SIEMENS ENERGY INVESTE EM NOVAS TECNOLOGIAS E TRAÇA ESTRATÉGIA PARA AMPLIAR NEGÓCIOS NO BRASIL

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

120A2929O grupo alemão Siemens decidiu neste ano criar uma empresa spin-off dedicada exclusivamente aos negócios do setor de energia. A nova companhia ganhou o nome de Siemens Energy e, passados alguns meses desde sua  formação, já possui planos e estratégias para crescer e conquistar negócios – e o Brasil está ali, bem no cerne desse planejamento. Hoje (14), vamos conversar com o head de Aplicação Industrial da Siemens Energy, Christian Shock, para conhecer os planos da empresa para o país e, em especial, para o setor de óleo e gás. Durante a conversa, foi fácil perceber alguns temas-chave da companhia em O&G, como digitalização, soluções para redução de emissões, eficiência energética e sustentabilidade. O executivo revela ainda que a Siemens Energy terá uma unidade de negócios exclusiva para criação de novas tecnologias, envolvendo temas como o uso de hidrogênio para geração de energia limpa. Para o Brasil, a ideia é oferecer uma grande prateleira de opções para os clientes, desde engenharia até a construção e operação de equipamentos e plantas.

Gostaria de começar a nossa entrevista pedindo para relembrar sobre a decisão de criar a Siemens Energy e a estratégia por trás disso.

A Siemens tem mais de 170 anos de existência. E, nos últimos anos, a Siemens teve alguns casos de sucesso de desmembramento de partes da empresa. Agora, chegou a vez de desmembrar a parte da companhia voltada para energia, que se consolidou nessa nova empresa que se chama Siemens Energy. O principal fator para essa decisão é que cada unidade de negócios da Siemens Energy terá mais liberdade para empreender em seus respectivos mercados. Teremos uma criação de valor de longo prazo, com crescimento mais acelerado, devido à nossa dedicação aos mercados específicos. Com isso, esperamos uma rentabilidade mais forte para nossa empresa e nossos acionistas. Isso tudo parte da base de ter uma estrutura mais simplificada, enxuta e dedicada a esses mercados de energia. Saímos de um cenário de um maior conglomerado, onde dividíamos muitos os recursos, para uma empresa da dimensão e do foco necessários para o mercado de energia.

Somando a marca Siemens, a liquidez financeira e de caixa e uma carteira de projetos em andamento e esperados para o futuro, nós vemos que está se desenhando um início bastante robusto da Siemens Energy, que será colocada no começo de outubro para capital de mercado aberto na Bolsa de Frankfurt.

A essência da empresa será bastante similar ao que a Siemens já era no passado, em termos de colaborar com a sociedade com infraestrutura. Aqui no Brasil, a Siemens está presente há cerca de 150 anos. O propósito da Siemens Energy é continuar colaborando com o país e globalmente com tudo que se diz respeito à energia, levando energia sustentável cada vez mais para o lado de descarbonização. A Siemens toca, de alguma forma, em um sexto de toda a energia produzida e transmitida mundialmente. A ideia da Siemens Energy é, justamente, seguir nessa direção de servir à sociedade e nossos parceiros, mas com especial foco em energia, descarbonização, digitalização e outros aspectos voltados à energia.

Qual o peso do Brasil para os negócios da Siemens Energy? Qual a estratégia traçada para o país?

Santa Barbara dOeste

Planta da Siemens em Santa Bárbara d’Oeste (SP)

Como comentei, a Siemens sempre esteve atuando fortemente na infraestrutura do Brasil ao longo dos últimos 150 anos. Isto é, estamos falando em negócios de geração, transmissão, óleo e gás, serviços, engenharia etc. A Siemens Energy vai assumir toda a parte relacionada com energia e a ideia é continuar essa atuação bastante forte em infraestrutura e suportar nossos clientes com os desafios de descarbonização. As Américas representam um terço do negócio da Siemens Energy. Os Estados Unidos e Brasil são os principais países dentro dessa fração de negócios.

Aqui no Brasil, para dar todo esse suporte de infraestrutura, a Siemens e a Siemens Energy sempre tiveram todas as áreas da empresa presentes no país. Isso não ocorre na maioria dos demais spaíses. O volume de negócios, o número de colaboradores e também o número de fábricas no Brasil sempre mostraram a Siemens como uma empresa muito comprometida com os planos de desenvolvimento do país. A Siemens Energy não será diferente nesse sentido.

O que vai acontecer agora é que teremos a Siemens e a Siemens Energy como duas empresas irmãs. A Siemens Energy focará em eficiência energética, sustentabilidade, digitalização e inovação. Nossos clientes perceberão que a nossa empresa é o parceiro com maior portfólio voltado à energia. Então, são grandes as expectativas do nosso lado para o Brasil.

Vale colocar também alguns projetos icônicos que a Siemens já fez – ou faz parte ainda – no Brasil, como os projetos das usinas termelétricas GNA (RJ), Coari (AM), entre outros. Não são apenas produtos e serviços. Nos orgulhamos muito em ser uma empresa que agrega valor aos nossos clientes e queremos continuar dessa forma. Levamos soluções completas – desde engenharia até construção e operação de equipamentos e plantas. Essa é a linha de estratégia para a Siemens Energy aqui no Brasil.

Falando especificamente sobre óleo e gás, o senhor poderia falar como a área de aplicações industriais da Siemens Energy vai se posicionar para o setor?

