INVESTINDO FORTE EM ÓLEO&GÁS, SACCHELLI PLANEJA DOBRAR DE TAMANHO EM TRÊS ANOS
Por Rafael Godinho / Petronotícias –
Apesar do nome italiano, a Sacchelli foi criada em 1965 aqui mesmo no Brasil, onde atua há 47 anos no fornecimento de aço especial para diversos setores, entre os quais automobilístico e de construção naval, sendo hoje a líder brasileira no seu segmento. Satisfeito com as previsões seguras no setor de petróleo e gás natural, o presidente Wagner Sacchelli sustenta suas projeções com otimismo e anuncia que a empresa (que ostentou um crescimento de 30% no início deste ano) pretende agora dobrar de tamanho nos próximos três anos. Na entrevista abaixo, Wagner Sacchelli também falou sobre a situação do mercado mundial e criticou o temor de alguns executivos quanto ao incentivo da qualificação da mão-de-obra no Brasil.
Quem é a Sacchelli?
A Sacchelli é uma empresa familiar com 47 anos de Brasil, que começou com meu pai. Ele faleceu ano passado, mas já não atuava há 30 anos na empresa, cuidava de outras coisas. Eu estou na empresa há 44 anos. A companhia sempre foi voltada para aço especial na construção mecânica e evoluiu nesse mercado.
Além do Brasil, a Sacchelli atua em outros países?
Nós temos pontas de compra em outros países. A Sacchelli é importadora de aço do mundo inteiro, e agora estamos pensando em abrir o leque para vendas também, para montar unidades fora do Brasil.
Em quais setores a Sacchelli trabalha?
Em diversos setores, desde capital, óleo & gás, energia de uma forma geral, até automobilística, caminhões, montadoras, sucroalcooleira. Mas notadamente o nosso foco, hoje, é a área de petróleo e gás natural. É a única em que você já tem projeção até 2015 e 2016, sabendo o que vai acontecer. Então é uma área em que estamos investindo muito.
Particularmente no Rio de Janeiro, em detrimento de outros estados?
Na verdade, a Petrobrás está saindo do Rio, apenas. Como ela era muito concentrada no Rio de Janeiro, em Macaé, hoje ela está indo para Santos, para Vitória. Já está no Nordeste inteiro. Então as unidades da Petrobrás e das outras companhias de petróleo estão correndo o Brasil todo, desde o sul até o norte. Claro que o Rio de Janeiro, para nós, é um mercado importante. É o mercado de Macaé, bastante grande na área de petróleo, relacionado com as maiores bacias brasileiras.
A Sacchelli fornece aço para estaleiros?
Estaleiro é outro mercado nosso. Por exemplo, a Sacchelli fornece para a antiga Verome (Angra dos Reis). IKG é também um estaleiro que compra da Sacchelli. Wilson Sons também. Há vários estaleiros de pequeno porte, hoje, notadamente, na região do Rio Paraguai, no Mato Grosso, que constroem embarcações para transbordo e cabotagem. Basicamente todos os estaleiros do Brasil consomem aço e a Sacchelli vende aço para eles.
Quais os principais produtos da Sacchelli?
A Sacchelli fornece, para a área de petróleo, desde o pedaço da barra de aço, até o produto acabado: um raiser, um pino de raiser, um componente de uma árvore de natal, o componente de uma cabeça de poço… Na verdade, o nosso negócio é o aço. A peça, nós a produzimos a partir de nosso produto principal, que é o aço. Fornecer a peça pronta é um serviço agregado que oferecemos ao cliente.
Quais os principais clientes da Sacchelli?
Na área de óleo e gás, o cliente final consumidor é a própria Petrobrás, embora a Sacchelli não venda diretamente para ela. Nossos clientes são Cooper Cameron, Aker Solutions, General Eletric, Wellstream, Halliburton. A Sacchelli fornece para todas essas companhias da área de petróleo.
Qual é a atuação da Sacchelli fora do Brasil?
Todas essas empresas que estamos falando são companhias globais. São empresas que, muitas vezes, compram no Brasil para mandar às suas matrizes fora do Brasil ou para outras unidades no exterior. Então, nós temos componentes, peças, equipamentos, subconjuntos que estão trabalhando no Mar do Norte, na Noruega, nos Estados Unidos, na China, nos Emirados Árabes, em todo lugar.
Como é a competição global na área?
Existe um preço internacional que você deve seguir. Nós não só seguimos as normas internacionais de fabricação, como as condições de preço internacionais, onde está a concorrência.
