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SANÇÕES DOS EUA E DA OTAN PODEM ENCARECER DIESEL, RADIOFÁRMACOS E FERTILIZANTES NO BRASIL E COLOCAM INDÚSTRIA EM ALERTA

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Sérgio Araújo, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom)

A economia do Brasil sob xeque. Não bastassem as recentes ameaças de tarifação feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um novo fator adicionado recentemente a esse cenário pode escalar ainda mais os efeitos devastadores sobre o setor produtivo brasileiro. O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse que países como Brasil, China e Índia podem ser alvos de sanções secundárias caso mantenham relações comerciais com a Rússia. A mensagem aqui é clara: se o Kremlin não levar a sério as negociações de paz com a Ucrânia, países que fazem negócios com os russos sofrerão mais taxações. Isso é severamente preocupante e coloca o Brasil numa encruzilhada, já que o país tem forte dependência em relação à Rússia em segmentos estratégicos, como energia, saúde e agricultura. Diante desse cenário, esses setores podem ser forçados a “pilotar às cegas” em meio a turbulências econômicas e diplomáticas, sem um claro desenho do que lhes espera à frente.

Especialmente no setor de combustíveis, entre 25% e 30% do diesel consumido no Brasil precisa ser importado, já que as refinarias nacionais não são capazes de atender à demanda interna. Desde o início da guerra da Ucrânia, quando o mercado europeu se fechou para a Rússia, o país de Vladmir Putin buscou novos mercados e fez do Brasil um novo parceiro comercial vigoroso. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o Brasil comprou mais de US$ 12 bilhões de diesel da Rússia entre janeiro de 2023 e junho de 2025. Esse valor é mais que o dobro do volume negociado com outro tradicional fornecedor: os Estados Unidos, que, nesse mesmo intervalo, venderam US$ 5 bilhões.

Locomotiva_Vale_abastecida_Diesel R_em_Vitória_ES_Foto2_Crédito_Judeu Marc_Divulgação ValeA Rússia vende o seu diesel a um preço muito baixo para os importadores brasileiros. Mas as ameaças de sanções secundárias pela OTAN prometem redesenhar radicalmente esse tabuleiro. Pelo lado dos importadores, a palavra de ordem é atenção aos próximos movimentos e negociações entre os países. “Estamos atentos e preocupados porque o Brasil é muito dependente da importação”, afirma Sérgio Araújo, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). “Se a Rússia sair do mercado, teremos um desbalanceamento. No passado, se importava diesel dos Estados Unidos e era o suficiente para abastecer o mercado, mas isso mudou com a guerra da Rússia e Ucrânia e as sanções dos países da União Europeia”, completou.

O executivo também avalia que, com uma eventual sanção contra a Rússia, haverá dificuldades no abastecimento, com impacto nos preços e problemas para encontrar um fornecedor substituto. “Se a Rússia sair, corremos o risco de ter esse desbalanceamento na oferta e demanda. Naturalmente, se você tem uma demanda maior do que a oferta, isso vai impactar o preço. Então, existe essa possibilidade não só da dificuldade de aquisição do produto como também de um preço mais elevado. Esse é o cenário que imaginamos”, destacou o presidente da Abicom.

sede-petrobrasAlém das possíveis taxas contra o produto russo, outro problema no radar é o tarifaço de 50% de Donald Trump prometido para 1º de agosto contra produtos brasileiros. Segundo cálculos da Abicom, o preço do diesel americano no Golfo do México está R$ 0,40 maior do que o preço do diesel vendido pelas refinarias da Petrobrás. Segundo Araújo, caso haja reciprocidade por parte do governo brasileiro contra o combustível dos EUA, essa diferença pode aumentar ainda mais, chegando a, pelo menos, R$ 1 por litro. “Tendo a reciprocidade na tarifação, o produto importado pela Petrobrás vai subir também. Não tenha dúvida”, avaliou Sérgio.

Atualmente, a Petrobrás não importa diesel diretamente da Rússia, concentrando suas compras em outros fornecedores internacionais. No entanto, com o tabuleiro geopolítico em ebulição, até mesmo esses parceiros comerciais podem ser pressionados a rever seus preços e condições. O risco de sanções, instabilidades regionais e novas barreiras comerciais pode afetar toda a cadeia de suprimento global. No fim das contas, o preço do diesel importado pela Petrobrás tende a sofrer impacto – e, com ele, toda a dinâmica do mercado interno.

Diante dessa encruzilhada, em que o diesel dos Estados Unidos e da Rússia pode ficar mais caro, a saída será buscar alternativas — o que não será uma tarefa trivial. “Podemos buscar diesel não sancionado da Índia, dos Emirados Árabes, da Arábia Saudita ou do Kuwait. Precisamos encontrar fornecedores alternativos, mas o desafio é grande. A Rússia é um produtor de diesel importantíssimo em volume, e sua saída do mercado causaria um desequilíbrio significativo entre oferta e demanda. Os importadores, portanto, terão que buscar essas alternativas com maior dificuldade e, possivelmente, a preços mais elevados, embora isso ainda não esteja acontecendo”, finalizou.

EFEITOS DAS TARIFAS NA SAÚDE

trumpPara além das preocupações no setor energético, as questões geopolíticas também podem afetar a saúde dos brasileiros. No caso da medicina nuclear, por exemplo, já há problemas sendo sentidos na importação de radiofármacos — medicamentos que contêm componentes radioativos, usados tanto para diagnóstico quanto para tratamento de doenças, em especial o câncer.

