SHELL DIZ QUE TECNOLOGIAS PARA MUDAR MATRIZ ENERGÉTICA PODEM DEMORAR ATÉ 30 ANOS PARA GANHAR ESCALA
Em sua apresentação na Conferência Internacional de Pesquisa e Inovação em Transição Energética (ETRI 2024), Olivier Wambersie, gerente geral de Tecnologia da Shell Brasil, levou a visão da empresa sobre as perspectivas de inovação e os desafios da transição energética. Ao refletir sobre o cenário atual, Wambersie enfatizou que muitas tecnologias necessárias para a descarbonização global ainda estão em fase experimental – e que, de fato, 50% das soluções tecnológicas para reduzir as emissões de carbono sequer existem no momento. Esse quadro coloca um desafio: manter investimentos significativos em tecnologias já comprovadas enquanto se viabiliza a inovação. “Vivemos em um mundo onde muitas das tecnologias que podem transformar nossa matriz energética estão a 10, 20, até 30 anos de alcançar uma escala industrial. Esse é o tempo necessário para que surjam soluções disruptivas capazes de atender às demandas por energia limpa em larga escala. Para isso, é preciso assegurar investimentos consistentes em ativos seguros, que gerem valor para financiar essa transição.” A conferência ETRI 2024, está sendo realizado até amanhã (7), na na USP, em São Paulo, promovendo discussões sobre inovações tecnológicas, políticas públicas e a regulamentação necessária para impulsionar a transição energética e enfrentar os desafios climáticos.
Wambersie explicou como a Shell está posicionada em um cenário de crescente demanda energética, observando que a atual fase é de adição e não de substituição de fontes de energia. Ele destacou o contexto dinâmico e volátil do setor, marcado pelo acrônimo BANI – Brittle (frágil), Anxious (ansioso), Nonlinear (não linear) e Incomprehensible (incompreensível) – que, segundo ele, torna essencial para empresas de energia como a Shell manterem um equilíbrio cauteloso entre os investimentos em tecnologias de longo prazo e a continuidade dos ativos existentes. “Neste mundo instável, é fundamental que nossas estratégias criem mais valor com menos emissões, sempre considerando a incerteza futura.” Segundo ele, o valor gerado nos negócios atuais permite financiar o desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono. E esse modelo é essencial em países como o Brasil, onde a produção de petróleo e gás segue como uma das principais fontes de energia e de receita. “O presidente Lula mencionou isso bem recentemente: a produção de petróleo e gás no Brasil não é apenas uma necessidade energética, mas uma base financeira que permite o investimento em pesquisa, inovação e novos conceitos sustentáveis.”
Um exemplo da complexidade e do tempo necessário para desenvolver tecnologias de transição energética é a planta piloto na USP, que transformará etanol em hidrogênio verde. “A estação de abastecimento é resultado de uma ideia que surgiu há mais de uma década, nascida do trabalho de um doutorando e financiada pela FAPESP. Desde então, ocorreram ajustes, retrocessos, avanços graduais e novos desafios para transformar essa visão em realidade,” explicou Wambersie. Ele comparou o processo a aprender a andar: “Tal como um bebê que cai muitas vezes antes de andar e correr, a inovação tecnológica exige tentativas e ajustes contínuos. Se desistíssemos a cada queda, jamais chegaríamos a resultados concretos.” Wambersie também mencionou a importância da formação de recursos humanos, para dar sustentação às inovações futuras, e das parcerias da Shell no Brasil, que incluem 23 instituições acadêmicas e 1.600 pesquisadores, sendo que 630 estão diretamente ligados ao RCGI (Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa), na USP. Com um investimento de aproximadamente R$ 2,5 bilhões em P&D nos últimos cinco anos.
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