SETOR ELÉTRICO APONTA FONTE NUCLEAR COMO PARCEIRA CONFIÁVEL DO BRASIL NA TRANSIÇÃO PARA BAIXO CARBONO | Petronotícias




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SETOR ELÉTRICO APONTA FONTE NUCLEAR COMO PARCEIRA CONFIÁVEL DO BRASIL NA TRANSIÇÃO PARA BAIXO CARBONO

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

fotoA alternativa nuclear para ajudar o Brasil na transição para uma economia descarbonizada está sendo considerada por representantes de diversas vertentes da indústria da energia. O que esses especialistas apontam é que a fonte será uma “parceira confiável” de eólica e solar durante a transição energética. Como são provedoras de geração firme, as plantas nucleares são apontadas por esses membros da indústria como uma das bases necessárias para esse movimento de descarbonização. Mesmo algumas ONGs ambientalistas reconhecem a importância da fonte nuclear nesse novo mundo de energias limpas e livres de emissões. Esses temas foram discutidos nesta semana durante o segundo painel de debate do evento virtual Nuclear Technology and Trade Exchange (NT2E), organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares. O encontro foi moderado pelo economista e jornalista George Vidor.

Representando a indústria nuclear no evento, o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, ressaltou que a descarbonização no setor elétrico deve ser feita de modo colaborativo entre as energias renováveis e a nuclear. Segundo o executivo, é preciso abaixar esse clima de competição entre as fontes e começar a levantar a bandeira da cooperação. “A energia nuclear é uma parceira confiável das energias renováveis, se forem vistas dentro do modelo colaborativo. Existe uma complementariedade técnica que pode ser atingida através de desenvolvimento de usinas operando com maior flexibilidade, de forma a compensar a variabilidade das renováveis”, apontou Guimarães.

Central Nuclear de Angra dos Reis (RJ), responsável por 60% da energia consumida pelo Rio de Janeiro

Central Nuclear de Angra dos Reis (RJ), responsável por 60% da energia consumida pelo Rio de Janeiro

O presidente da Eletronuclear lembrou ainda que o Brasil está passando por um período chamado de transição hidrotérmica. Isso significa que temos um aumento da capacidade de geração hidrelétrica instalada, mas sem um aumento proporcional da capacidade estocada de água em reservatórios. O executivo sustenta que a transição hidrotérmica requer uma estratégia de diversificação das fontes primárias. “Existe uma complementariedade estratégica para construir esse mix de energia descarbonizada do futuro que tanto se fala e se persegue, mas pouco se tem uma estratégia múltipla para atingimento dessas metas”, ponderou Guimarães.

O líder da estatal finalizou sua fala abordando como a fonte nuclear é vista pela sociedade. Para o presidente da empresa, o setor precisa trabalhar para aumentar a aceitação de possíveis novas usinas no país no futuro. “Devemos buscar reforçar a percepção de benefício e trazer mais familiaridade sobre o assunto para as pessoas. É um trabalho de longo prazo e contínuo que não pode parar nunca. E que vem dando resultados em vários lugares do mundo, até mesmo aqui no Brasil”, concluiu.

Pelo lado acadêmico, também há um entendimento do papel da nuclear dentro do contexto de transformação do mundo para uma economia descarbonizada. O
professor do Instituto de Economia da UFRJ, Nivalde de Castro, lembra por exemplo que a Europa quer alcançar uma matriz elétrica com 85% de fontes renováveis até 2050. O Brasil, por sua vez, já conseguiu esse número 30 anos antes do Velho Continente. “O momento do Brasil não é de transição, mas de reafirmação de sua matriz elétrica renovável, que é uma das melhores do mundo”, afirmou.

nuclear-wind-min-730x430Castro, que também é coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), diz que para manter sua matriz com base renovável, o país precisa de fontes firmes, como usinas termelétricas, hidrelétricas reversíveis e também as usinas nucleares. “Quanto mais diversificado, melhor. Vejamos o caso do Amapá, que só tinha uma linha de transmissão. Todas as termelétricas, que até 2014 atendiam a demanda energética do estado, foram desativadas e desmontadas”, apontou. “As plantas nucleares têm um papel importante, além de ter a densidade tecnológica mais complexa de todas, com efeitos multiplicadores. O Gesel sempre considerou nuclear, termelétricas e hidrelétricas reversíveis. Como temos um cenário onde a demanda [por energia] vai se recuperar, essa escolha se justifica”, acrescentou Castro.

Nessa mesma linha, o professor do Departamento de Economia da PUC-RJ, Sergio Besserman Vianna, afirma que a energia nuclear tem um papel relevante no portfólio de produção energética do planeta. “Precisamos de uma base de geração firme – já que solar e eólica são intermitentes. Temos a biomassa, que é uma grande aposta, mas a geração nuclear seguramente é um pedaço desse portfólio”, opinou.

Besserman, que estuda as consequências econômicas e sociais da mudança climática global desde 1992, afirma que mesmo nas organizações ambientalistas globais e brasileiras existe uma aceitação da importância da nuclear. “Com exceção do Greenpeace, as demais [ONGs] seguem de certa maneira a observação dos relatórios do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas]. Desde 2001, esses relatórios indicam que a energia nuclear tem um papel no portfólio que substitui as fontes fósseis, caso a meta seja fazer a transição para o baixo carbono em um tempo aceitável”, concluiu.

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