SETOR NUCLEAR TEM BAIXA EXPECTATIVA COM POSSÍVEL DECISÃO SOBRE ANGRA 3 NA REUNIÃO DO CNPE DESTA QUARTA-FEIRA
O setor nuclear brasileiro começa esta quarta-feira (1º) com poucas expectativas em relação a uma boa notícia sobre seu principal projeto: a retomada das obras de Angra 3. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) se reúne nesta manhã, em Brasília, na sede do Ministério de Minas e Energia, para deliberar sobre uma série de pautas. Embora o ministro Alexandre Silveira, chefe da pasta, tenha informado que Angra 3 seria discutida no conselho, o mercado não acredita que o governo vá decidir hoje pelo reinício da construção da usina. O que deve ser definido é a realização de mais uma rodada de estudos de viabilidade sobre o empreendimento. Isso se deve a mudanças significativas na estrutura de financiamento do projeto desde o acordo entre União e Eletrobrás, firmado em março deste ano.
Com o acordo, a Eletrobrás se desobrigou de novos aportes em Angra 3, mantendo apenas as garantias já prestadas nos financiamentos existentes. O acerto também determina que a União apoiará a Eletrobrás na venda de sua participação na Eletronuclear. Desde a privatização da companhia elétrica, em 2022, a companhia manteve 35,9% das ações ordinárias da estatal nuclear, além de 67,95% do capital total.
Em setembro de 2024, antes do acordo entre Eletrobrás e União, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entregou à Eletronuclear estudos de modelagem financeira de Angra 3. A análise indicava que os custos de finalização e de abandono do projeto eram similares: R$ 23 bilhões para concluir e R$ 21 bilhões para desistir. O estudo considerava 10% de aporte de capital próprio (R$ 2,4 bilhões) dos acionistas (ENBPar e Eletrobrás) e 90% de dívida.
Sobre a fatia de 10%, a Eletrobrás arcaria com um terço (cerca de R$ 800 milhões) e a ENBPar com dois terços (R$ 1,6 bilhão). Contudo, o acordo alterou toda a configuração institucional, tornando necessário um novo estudo técnico, econômico e jurídico pelo BNDES para reavaliar a viabilidade do projeto. Somente após essa avaliação, o governo deve deliberar sobre a retomada das obras no CNPE. Esse cenário gerou grande frustração no setor nuclear, pois a expectativa é que o novo estudo leve bastante tempo para ser concluído. Enquanto isso, Angra 3 permanece em compasso de espera, com destino incerto. Dados indicam que os custos da obra paralisada representam um “aluguel sem retorno” na ordem de R$ 100 milhões por mês.
Enquanto a decisão sobre Angra 3 enfrenta entraves internos e falta de definição, o ministro Alexandre Silveira afirmou que deve apresentar na reunião do CNPE uma proposta para “remodelar” o setor nuclear do país. “É um trabalho que nós vamos fazer e eu espero que nos próximos cinco anos, liderado pelo presidente Lula, a gente entregue um setor nuclear robusto, com energia limpa, segura, descarbonizando o Brasil e principalmente avançando na transição energética, com possibilidade, inclusive, de exportarmos sustentabilidade através do hidrogênio verde”, declarou na semana passada.
Segundo apuração da nossa reportagem, o mercado tem pouca expectativa em relação a essa proposta de “reformulação”. A principal preocupação do setor permanece sendo a decisão sobre Angra 3. A não ser que haja uma surpresa de última hora, a retomada da obra não deve ser definida na reunião do CNPE desta quarta-feira.
A conclusão de Angra 3 é relevante para a segurança do abastecimento do sistema elétrico brasileiro, atendendo cerca de 4,5 milhões de habitantes. Também contribui para a diversificação da matriz elétrica e para a redução dos custos do Sistema Interligado Nacional (SIN), ao substituir energia gerada por usinas térmicas mais caras e poluentes. Outro diferencial é a localização próxima aos centros de consumo e a compacidade da infraestrutura: Angra 3 ocupará apenas 0,08 km², área significativamente menor do que a necessária para usinas fotovoltaicas, eólicas ou hidrelétricas de capacidade equivalente.
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