ROSATOM VÊ PERSPECTIVAS POSITIVAS DE COOPERAÇÃO NO FORNECIMENTO DE SERVIÇOS DE RECICLAGEM DE COMBUSTÍVEL NUCLEAR USADO AO BRASIL | Petronotícias




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ROSATOM VÊ PERSPECTIVAS POSITIVAS DE COOPERAÇÃO NO FORNECIMENTO DE SERVIÇOS DE RECICLAGEM DE COMBUSTÍVEL NUCLEAR USADO AO BRASIL

DSC09687Em meio à corrida global por redução de emissões, vários países estão retomando ou acelerando seus respectivos programas nucleares, anunciando planos para construção de usinas movidas pela fonte atômica. Diante disso, os governos estão buscando contratos de longo prazo para o fornecimento de combustível nuclear. Além disso, dedicam atenção especial para a destinação do combustível irradiado – questão crucial que afeta significativamente a opinião pública e a aceitação de novos empreendimentos. De olho nessa oportunidade de negócios, a estatal russa Rosatom vislumbra que a reciclagem de combustível nuclear irradiado será muito importante para vários países, incluindo o Brasil. É o que afirma o presidente da Rosatom América Latina, Ivan Dybov, nosso entrevistado desta terça-feira (6). O executivo explica que a Rosatom possui soluções que podem reutilizar até 97% do material irradiado ao ciclo de combustível nuclear, minimizando assim os impactos ambientais. Outra vantagem é que o material mais perigoso presente no combustível nuclear irradiado, os chamados actinídeos menores, podem ser queimados e os resíduos restantes ocupam um volume significativamente menor. Além disso, o processo de reciclagem do combustível nuclear irradiado gera isótopos que podem ser usados na indústria e, por exemplo, na produção de geradores de calor. “Vejo boas perspectivas para essa tecnologia no Brasil, entre outras razões, porque há uma tendência crescente de empresas privadas obtendo o direito de participar do mercado de energia nuclear”, avaliou Dybov. Por fim, o executivo mostra otimismo com o futuro do setor nuclear brasileiro, enxergando oportunidades em diferentes nichos de mercado, tais como conversão, geração de energia em locais remotos e medicina nuclear.

Poderia falar da situação atual no mercado global de produtos e serviços do ciclo de combustível nuclear?

image2-editedEstamos presenciando um crescimento significativo nos preços de todas as principais fases da produção de combustível nuclear. Existem várias razões para esse crescimento. Os preços do urânio natural estão aumentando devido a fatores fundamentais objetivos – os depósitos de baixo custo são desenvolvidos primeiro, seguidos pelos menos eficientes, o que significa que o crescimento continuará no futuro. Os preços dos serviços de conversão e enriquecimento estão subindo em um contexto de déficit local na capacidade de produção, e essa questão provavelmente não será resolvida antes do início da próxima década.

Diante desse cenário, podemos destacar duas tendências no mercado global. A primeira delas é que governos, empresas e países, ao decidirem construir uma usina nuclear, já consideram desde o início onde vão obter o combustível nuclear e buscam fechar contratos logo no início do projeto.

A segunda tendência que observamos é que os consumidores atuais de urânio enriquecido estão fechando contratos de longo prazo. Por exemplo, nossos clientes que anteriormente fechavam contratos de 5 anos, agora estão assinando contratos de 10 anos ou mais. Isso acontece porque muitas empresas querem garantir capacidades disponíveis e seguras para o futuro, além de obter urânio enriquecido a um preço competitivo. Acreditamos que essa tendência também pode se aplicar ao Brasil. Para desenvolver a geração de energia nuclear no país, é muito importante ter acesso ao  urânio enriquecido a preços aceitáveis.

Como a Rosatom está se posicionando dentro deste cenário?

A Rosatom está oferecendo ao mercado o que chamamos de condições justas. Nossos parceiros também veem isso: recentemente, como resultado de uma licitação, a Rosatom assinou um novo contrato para fornecimento de urânio enriquecido com a estatal brasileira INB (Indústrias Nucleares do Brasil).

Assim, consideramos o Brasil um parceiro estratégico com o qual vemos uma base para uma cooperação abrangente e de longo prazo nesta área.

Outro tema importante relacionado ao setor é o fechamento do ciclo do combustível nuclear. De que forma a companhia está trabalhando nesse segmento?

rosatomComo já mencionei, quando os países começam a planejar novos projetos de usinas nucleares, eles consideram quem será o fornecedor e a que preço será fornecido o combustível para essas unidades. No entanto, uma questão importante é o que acontecerá com o combustível nuclear irradiado após anos de funcionamento de uma usina.

Essa questão é crucial, pois afeta significativamente a opinião pública e a aceitação de tais projetos. O público em geral frequentemente pergunta o que será feito com o combustível irradiado. Observamos uma tendência em projetos realizados pela Rosatom em outros países: nossos clientes querem resolver o problema da gestão de combustível nuclear logo após a decisão de construir uma usina nuclear. Em outras palavras, sem resolver a questão da gestão do combustível nuclear irradiado, o desenvolvimento da energia nuclear no mundo moderno torna-se impossível.

Recentemente, a Rosatom participou do simpósio da Seção Latino Americana da Sociedade Nuclear Americana (LAS/ANS), onde apresentou sua visão da realização de fechamento do ciclo do combustível nuclear baseado na reciclagem do combustível nuclear irradiado. A apresentação foi muito interessante e provocou muito debate entre os presentes.