A situação no abastecimento desses produtos já é instável tanto por causa do tarifaço de Trump quanto pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Os russos são os maiores produtores mundiais de material radioativo. São cerca de 37 reatores em funcionamento, entre eles, aqueles para gerar energia e outros para a produção de radioisótopos. As sanções e as guerras impactam no fornecimento e na logística para o transporte dos materiais para o Brasil, já que algumas companhias aéreas têm alterado suas rotas ou mesmo se recusado a transportar material radioativo.

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A diretora e superintendente do IPEN, Isolda Costa

Em meio a isso, o Instituto de Pesquisas Energéticas (IPEN), que faz a importação dos insumos, tem tido enorme dificuldade para pagamento a seus fornecedores. Em resposta a questionamentos feitos pela reportagem do Petronotícias, a diretora e superintendente do IPEN, Isolda Costa, relatou que existem contratempos operacionais para fazer o pagamento aos fornecedores russos.

Três pagamentos de radioisótopos referentes a nove faturas a favor da Joint Stock Company (JSC) Isotope, mês de referência fevereiro de 2025, foram devolvidos pelo Banco do Brasil de Nova York por política interna, e estes recursos estão retidos no Banco do Brasil em dólar aguardando um novo câmbio com novos dados bancários”, contou Isolda. A JSC é uma empresa russa que intermedeia os negócios com o IPEN.

Diante desta situação, a JSC indicou um novo canal bancário, o qual funcionou por um curto prazo de tempo, porém, em seguida, com a intensificação da guerra entre Rússia e Ucrânia, as sanções foram atualizadas pelos EUA e, em consequência, o Banco do Brasil decidiu não fazer mais nenhum pagamento para este fornecedor da Rússia. Atualmente, o representante da JSC no Brasil conseguiu um canal bancário em reais e está aguardando a aprovação do Comitê da JSC na Rússia”, disse a diretora do IPEN.

ipenEmbora com essa dificuldade, a aquisição de radioisótopos da Rússia está sendo realizada, embora o pagamento não esteja sendo concretizado. Mesmo enquanto a situação do pagamento não se resolve, a JSC continua enviando radioisótopos para o IPEN. “Além das providências que a JSC já está tomando para resolução do problema das sanções, o IPEN, por motivos de segurança, visando evitar o desabastecimento do serviço de Medicina Nuclear do País, procurou novos fornecedores e está qualificando os produtos destes para futuras novas contratações”, finalizou Isolda.

Entre especialistas do mercado de medicina nuclear, existe a preocupação de que haja dificuldades em encontrar novos fornecedores. As alternativas são África do Sul e Bélgica. Acontece que essas alternativas também vendem para outros países, e pode haver “escassez” de matéria-prima.

SETOR DE FERTILIZANTES EM ALERTA

André Passos Cordeiro - Presidente-executivo da Abiquim I

André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim

Preocupações semelhantes também rondam o mercado de fertilizantes, já que o Brasil é dependente da Rússia nesse setor. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), somente de janeiro a dezembro de 2024, foram importadas mais de 11 milhões de toneladas de fertilizantes e intermediários para fertilizantes da Rússia. O valor representa um aumento de pouco mais de 20% na comparação com o ano anterior. No caso das importações com origem nos Estados Unidos, os números são menores: cerca de 1 milhão de toneladas foram importadas ao longo do ano passado, queda de 16% frente a 2023.

De acordo com dados da SECEX/MDIC, outros mercados já desempenham papel relevante no fornecimento de fertilizantes ao Brasil. Entre eles, destacam-se: para fertilizantes nitrogenados, Omã, Nigéria e Catar; para fosfatados, Marrocos e Arábia Saudita; e para cloreto de potássio, Canadá, Uzbequistão e Israel.

O Brasil é, em grande medida, um price taker no mercado internacional de commodities, incluindo fertilizantes. Dessa forma, o impacto de uma eventual sanção dependerá diretamente do formato e da abrangência que a medida vier a ter”, declarou André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim. O executivo ressalta que a dificuldade de acesso a fertilizantes de países afetados por tensões geopolíticas reforça um alerta já acendido durante a pandemia: “O Brasil precisa avançar na redução da dependência de importações, especialmente de produtos estratégicos inseridos em zonas de conflito comercial e político envolvendo grandes potências como Estados Unidos, Rússia e China”, concluiu.

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Mikawill
Mikawill
3 meses atrás

Matéria fantástica!
Mas o atual Governo Brasileiro nao é Bobo em sua politica externa.
Nao há motivo para Pânico…

Vamos lá:

1) Resolver o problema da saude com os radioisótopos: Cuba
2) Resolver o problema do desabastecimento de Diesel: Venezuela.
3) Resolver o Problema do desabastecimento de Fertilizante: Irã

Países com expertise em cada area.

Ai o Donald Trump vai ver que somos brabos e vai meter o galho dentro.

Tavares
Tavares
3 meses atrás
Responder para  Mikawill

Venezuela não produz mais nada, refinarias caindo aos pedaços, resultado do regime autoritário e isolamento do país.
Irã pode não ser uma boa referência porque a demanda de sulfato de amônio tem crescido em relação a ureia
E meu Deus, Cuba é referência pra algo? Na medicina nuclear precisa olhar pra Holanda, África do Sul, Bélgica e Austrália..

Suas escolhas alienadas me dizem que você gosta muito da nova ordem mundial. Vai pra Cuba, cumpanheiro!