SETOR NUCLEAR BUSCA REFORÇAR DIÁLOGO POLÍTICO PARA EVIDENCIAR VANTAGENS COMPETITIVAS DA FONTE
O caminho para destravar o potencial do Brasil no setor nuclear passa, necessariamente, pela ampliação e qualificação do diálogo com a esfera política. Essa foi uma das conclusões do painel “O jogo do poder no Parlamento”, realizado nesta segunda-feira (25) durante o Nuclear Communication 2025, promovido pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), no Rio de Janeiro. Para o deputado federal Julio Lopes, é fundamental explicar aos parlamentares e à sociedade que a energia nuclear é uma fonte de alta potência — característica de grande relevância para o setor elétrico nacional.
“As energias deveriam ser calibradas, premiadas e cobradas pelo seu fator de potência, que é a taxa real de contribuição de carga. Hoje temos muitas promessas e poucos resultados, com grandes investimentos e subsídios em fontes que entregam pouco em termos de potência. A sociedade, muitas vezes, não compreende essa diferença”, destacou o deputado, presidente da Frente Parlamentar Nuclear. “As usinas nucleares, assim como as hidrelétricas, têm fatores de potência muito relevantes. O sistema hidráulico, que já representou 65% da carga brasileira e hoje responde por 40% a 45%, ainda mantém um fator de potência de 65%. Esse é o debate que precisamos aprender a fazer: discutir potência”, acrescentou.
O deputado Reimont Otoni defendeu que é preciso reforçar continuamente a ideia de que a energia nuclear é vital para o futuro da matriz energética brasileira. Segundo ele, o tema já vem sendo tratado em espaços como a Comissão de Minas e Energia. “É preciso repetir, repetir e repetir, para que as coisas avancem”, disse.
Otoni ressaltou ainda que o setor não deve se limitar à conclusão de Angra 3, mas pensar além. “Cada conquista é apenas um ponto de chegada, não o destino final. A retomada de Angra 3, por exemplo, não encerra a caminhada. Recentemente, o Senado sabatinou e aprovou os diretores da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear. Foi um avanço importante, mas não significa que o trabalho terminou. Há outros desafios pela frente. Esse é o sentido da repetição no Congresso: manter o tema presente em todas as frentes — na Frente Parlamentar, na Comissão de Minas e Energia, na Comissão de Ciência e Tecnologia. Repetir é a pedagogia necessária para que os avanços se consolidem”, afirmou.
Por fim, o CEO da Vector Relações Governamentais, Jean Castro, destacou que o lobby com transparência só existe em democracia e pode trazer ganhos concretos à sociedade. Ele lembrou que a Constituição garante a todos o direito de peticionar ao Estado e que, ao longo do tempo, a legislação vem sendo construída para dar mais segurança aos profissionais que atuam nesse campo.
“O que a ABDAN faz hoje é exatamente isso: uma defesa de interesses com transparência, envolvendo grandes nomes e promovendo um debate aberto. Essa troca é a essência de uma democracia saudável. Nem todos pensam da mesma forma, mas todos os pontos são colocados à mesa para discussão, até que se chegue à melhor norma para a sociedade naquele momento”, apontou. Castro sustenta que o fortalecimento do setor nuclear também depende de informação clara e confiável. Ele ressaltou que o tema ainda carrega traumas históricos e desperta receios na sociedade, o que exige uma comunicação didática e transparente. Segundo ele, quando a população é bem informada e mobilizada, o Congresso tende a ouvir com mais atenção, o que amplia a pressão sobre o Executivo e favorece avanços concretos.
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