A questão do combustível irradiado é, de fato, uma questão muito pertinente aqui no Brasil, já que o país não possui repositório definitivo para esse material. Ao seu ver, a reciclagem de combustível seria uma alternativa viável para o país diante desse contexto?

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Rosatom possui processo para queima de actinídeos menores em um reator de nêutrons rápido

Acreditamos que a reciclagem do combustível nuclear irradiado também é um tema muito importante para o Brasil. O país tem grandes planos para o desenvolvimento da geração de energia nuclear, tanto em usinas de grande potência quanto em usinas de pequeno porte. A Corporação Estatal Rosatom é uma empresa com experiência e capacidade para reciclar combustível nuclear, podendo devolver até 97% desse material irradiado ao ciclo de combustível nuclear.

Por exemplo, o urânio regenerado pode ser utilizado para a produção de novo combustível nuclear a um custo muito mais baixo na comparação com a produção de combustível nuclear a partir de urânio natural, o que é especialmente importante no contexto de aumento dos preços do urânio natural. Além disso, o processo de reciclagem do combustível nuclear irradiado gera isótopos que podem ser usados na indústria e, por exemplo, na produção de geradores de calor.

O material mais perigoso presente no combustível nuclear irradiado, que agora deve ser armazenado por milhões de anos, são os chamados actinídeos menores. A Corporação Estatal Rosatom possui tecnologias que permitem queimá-los em reatores de nêutrons rápidos. 

Outra grande vantagem é que, após o fracionamento do combustível irradiado e queima dos actinídeos menores, os resíduos restantes ocupam um volume significativamente menor e não contém substâncias tóxicas de longa duração, permitindo que o armazenamento seja feito a uma profundidade menor. Essa tecnologia é crucial, pois ao reduzir a toxicidade temos mais oportunidades de conservação preservando a natureza.

A Rosatom tem perspectivas de fornecer essa tecnologia de reciclagem de combustível ao Brasil?

867d8d2827a5677dcf5be7b46813ea80Anteriormente, aplicávamos essas tecnologias apenas em usinas nucleares de design russo. As plantas nucleares russas já estão funcionando com combustível de urânio regenerado e plutônio extraído do combustível nuclear irradiado. No entanto, agora estamos abrindo essa oportunidade para os projetos de design estrangeiro. Já iniciamos um diálogo com potenciais clientes, explicando as vantagens de nossa tecnologia, e estamos dispostos a realizar estudos de viabilidade para que o cliente possa ver como fica em relação às suas próprias condições e restrições, e quais benefícios específicos receberá da sua utilização.

Vejo boas perspectivas para essa tecnologia no Brasil, entre outras razões, porque há uma tendência crescente de empresas privadas obtendo o direito de participar do mercado de energia nuclear. Essas companhias querem ter unidades de potência para gerar energia, precisam de combustível para essas usinas e também buscam soluções para o armazenamento ou reciclagem desse combustível. Isso significa que elas precisam de um fornecedor confiável que possa oferecer esses serviços.

Seria interessante se pudesse explicar também aos nossos leitores que o combustível nuclear usado não perde totalmente o seu valor, podendo ser reaproveitado para outras aplicações.

3ddb5a280636b3b543004181cbe73544Em primeiro lugar, como já mencionei, ao reciclar o combustível irradiado, diminuímos a quantidade ou o volume desses resíduos, tornando-os também menos perigosos. Durante o processo da reciclagem gera-se urânio regenerado que pode ser utilizado para produzir combustível nuclear novo, o que é relevante para o Brasil.

Também durante o processo da reciclagem são produzidos vários isótopos que podem ser vendidos no mercado ou utilizados para fins específicos no Brasil como, por exemplo, na área dos testes não destrutivos. Hoje, esses isótopos são exportados do exterior. E graças ao nosso método de processamento, o Brasil teria a oportunidade de gerar esses isótopos para uso interno de forma independente.

Por fim, poderia compartilhar conosco qual a sua visão sobre o papel do Brasil no mercado nuclear global?

На Ленинградской АЭС провели успешAtualmente, todos estão de olho no Brasil, pois o país tem planos de desenvolver sua indústria nuclear. Um setor importante no qual o Brasil está avançando significativamente é o de medicina nuclear. O país tem planos de desenvolver essa área e, inclusive, de construir seu próprio reator para a produção de radiofármacos. Nós, da Rosatom, também participamos ativamente nessa área, e somos grandes fornecedores de matéria-prima para radiofármacos no Brasil.

Além disso, a INB tem planos de crescimento e mantém um diálogo constante conosco. Em primeiro lugar, os planos incluem o desenvolvimento da extração de urânio no país. Sabemos que a INB buscará parceiros estrangeiros para realizar projetos nessa área. O Brasil também quer se tornar um player no mercado global do ciclo de combustível nuclear e tem planos de desenvolver uma infraestrutura de conversão.

Posso dizer que o Brasil é pioneiro no campo de geração de energia em territórios isolados, assim como a Rússia. Enquanto a Rússia realiza essa integração em regiões muito frias, o Brasil faz o mesmo em regiões muito quentes. Isso é importante porque sabemos que o Brasil está trabalhando arduamente para oferecer soluções que integrem todas as regiões isoladas, sem produzir CO2 e com foco na proteção ao meio ambiente. Entre outras possibilidades, o governo brasileiro está considerando a integração da fonte nuclear para geração de energia nessas localidades remotas.

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