SEIS MAIORES PETROLEIRAS DO BRASIL DIZEM QUE FUTURO DO SETOR DE O&G DEPENDE DE MAIS COMPETITIVIDADE DO PAÍS
As seis maiores petroleiras presentes no Brasil estão com um discurso bem alinhado no que diz respeito às necessidades do setor de óleo e gás do país para o futuro. As estrangeiras Shell, Equinor, Chevron, BP, Total, além da própria Petrobrás, estão reivindicando mais mudanças no regime regulatório brasileiro para garantir que os projetos no país continuem competitivos. Afinal, o que garantem os executivos líderes destas empresas, é que os futuros investimentos estão sendo muito disputados por outros projetos de O&G no exterior, ainda mais em tempos onde os investidores estão muito mais seletivos diante da crise econômica. Levará os recursos o país que ofertar mais competitividade. E nisto, segundo a avaliação dessas petroleiras, o Brasil ainda está um passo atrás.
Os CEOs destas seis companhias participaram de um seminário online organizado pela FGV Energia. O presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, lembrou que o Brasil já passou por mudanças recentes em sua regulação que permitiram a entrada de novos investimentos do exterior. Contudo, de acordo com o executivo, o país ainda tem outras questões para equacionar. “Nós estamos sujeitos a um cipoal de regulações que retiram parcialmente a atratividade das nossas riquezas [impedindo] que se tornem alvo de investimentos”, criticou.
Castello Branco disse ainda que o regime de partilha é muito desvantajoso do ponto de vista econômico, além de oferecer um estímulo errado às companhias. “Em lugar de a empresa ter como principal objetivo a maximização da eficiência, um dos objetivos passa a ser aumentar e inflar os custos para reduzir a tributação sobre o lucro”, apontou.
Nesta linha de raciocínio, o presidente da Shell, André Araújo, lembrou que a falta de apetite dos investidores vai resultar em uma forte competição entre os países para atrair investimentos. Para ele, existem duas frentes que o Brasil precisa avaliar e trabalhar: os futuros leilões de novas áreas de exploração e produção e os ativos que já foram licitados.
“Em relação aos futuros leilões, eu tenho me posicionado abertamente em favor do regime único de concessão para os contratos futuros, como é defendido, aliás, por toda a indústria de óleo e gás”. Araújo acredita, no entanto, que mesmo com a mudança nos regimes de concessão, os contratos do Brasil podem continuar pouco atraentes. Mas se diz feliz pelo fato de o Ministério de Minas e Energia estar dialogando para mudanças nos leilões futuros, tornando-os mais competitivos. Sobre os ativos já adquiridos, o presidente da Shell acredita que o grande desafio será passar estes ativos para a etapa de desenvolvimento. “É nesta fase realmente que as empresas gastam dinheiro”, afirmou.
Apesar dos desafios, o Brasil não foi esquecido pelas IOCs, ainda que diante da crise de demanda provocada pela pandemia do coronavírus. O vice presidente da Equinor para segurança e sustentabilidade, Paulo Van Der Ven, frisou que os compromissos de desenvolvimento da companhia no país estão mantidos.
“Nossa estratégia para o Brasil em 2030 não foi alterada. Nosso compromisso, mesmo com essa crise, segue inalterado. Mas é muito importante o desenvolvimento do portfólio que temos e como torná-lo ainda mais competitivo”, disse. “O preço das commodities deve permanecer baixo por mais tempo. Os blocos já concessionados precisam de framework competitivo para seguir adiante”, acrescentou.
Outro ponto destacado pelos executivos é que existe uma verdadeira concorrência interna entre cada filial das companhias pelos investimentos em ativos de óleo e gás. “Se o Brasil não tiver competitividade, não vamos conseguir validar nossos projetos dentro do grupo Total”, disse o presidente da petroleira no Brasil, Philippe Blanchard.
A empresa francesa tem dois pontos principais em sua operação em águas ultraprofundas no mercado brasileiro, de acordo com o executivo. O primeiro deles é a inovação, que permitirá a redução de custos, melhoria na segurança e redução dos impactos no meio ambiente. O segundo fator, ainda segundo Blanchard, é a simplificação. “[É preciso] simplificar os processos porque, com a simplificação, vamos reduzir a incerteza e baixar nossos custos. Para mim, a competitividade no Brasil significa inovação e simplificação. Esse será nosso drive para todos nossos projetos no Brasil”, declarou.
Já o presidente da BP no Brasil, Adriano Bastos, declarou que a competitividade brasileira é um fator importante para o ambiente de negócios e que só a geologia do país não vai garantir o sucesso do setor de O&G. “Temos a necessidade de manter a competitividade do Brasil na indústria. Meus maiores competidores não são meus colegas que estão conversando comigo [se referindo aos demais CEOs]. Eles são meus grandes parceiros de projetos no Brasil. Os meus maiores competidores são os projetos internos da BP”, disse. “Meus projetos precisam ser competitivos internamente dentro do portfólio da BP”, complementou.
Por fim, o presidente da Chevron no Brasil, Mariano Vela, declarou que é fundamental que o Brasil não fique apoiado apenas em sua excelente geologia, mas que precisa de avanços do ponto de vista regulatório e que a competitividade é fundamental. “Em momentos de escassez, o que é necessário é alocar. Nós vamos alocar nos projetos mais competitivos para nosso portfólio. E é muito importante para nós que o Brasil seja atrativo”.
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