Qual a expectativa do senhor para a Rio Pipeline?
Muito boa. Estamos cogitando apresentar um trabalho sobre travessias que estamos refazendo no Nordeste. O duto está com uma condição de risco maior do que a Transpetro aceita, quanto à erosão. Estamos lançando o cavalote novo mais longo, mais fundo. Primeiro ele cobre a linha, interrompe o fluxo, desconecta o pedaço e solda o trecho novo. Isso já está sendo feito no Rio Paraíba por nós. Isso começa a ser feito aqui no Canadá, mas nós já fazemos há muito mais tempo.
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