REUNION ENGENHARIA VÊ AUMENTO DA DEMANDA POR PROJETOS NO SETOR DE ETANOL E BUSCA NOVAS OPORTUNIDADES EM BIOMASSA
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
Enquanto a área de óleo e gás e o setor elétrico andam aos trancos e barrancos, tentando sair de qualquer jeito da paralisação que tomou conta da indústria, a área de açúcar e etanol vem se saindo bem no cenário nacional, com muitos projetos de ampliação de usinas em andamento. A empresa Reunion Engenharia, que está completando 23 anos em 2016, é uma das que têm aproveitado o bom momento, e seu presidente, Tércio Dalla Vecchia, conta que existe um grande interesse de investidores internacionais pela compra de negócios endividados no Brasil. Para ele, esses recursos estão contingenciados, na mão de asiáticos, europeus e árabes, entre outros, que esperam apenas a estabilização política do País para darem os passos seguintes. “Estão todos como corredores de 100 metros rasos, esperando apenas o tiro para começarem a correr”, diz.
Além disso, Dalla Vecchia detalha o interesse em ampliar a participação da Reunion em projetos de biomassa, mas ressalta que para isso é preciso alguma política específica de incentivo do governo ou um novo aumento nos preços da energia, que caiu bastante após os momentos de pico do ano passado. Em paralelo, a empresa vem conquistando novos contratos importantes no exterior e fechou recentemente acordos para o desenvolvimento de projetos de novas usinas na Nigéria, na Bolívia e no Peru.
Quais são os principais projetos da Reunion em desenvolvimento atualmente?
Nós fizemos diversos greenfield de produção de açúcar, etanol e energia, mas nos últimos dois anos não houve nenhuma implantação de projetos novos, apenas de ampliações. Houve uma mudança muito grande no mercado de açúcar e álcool, com uma parada geral, e agora está havendo uma retomada. Temos feito ampliações para Raízen, Bunge, Zilor, entre outras.
Como está esse mercado no momento para vocês?
Como a cana dá os três produtos, existe uma guerra entre eles. O etanol geralmente acompanha mais ou menos o preço da gasolina e há competitividade para ele – com a exceção do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul –, principalmente em São Paulo. Como a gasolina subiu muito, inclusive em função da volta da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), isso deu uma boa alavancada na indústria de etanol, com uma tendência de crescimento da produção para atender a esse mercado. Além disso, o preço do açúcar está muito bom também, com um lucro superior ao etanol. Já a energia é outra questão. Estávamos num momento de falta generalizada de energia e o preço foi lá em cima, mas hoje caiu bastante.
A demanda por geração a partir da biomassa tem crescido?
O Brasil tem 370 usinas açúcar e etanol e todas produzem energia. As que exportam para o sistema interligado nacional são 170. Então existe um potencial de expansão muito grande, em várias frentes. Uma delas é a partir dessas usinas que já exportam, pela geração a partir da palha, além do bagaço. Desse total, apenas umas 30 usam a palha. Além disso, tem as que poderiam ampliar a capacidade e exportar para o sistema nacional. Então tem um potencial muito grande de expansão. A geração de energia com a biomassa poderia ser multiplicada por 10 no país, não só com as usinas de cana, mas de várias outras fontes.
Hoje o problema é o custo, mas acredito que o governo está pensando nisso e deve melhorar as condições. O problema é que, como as represas encheram, deixou-se um pouco de lado isso, sem planejamento.
Como a empresa tem se organizado para lidar com o cenário de crise no país?
O setor de açúcar, álcool e energia está numa condição mais confortável. As empresas que estão devendo não saem do buraco e fatalmente vão ser vendidas para multinacionais. É uma judiação, mas é a única forma de salvá-las. Tem muita gente procurando. Grupos chineses, coreanos, árabes, europeus etc. O mundo inteiro está de olho nesse mercado. São usinas que vão ser compradas baratas, e eles conseguem uma condição de negociação da dívida muito melhor que os grupos brasileiros. Isso é uma mudança radical que está ocorrendo no setor, porque a indústria sempre foi baseada em grupos nacionais. O que está brecando um pouco as negociações é a situação instável da política brasileira.
