PRÉ-SAL E DESINVESTIMENTOS DA PETROBRÁS SÃO PEÇAS-CHAVE PARA RETOMADA DO SETOR DE ÓLEO E GÁS
Os vários recordes de produção obtidos pelo pré-sal no ano de 2016 simbolizaram a chama da esperança de dias melhores no setor de óleo e gás brasileiro. Com o final do ano se aproximando, a expectativa do empresariado brasileiro é de que o pré-sal continue sendo uma das portas de saída para a crise em 2017. Os números vêm comprovando a viabilidade do pré-sal e o fim da obrigatoriedade da Petrobrás ser operadora única de campos desta região configuram um cenário promissor para novos investimentos e negócios. Este é o sentimento de esperança demonstrado pelo vice-presidente de Óleo&Gás da Schneider Electric da América do Sul, Luis Felipe Kessler, que vê o pré-sal como uma oportunidade tanto em termos de qualidade quanto de quantidade de produção. O executivo está otimista quanto a 2017, mas afirma que o próximo ano ainda será carregado de algumas incertezas no setor.
O diretor da divisão industrial da Voith, Cristiano Oliveira, também acredita que 2017 começará ainda com algumas indefinições, mas espera por uma retomada de negócios a partir do segundo semestre. Ele sugere que o País precisa comprovar que está trabalhando para aumentar sua credibilidade e confiança frente aos investidores. Por fim, o diretor de desenvolvimento de negócios da NauticAWT no Brasil, Eric Correia, afirma que os desinvestimentos feitos pela Petrobrás vão beneficiar o mercado e, por isso, devem continuar. O executivo também afirma que o Brasil precisa criar condições mais atraentes para o desenvolvimento de operadores independentes no pós-sal e em campos terrestres.
Veja a seguir as opiniões dos três convidados do Petronotícias, em mais uma edição da série Perspectivas 2017.
Luis Felipe Kessler, vice-presidente de Óleo&Gás da Schneider Electric da América do Sul
Como analisa os acontecimentos de 2016 em seu setor?
O setor passa por um novo momento e protagoniza grandes desafios no Brasil. A Petrobrás está passando por uma grande reestruturação. Novas empresas entram no mercado, outras se consolidam – enfim, uma nova configuração está surgindo para o mercado brasileiro.
O mercado se moveu rapidamente de grandes investimentos para eficiência operacional, onde a eficiência energética e a otimização das operações com aumento de segurança e confiabilidade se tornaram a prioridade. Tecnologia e softwares de otimização são as ferramentas fundamentais para que as empresas de petróleo ajustem suas operações aos novos preços do barril.
Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
O Brasil é estratégico para esse setor. As grandes empresas globais estão no Brasil operando já há alguns anos, estabilizadas de forma sólida e com visão de longo prazo. As ações de desinvestimento da Petrobrás abrem novas oportunidades na cadeia de produção, transporte e distribuição de petróleo e deve atrair novos operadores, mudando o mercado brasileiro de forma significativa.
O pré-sal tem provado sua viabilidade e está se tornando uma das maiores oportunidades para as empresas em termos de qualidade e quantidade de produção. As tecnologias avançam e reduzem dia a dia o custo de exploração e produção.
O mercado está otimista, atento aos movimentos do governo e confiante na nova diretoria da ANP para que sejam feitos ajustes e definição de regras claras. É importante que o Brasil transmita segurança.
Quais as perspectivas para 2017? Pessimistas ou otimistas?
Temos a visão que em 2017 o mercado de petróleo e gás permanecerá ainda volátil, incerto, complexo e ambíguo. Crescemos globalmente neste ambiente em 2016 e permanecemos otimistas para 2017.
A Schneider Electric está no Brasil há quase 70 anos. Já passamos por muitos desafios e continuamos aqui, investindo e acreditando no potencial do País.
Para se tornarem mais competitivas, as empresas precisam aumentar a eficiência, a segurança e a confiabilidade de suas operações. A Schneider é uma empresa de tecnologia que desenvolve soluções integradas para a eficiência dos diversos processos da cadeia de Petróleo. Somos especialista global em eficiência energética. Dispomos de softwares que vão desde a simulação completa dos processos, gestão de ativos e gestão móvel de manutenção preventiva. Estamos presentes com automação de processos, automação elétrica, salas elétricas pré-fabricadas (E-House), soluções Smart Field e soluções para gestão completa de pipelines.
Cristiano Oliveira, diretor da divisão industrial da Voith
Como analisa os acontecimentos de 2016 em seu setor?
De uma maneira geral, a indústria brasileira sofreu bastante com o cenário político-econômico do Brasil e, especificamente, o mercado de Óleo & Gás, devido ao baixo preço das commodities. Essas dificuldades foram, por consequência, sentidas de maneira acentuada pelas empresas fornecedoras de equipamentos e serviços à Indústria Petrolífera. Notamos uma postergação de investimentos em projetos novos e reformas, que impactaram o nível de atividades nesse setor comparando-se aos anos anteriores.
Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
O Brasil precisa dar demonstrações claras de que estamos, governo e mercado, atuando de maneira a reduzir a volatilidade e dar mais credibilidade e confiança para a retomada de investimentos. Os planejamentos de médio e longo prazo precisam ser revistos de forma detalhada e realista, para que todos tenham uma visão mais clara das perspectivas e possam se antecipar às demandas, visando à retomada de crescimento.
Quais as perspectivas para 2017? Pessimistas ou otimistas?
O ano de 2017 deve começar ainda cheio de incertezas e com ajustes a serem feitos. No entanto, existe a expectativa que, a partir do segundo semestre, tenhamos uma incipiente retomada de projetos com o consequente estancamento de cortes e reduções, de forma que o ano feche com um cenário melhor do que 2016.
