SHELL DEFENDE REGIME ÚNICO DE CONCESSÕES E COOPERAÇÃO DO BRASIL PARA GARANTIR AVANÇO DE CAMPOS EM FASE DE EXPLORAÇÃO

Andre-Araujo-Shell-Brasil-283x300Ainda dentro da repercussão do webinar com os CEOs das principais petroleiras presentes no Brasil, vamos conhecer agora a visão do presidente da Shell no país, André Araújo. O executivo reafirmou sua posição em defesa de um único regime de concessão de novas áreas de exploração e produção no Brasil. No entanto, ele acredita que apenas essa mudança não será suficiente para atrair os investimentos privados do exterior. “É possível você ter um contrato em regime de concessão que não seja competitivo. Eu fico feliz porque já existe um diálogo com o ministério de Minas e Energia para contribuir com o que pode ser feito com os leilões futuros para que sejam mais atrativos, além de buscar a eliminação das incertezas comerciais”, declarou. Araújo disse também que espera trabalhar com o governo e reguladores para tentar fazer com que os projetos que hoje estão na fase de exploração avancem para a etapa seguinte. “O grande desafio é passar estes projetos para a fase de desenvolvimento. É nesta fase que as empresas realmente gastam dinheiro”, afirmou. Vejamos agora sua fala:

“Eu queria assinar os pontos que o Roberto [Castello Branco, presidente da Petrobrás] colocou até agora. Nesse período de pandemia, um webinar em que a presidente do IBP, Clarissa Lins, organizou e que teve a participação do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, a [consultoria] IHS passou uma mensagem muito clara de que a dificuldade de apetite dos investidores vai significar uma forte competição entre os países para atrair investimentos. E, além disso, mostrou que os leilões com elevados government take (participação governamental) trazem uma menor atratividade para projetos. Isso parece lógico, é verdade, mas é sempre bom lembrar.

Nós entendemos que esse momento de desafio da indústria traz uma excelente oportunidade de falarmos do setor aqui no Brasil. Eu acho que existem duas frentes que precisamos trabalhar e precisam ser trabalhadas. A primeira é com relação aos futuros leilões e a segunda frente são os ativos existentes e que já estão nas mãos dos operadores.

Em relação aos futuros leilões, eu tenho me posicionado abertamente em favor do regime único de concessão para os contratos futuros, como é defendido, aliás, por toda a indústria de óleo e gás. Entretanto, a mudança somente no regime não significa que os contratos serão atraentes. É possível você ter um contrato em regime de concessão que não seja competitivo. Eu fico feliz porque já existe um diálogo com o ministério de Minas e Energia para contribuir com o que pode ser feito com os leilões futuros para que sejam mais atrativos, além de buscar a eliminação das incertezas comerciais.

A segunda frente, como mencionei, são os blocos já adquiridos pelas empresas nestes últimos três anos em diversos leilões, tanto na concessão quanto na partilha. Na maioria desses casos, esses blocos estão na fase de exploração, que é como estamos particularmente neste momento.

Os preços do petróleo estão extremamente baixos e nosso cenário é que devem permanecer assim. A queda de demanda e a perspectiva de oferta que vimos nestes últimos meses faz com que trabalhemos no cenário mais desafiante. Mas acho que são projetos que participamos dos leilões [se referindo aos projetos arrematados pela Shell], assumimos o risco. É uma excelente oportunidade de trabalhar com o governo e reguladores para tentar buscar esses projetos, que hoje estão na fase de exploração. O grande desafio é passar estes projetos para a fase de desenvolvimento. É nesta fase que as empresas realmente gastam dinheiro.

Acho que podemos ter um diálogo aberto sobre [como] queremos, de uma forma, manter o país atrativo para que esses investimentos. Mas temos uma dúvida temporal de quando vai se materializar. O que o país quer? Que esses investimentos aconteçam a curto ou médio prazo? Ou que eventualmente eles fiquem ranqueados em uma posição não tão favorável no curto prazo e possam ser adiados para um futuro um pouco mais distante? São escolhas que nós no país teremos que fazer no conjunto”.

A Shell anunciou redução na produção com corte de 5 bilhões de dólares em investimento em redução de gastos operacionais. E ainda anunciou a suspensão de pagamento de dividendos. Quanto isso afetará as operações no Brasil?

shell“Eu queria esclarecer que a Shell não suspendeu o pagamento de dividendos. Ela definiu uma nova base de pagamentos para estes dividendos. Nós continuamos a pagá-los, em uma base menor. A maior crise que sentimos nesse momento é a incerteza. Um dos primeiros webcasts que assisti quando a pandemia começou, foi aquele em que o Roberto [Castello Branco] falou que nossas empresas são muito acostumadas a riscos. E há diferenças entre riscos e incertezas. As nossas empresas são máquinas de analisar riscos. Acho que este momento nos exigiu olhar diversos cenários.

Precisamos sinalizar para o mercado que temos uma visão conservadora e precisamos tomar algumas ações. Vou enumerar algumas. Sem dúvida, fizemos a redução no patamar de dividendos, o que traz uma perspectiva de redução do nosso caixa de cerca de US$ 9 bilhões. Anunciamos também redução de Capex e Opex para os próximos dois meses, o que deve ter um impacto em caixa entre US$ 8 bilhões e 9 bilhões.

Continuamos também com os programas de desinvestimento do biênio 2019 – 2020. E desinvestimento não é uma palavra ruim. É uma ação natural e rotineira da nossa indústria. Essas ações todas são conectadas pela forma que precisávamos atuar, de forma rápida, com o cenário da combinação da Covid-19 e o impacto dos preços.

Não sabemos como esse futuro virá pela frente. Seria muita presunção minha falar como vai ser. Mas acho que s decisão da organização foi claramente trabalhar de uma forma rápida. Internamente, iniciamos nosso foco justamente assegurando um ambiente onde as pessoas pudessem, em sua maioria, trabalhar de casa. Mas também, algo importante, é aquele time que está na frente de combate, para que pudesse ter um ambiente bastante seguro.

Este é um momento excelente para aprendizado sobre diversidade e inclusão. É uma hora em que precisamos assegurar que entendemos como cada de nossos funcionários se coloca dentro da pandemia. O nosso foco tem sido assegurar um ambiente de bastante transparência. Todas essas medidas que eu mencionei são comentadas e discutidas semanalmente com nossa equipe, para encontramos caminhos e adaptar ao que já estamos fazendo. Então, eu queria concluir com uma mensagem positiva. Não temos certeza do impacto que teremos no futuro. Até o momento, o impacto no Brasil foi muito baixo. O que tenho visto diariamente em nossos times de produção é uma organização dinâmica e ativa. Estou sendo surpreendido a cada dia com muita criatividade. O Brasil tem um espaço extremamente positivo para continuar atraindo investimento e dar retorno para a sociedade, porque geramos riqueza para nossos investidores. Mas não tenho dúvida que o setor de O&G sabe o valor que temos em pagamento de impostos e seus benefícios para a sociedade.”

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