Qual a situação da Sacchelli diante das dificuldades no mercado brasileiro?
O mercado brasileiro, como todo mundo, está atualmente passando por uma situação bastante complicada. No nosso caso, especificamente, vai bem, obrigado. Fizemos os investimentos certos, na hora certa, e estamos colhendo os frutos hoje. Mas a tendência do mercado é voltar a crescer e evoluir; embora eu não acredite em nenhuma dessas medidas milagrosas que o governo vem baixando.
Qual é a visão da empresa acerca da norma de conteúdo local?
A Sacchelli é uma empresa 100% nacional. Quando muito, o que entra no conteúdo nacional da Sacchelli é a matéria-prima, o aço, que é importado, mas que não tem representatividade absolutamente nenhuma. O que nós temos que tomar cuidado não é com a importação da matéria-prima. Não podemos permitir é que seja importada a mão-de-obra, o trabalho interno. Se tiver que trazer a matéria-prima, produzida em qualquer parte do mundo, e que dá emprego para milhares de pessoas aqui dentro fazendo peça, que se traga a matéria-prima de fora.
Qual a sua visão sobre a mão de obra brasileira?
Sou a favor de mão-de-obra 100% local. Não temos absolutamente nenhum componente, peça ou subconjunto que nós fazemos como primeiras operações, operação primária. Nosso único produto de importação é matéria-prima bruta. Mas, na área de petróleo, nem com matéria-prima importada nós trabalhamos. Até porque a própria Petrobrás não aceita muitos produtores de fora do Brasil. Então é preciso trabalhar com a rede que é homologada.
Vocês encontram dificuldade com carência de mão de obra qualificada?
A verdade é que o brasileiro não gosta de desenvolver mão-de-obra. Não gosta de investir no funcionário dele. Fica achando que vai fazer um investimento e vai perder o funcionário. Mas isso é uma coisa que depende dele, só. Nós temos mão-de-obra para todos os setores, sem problema nenhum. Mas nós apostamos bastante no desenvolvimento do nosso pessoal.
Como acontece esse aperfeiçoamento?
Cursos, universidades, absolutamente tudo que você puder imaginar. Desde um curso que vá ser útil a ele, como pessoa física, e à empresa, até a universidade. Eu vejo, na formação do profissional, uma co-responsabilidade da empresa. O que existe é o respeito do funcionário pela empresa que patrocinou o crescimento dele. A partir do momento que você começa a falar “vamos fazer um vínculo ou contrato para que ele fique amarrado à minha empresa”, você pode até conseguir um contrato que segure uma pessoa que não está mais contente em trabalhar, mas você tem que criar o respeito e o vínculo pelo que você proporcionou a ele. Mas se ele acabar de se formar e falar: “vou embora”, não adianta ter um contrato. Ele vai embora.
Quais são as perspectivas da Sacchelli para o futuro próximo?
A Sacchelli é uma empresa que, quando traça uma meta bastante conservadora, ela traça crescimento de 15% ao ano. Na área de óleo e gás, o nosso projeto é, nos próximos três anos, dobrar de tamanho. Nas demais áreas, prevemos um crescimento por volta de 15% a 20% ao ano.
A Sacchelli possui algum reconhecimento internacional?
Sim, a Sacchelli tem muito reconhecimento internacional. É distribuidora exclusiva no Brasil daquela que é considerada a maior usina siderúrgica do mundo, que é a ABS. Distribui produto não só de usinas locais, mas também internacionais, as mais renomadas. Hoje é internacionalmente reconhecida como um grande consumidor de aço. Sem dúvida nenhuma, a Sacchelli é a maior distribuidora de aço especial da América Latina.
Apostando sobretudo no setor de óleo e gás?
É um dos setores em que trabalhamos, mas é o setor que você tem, pelo tempo de maturação do seu investimento, uma projeção mais longa para crescimento. Em outros tipos de mercado, você tem investimentos que são normalmente menores e de curto prazo. O setor de óleo e gás não tem a tendência de mudar do dia pra noite. Ano que vem, uma plataforma vai continuar sendo uma plataforma. Claro que existem evoluções de equipamento, mas basicamente o projeto vai permanecer o mesmo. Os materiais vão permanecer os mesmos. Todo dia há evolução, mas em segmentos isolados. Aumenta-se a produtividade da plataforma, minimizam-se os riscos de acidentes… É uma evolução contínua, mas que demanda muito tempo e muito estudo.
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