SETOR NUCLEAR VIVEU DESAFIOS EM 2024 POR FALTA DE UMA POLÍTICA CLARA DO GOVERNO, MAS PERSPECTIVAS PARA 2025 SÃO POSITIVAS | Petronotícias




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SETOR NUCLEAR VIVEU DESAFIOS EM 2024 POR FALTA DE UMA POLÍTICA CLARA DO GOVERNO, MAS PERSPECTIVAS PARA 2025 SÃO POSITIVAS

tarja-12-copiarO mês de dezembro começou e, com ele, iniciamos também a nossa tradicional série especial de entrevistas Perspectivas 2025. Há mais de uma década, o Petronotícias ouve as mais importantes personalidades de diferentes segmentos da economia para fazer um balanço do ambiente de negócios nos últimos 12 meses e projetar como ficará o mercado no novo ano que se aproxima. Para estrear a série, vamos conversar hoje (2) com o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha. Segundo ele, o setor nuclear viveu inúmeros desafios em 2024 diante da inexistência de uma política definida do governo para o segmento e esse cenário precisa mudar para viabilizar novos negócios. “Eu acredito que o governo precisa estabelecer uma governança clara no setor nuclear. Atualmente, vemos diversos atores falando coisas diferentes e sem um direcionamento definido. Então, esse é o ponto inicial”, disse. Além disso, Cunha defende que é necessário definir de uma vez por todas a retomada das obras de Angra 3. “Essa usina começou a ser construída no governo Lula. Se não for finalizada, será o governo Lula que deixará esse “monumento” à incompetência brasileira. Portanto, precisamos alinhar a coordenação e encerrar de vez essa questão de Angra 3”, avaliou. Ainda que diante dos atuais desafios, o presidente da ABDAN cita que o setor nuclear conseguiu fazer alguns importantes avanços em 2024 e avalia que o ano de 2025 terá um ambiente melhor.

Como foi o ano de 2024 para sua associação e seu segmento de atuação?

planaltoO ano de 2024 foi extremamente confuso, no qual o governo foi incapaz de se definir. Uma parte apoiou o setor nuclear, enquanto a outra não quer nem ouvir falar do assunto. Isso fica evidente no planejamento do governo, com o Plano Clima posicionando-se contra o nuclear e o PDE 2024 sinalizando a retirada da quarta usina prevista no plano anterior. Isso é uma sinalização muito ruim.

Apesar disso, até pela pressão mundial, tivemos uma reunião do G20 interessante, na qual a fonte nuclear apareceu como uma opção importante para todos. Por outro lado, a Taxonomia Verde lançada excluiu o nuclear, e até mesmo o urânio foi deixado de fora dos minerais críticos. Vemos também o Congresso em falta de diálogo com o governo. Cerca de 70 projetos de lei tratam apenas de renováveis, sem nenhuma menção à nuclear. 

Mesmo assim, conseguimos algumas vitórias. Revertemos pontos da Política Nacional de Hidrogênio de Baixo Carbono, que foi sancionada e incluiu o nuclear, ainda que de forma tímida. No projeto de lei do Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) pelo senador Laércio, a nuclear foi contemplada e a matéria ainda precisa ser votada. 

Eu resumiria o ano como uma grande briga de torcidas dentro do governo, com o lado A e o lado B em conflito constante, sem nenhuma convergência. Isso, naturalmente, afeta a associação.

Perdemos duas grandes empresas, incluindo a EDF, que deixou o Brasil. Eles estão com oito usinas nucleares em carteira e mais seis para assinar. Como o Brasil não se decide quanto ao futuro do setor nuclear, a empresa decidiu fechar suas portas no país. Nosso ano foi marcado por esforços para consolidar todas essas questões e buscar aliados para reverter essa confusão generalizada.

Se fosse consultado, quais seriam suas sugestões ao governo ou à indústria para melhorar o ambiente de negócios no seu setor?

angra-3Eu acredito que o governo precisa estabelecer uma governança clara no setor nuclear. Atualmente, vemos diversos atores falando coisas diferentes e sem um direcionamento definido. Então, esse é o ponto inicial.

Em segundo lugar, uma vez que o planejamento esteja concluído, é hora de executar. O que está faltando é execução. Angra 3 é um exemplo clássico disso. Já discutimos sobre essa obra milhões de vezes e ainda continuamos discutindo. Se analisarmos os valores antigos, veremos que eles basicamente foram atualizados. O governo precisa decidir e começar a agir logo, porque estamos falando da criação de 7 mil empregos.

Essa usina começou a ser construída no governo Lula. Se não for finalizada, será o governo Lula que deixará esse “monumento” à incompetência brasileira. Portanto, precisamos alinhar a coordenação e encerrar de vez essa questão de Angra 3. Esse é o caminho necessário para avançarmos.

Em sua opinião, de que forma os recentes acontecimentos no cenário político internacional podem influenciar os negócios no Brasil?

abdanOs cenários políticos que temos na Europa, nos Estados Unidos e no Oriente Médio acabam distorcendo o mercado mundial. Isso atrapalha tudo. Guerra nunca é algo bom, em hipótese alguma. E não é só uma questão de negócios, mas também do ponto de vista humano. Esses conflitos podem influenciar e alterar relações internacionais. No entanto, não estamos percebendo um impacto direto disso no setor nuclear brasileiro. Acreditamos que nossos maiores desafios são mais internos do que externos.

Por fim, quais são as perspectivas de sua associação para o ano de 2025?

reatorNossas perspectivas para 2025 são positivas. Não acreditamos que Angra 3 será abandonada. Equacionando Angra 3, resolve-se o caixa da Eletronuclear, e ela própria pode executar as obras de extensão de vida útil de Angra 1. Enquanto isso, Angra 2 também precisará de uma extensão de vida útil. Esse é um ponto importante. O projeto do Reator Multipropósito Brasileiro está avançando, ainda que talvez não no ritmo que gostaríamos, mas está progredindo. O programa de propulsão nuclear para submarinos também segue avançando, embora talvez não na velocidade ideal. Ainda assim, temos outras iniciativas em andamento. Por isso, acredito que o cenário é extremamente positivo. O ano de 2025 será um ano melhor.

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Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

Ao nos afastarmos do ocidente e nos alinharmos aos países BRICS, pelo menos na área nuclear, teremos sérios problemas. Angra 3 tem baixíssima probabilidade de ser concluída observando prazos e orçamentos, mesmo se duplicados, mesmo com o ocidente ao nosso lado, Angra 2 sem técnicos estrangeiros ocidentais ou peças da mesma origem, pararia pra recarregar e jamais voltaria, Angra 1 idem, extensão de vida nem pensar, e quanto ao submarino, o Nuclear Supply Group que controla o comércio de peças e materiais classe nuclear no mundo bloquearia tudo ao Brasil, até mesmo o mais prosaico parafuso. A rota rumo ao… Read more »

Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

O problema com nossas iniciativas nucleares, Angra 3, submarino, reator multi propósito, extensão de Angra 1, enriquecimento em escala é que a entropia de cada uma dessas iniciativas aumenta mais e mais rapidamente do que os recursos que temos capacidade e vontade de colocar nelas. A boca do jacaré só faz abrir mais.