Eric Correia – Diretor de desenvolvimento de negócios da NauticAWT no Brasil
Como analisa os acontecimentos de 2016 em seu setor?
Muitos dizem que 2016 foi um ano para esquecer. Realmente este foi um ano muito ruim para o setor de óleo e gás, mas entendo que foi apenas a consequência terrível de erros e abusos cometidos nos anos anteriores com diversas escolhas erradas por parte do governo com a Petrobrás. Posso listar como exemplo, a concentração de cerca de 45% dos investimentos entre 2010 e 2014 destinados ao downstream, mais precisamente na construção de refinarias (Comperj e Abreu Lima) ao mesmo tempo, que não foram concluídas e que tem previsão de VPL positivo apenas no final de sua vida útil. A conta deste erro no passado iria estourar em algum momento, e foi algo reconhecido inclusive pelo Pedro Parente no seu discurso de posse na Petrobrás como um erro.
Somando a isto, temos a corrupção em graus altíssimos dentro da Petrobrás, conforme revelada pela Lava-Jato, e a redução do preço do barril de petróleo à nível mundial. Como consequência, vivemos a tempestade perfeita que afetou profundamente o nosso mercado e país como um todo. A queda da cotação internacional do barril de petróleo já afetaria por si só a arrecadação dos royalties sobre a produção e já faria sangrar estados e prefeituras, mas, com a sucessão de erros e descalabros que transformaram a Petrobrás em uma empresa muito endividada, tivemos um impacto altíssimo em toda a cadeia de óleo e gás, que naturalmente habitava ao redor dela e dependia bastante das demandas da mesma. Muitas pessoas perderam seus empregos, muita empresa séria fechou e tudo isto também foi potencializado pelo erro daqueles que controlavam os negócios e tomavam as decisões no nível mais alto da pirâmide. Sem dúvida, 2016 não vai deixar saudades para a maioria, mas não devemos afirmar que este foi um ano para esquecer. Temos que registrar e aprender com as lições que ficaram com a crise. Temos que seguir em frente e não cometer de novo os mesmos erros.
Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
Temos muita coisa para mudar, muito a desenvolver e deixar de ser o tal do “país do futuro”, pois do jeito e velocidade que caminhamos, este futuro nunca chegará. Temos uma grande oportunidade em transformar esta crise em algo positivo e que possamos nos orgulhar amanhã quando olharmos para trás e entendermos que este expurgo forçado pela crise nos fez pessoas e empresas melhores, nos transformou em uma sociedade mais justa. Porém, sendo menos genérico, e focando no setor de óleo e gás, entendo que algumas soluções já começaram a serem postas em prática pelo novo governo, embora ainda falte muito a ser feito. Por exemplo, além do foco no pré-sal, que já se mostrou extremamente rentável e promissor e o fim da obrigação da Petrobrás na participação de todos os campos, o que deve favorecer novos entrantes e re-aquecer a economia, o governo deveria criar condições menos hostis para o desenvolvimento das operadores independentes, tanto no pós-sal quanto em campos exploratórios e em produção em terra. Vislumbro um mercado bem promissor com os campos maduros/marginais tanto onshore quanto offshore e tenho certeza que a venda destes ativos para empresas menores do que a Petrobrás e demais grandes operadoras irá fomentar o mercado, principalmente no Nordeste do Brasil.
Em adição a isto, todo o processo de desinvestimento por parte da Petrobrás é de certo modo benéfico ao mercado e deve prosseguir, pois irá trazer novas empresas que irão mexer no mercado como um todo, porém estas vantagens precisam ser divulgadas com mais afinco, com maior evidência, para reduzir a resistência de quem se opõe exatamente por não saber dos ganhos com esta abertura do mercado.
Por fim, temos também a possibilidade de estudar e melhorar a regulamentação de Conteúdo Local. Temos que ter muito cuidado como conduzir a alteração das regras de conteúdo local, para não aniquilar de vez também os competidores locais, mas ao mesmo tempo não podemos permanecer da forma que estamos hoje. Eu acredito no meio termo, sem a regulação travada que tínhamos no passado, mas também sem destruir a indústria que gera empregos no país. O nosso mercado precisa de competição e regras justas para quem está vindo de fora e para quem já está por aqui. A flexibilização é importante e deve ser conduzida com seriedade e serenidade e com publicidade para a sociedade como um todo. A extensão do Repetro é algo que deve ser priorizado também.
Quais as perspectivas para 2017? Pessimistas ou otimistas?
Nos mantemos otimistas, acreditamos no prosseguimento do desinvestimento de ativos por parte da Petrobrás, sabemos que o processo não é simples e terá algumas pausas devido a natural judicialização por parte daqueles que não concordam com este movimento. Mas mesmo assim, continuamos convictos, enquanto brasileiros, que as mudanças são positivas para o mercado de óleo e gás como um todo e devem ser intensificadas. Já temos questões importantes sendo endereçadas pelo governo e sabemos que tem muito a ser feito ainda para poder destravar o setor e abrir para investimento externo. O Brasil é atraente para investimentos externos, e os investimentos neste setor são de longo prazo, basta ajustar os meios e demonstrar segurança para que o investimento venha.
A queda do preço do barril apesar de todo o estrago e crise no setor, trouxe a oportunidade das empresas melhorarem os seus processos e se tornarem mais competitivas, mais eficientes na redução de custos do que eram quando o petróleo se posicionava na casa dos cem dólares por barril. Este tempo passou, temos que estar prontos para a nova realidade. Há potencial para crescermos de novo, basta termos um cenário mais previsível e estável, e sem dúvida, os investimentos virão e a economia voltar a se desenvolver. Precisamos disto.
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