Para vocês, como isso está se refletindo?
Está melhorando significativamente. Porque tem os grupos que têm suas dívidas organizadas e estão ganhando dinheiro. Eles estão investindo, entrando numa fase de bonança, e nós estamos recebendo isso. Estamos fazendo um número assustador de propostas, porque os clientes estão solicitando que a gente faça a engenharia básica de muitos projetos de ampliação. Não tem projetos de usinas novas atualmente. É muito mais barato e cômodo ir ao mercado, comprar uma usina e fazer a ampliação dela.
A busca por projetos no exterior tem aumentado com a situação do mercado nacional?
Houve um trabalho maior de marketing em cima de empresas estrangeiras. Temos contratos sendo fechados com grupos da África e da América Latina, em países como Nigéria, Bolívia e Peru. Para novas usinas nos três casos. O objetivo maior nesses países é a produção de açúcar. Quando falamos de cana, tem uma série de outros produtos agrícolas que também estão sendo estudados para a geração de energia, como sorgo energético, capim-elefante, cana-energia (uma cana com maior teor de fibras do que a convencional), que são culturas destinadas exclusivamente à geração de energia. Só não há um avanço pelos preços baixos atuais da energia.
Qual foi o faturamento da Reunion em 2015?
Em torno de R$ 12 milhões, lembrando que fazemos só o projeto e a consultoria.
Quais são as expectativas de negócios no curto e no médio prazo?
Assim que a área econômica estiver estabilizada e que todas as novas regras colocadas estejam em vigor, vai entrar muito dinheiro no Brasil. Nesse setor e em outros também. Tem muitas empresas internacionais com dinheiro na mão à espera dessa estabilização. Se a Dilma volta, isso vai ficar pior que a Venezuela. Vai todo mundo embora, inclusive eu. Estão todos como corredores de 100 metros rasos, esperando apenas o tiro para começarem a correr.
A empresa tem planos de diversificar sua atuação para outras áreas?
Não para outras áreas como um todo, mas, como éramos muito concentrados em açúcar e álcool, temos investido mais também em usinas de biomassa. Elas têm um papel fundamental na Europa, por exemplo. Existe um grande mercado por lá para isso. Os Estados Unidos e o Canadá estão vendendo muita biomassa para lá. Nós entraríamos exatamente na parte que envolve o processamento da biomassa para levá-la à Europa e ao mercado internacional em geral. Existe um grande grupo investindo na preparação de bagaço de cana para a exportação.
Óleo e gás é uma possibilidade?
É uma possiblidade. Já tentamos algumas vezes, mas nessa crise está ocorrendo o movimento contrário. Temos sido procurados por engenheiros da área querendo vir para o nosso setor. Hoje o caminho é o inverso. Está melhor em termos de perspectiva no setor de açúcar e álcool.
Qual o balanço que a empresa faz de sua trajetória nesses 23 anos, que estão sendo completados agora?
Primeiro eu falo que graças a Deus tenho uma vida muito saudável, que permitiu estar bem de saúde, dando boa educação para os meus filhos. E há 35 anos trabalho com empresa de engenharia. É um setor de muitos altos e baixos, com momentos de euforia e depressão. Não tem caminhos suaves. Passamos talvez pela pior depressão que teve, mas acho que a perspectiva é positiva agora.
É um setor da economia com sua importância relativa e está preparado para ajudar o mundo – particularmente os países menos desenvolvidos – a implantar essas tecnologias, em que nós somos top no mundo. Esse talvez seja um motivo de orgulho, por ter participado nesse desenvolvimento tecnológico. Eu fiz uma pós-graduação em tecnologia de cana de açúcar nas Ilhas Maurício em 1977 e aquela turma que fez comigo teve uma participação importante nesse processo. Hoje estamos à frente do setor no mundo. Todos vêm buscar tecnologia aqui no Brasil.
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