O motivo de estarmos transformando o nome desta unidade de negócios para Aplicações Industriais é justamente porque o portfólio que atendemos vai bastante além do tradicional chamado oil & gas. Hoje, 35% do volume de negócios dessa área é voltada para aplicações industriais; cerca de 30% para upstream; e o resto entre mid e downstream. Então, se somarmos os 35% de aplicações industriais com os 15% de mercado de downstream (que inclui muito o âmbito industrial também), estamos falando de cerca de 50% dos nossos negócios voltados ao mercado industrial. Então, a denominação de Industrial Application é justamente para representar isso. O que estamos propondo ao mercado não é dedicado somente ao óleo e gás.

Outro ponto interessante é que toda a parte de serviços vem junto com essa disponibilidade de portfólio. Essa é uma parte muito importante para nossos clientes. Aqui no Brasil, a área de serviços se fortificou muito na última década. A Siemens investiu bastante e, hoje, grande parte da nossa capacidade de conduzir manutenção, operação, upgrades e overhaul de máquinas é local.

Além da parte de serviços, temos a área de equipamentos. Os equipamentos que colocamos para o mercado – de óleo e gás ou industrial – têm muito desenvolvimento em termos de eficiência. A Siemens Energy se dedica muito à pesquisa e desenvolvimento desses produtos, para que sejam cada vez mais eficientes e econômicos. Outro ponto interessante é que temos a fabricação local de equipamentos aqui no Brasil.

Além de equipamentos e serviços, temos ainda o que chamamos de X as a service, porque estamos indo um pouco além do que chamávamos anteriormente de energy as a service. A Siemens Energy está se propondo a ser um parceiro dos nossos clientes para fornecer não somente energia, mas também compressão, vapor e outros insumos. Esse modelo funciona na forma de que nossos clientes não precisam, necessariamente, adquirir e operar um produto que a Siemens fabrica e tem capacidade de maximizar os resultados. O que oferecemos é que a Siemens Energy faça a construção do equipamento ou da planta e entregue a energia, o vapor etc. Assim, nossos clientes focam em colocar seus esforços em seus core business. Esses são os três pilares bastante interessantes que colocamos como frentes de valor que a Siemens Energy se propõe a fazer globalmente – e especialmente no Brasil.

A Siemens Energy está se propondo a ajudar na redução de emissões, visando a extensão de ciclo de vida dos ativos e redução do custo total de propriedade de seus clientes. Como pretendem alcançar esse objetivo?

Turbina da Siemens instalada na usina GNA, no Porto do Açu (RJ)

Turbina da Siemens instalada na usina GNA, no Porto do Açu (RJ)

Isso está bem no cerne da proposição da Siemens Energy e também da unidade de negócios de Aplicações Industriais. Está relacionado com a questão de redução de emissões, otimização de equipamentos e descarbonização. A Siemens Energy está se propondo a oferecer soluções e equipamentos de alta performance, de baixa emissão e, eventualmente, o uso de hidrogênio como fatores de alto impacto para o mercado. Com isso, a ideia é auxiliar nossos clientes nessa jornada de descarbonização.

Para tal, são necessários investimentos para troca completa de equipamentos? Não. Não é necessário que seja feito dessa forma. A Siemens Energy envolve também o que nós chamamos de upgrade. Os equipamentos que nossos parceiros e clientes possuem podem sofrer essas modificações e melhorias para que sigam operando, com o benefício de redução de emissão e, eventualmente, uso de combustíveis mais limpos.

Por exemplo: as turbinas de gás que a Siemens Energy fabrica tem uma disponibilização de queima de até 60% de hidrogênio. Nosso comprometimento é que, até 2030, essa operação seja 100% de hidrogênio. Isso não valerá apenas para equipamentos novos. A Siemens Energy disponibiliza esses upgrades para que sejam feitas melhorias nas turbinas a gás existentes, para que possam operar com até 100% de hidrogênio.

É interessante porque, aqui no Brasil, temos um projeto em andamento com uma indústria química, onde essas turbinas estão sendo instaladas. Elas vão operar com até 60% de hidrogênio. Nosso cliente terá uma redução no consumo de água, uma operação com eficiência energética melhor e redução de emissões. Ou seja: a Siemens Energy está ajudando na jornada de descarbonização de seus clientes.

Esse exemplo que citei envolve apenas turbinas, mas as soluções colocadas pela Siemens Energy envolvem outras soluções, como engenharia, digitalização e automação. Ajudamos em várias frentes. Um dos pontos importantes que sempre discutimos com o cliente é a redução de pessoal operacional, seja numa refinaria ou em uma plataforma offshore. Hoje, muitas das operações conduzidas localmente podem ser feitas de forma remota. E podem, inclusive, aumentar a eficiência, ainda assim trabalhando remotamente.

O senhor mencionou bastante o uso de hidrogênio para geração de energia. Poderia falar mais sobre como pretendem explorar essa tecnologia no Brasil?

É interessante mencionar que dentro da Siemens Energy nós teremos uma unidade de negócios dedicada às novas tecnologias. Toda essa parte de hidrogênio estará muito no cerne dessa unidade. Obviamente, essa área de novas tecnologias vai permear nas demais partes da empresa, porque muito do que for ali desenvolvido será usado nas outras unidades de negócios.

Nós falamos muito de hidrogênio porque estamos observando no mercado uma transição de combustíveis fósseis para combustíveis mais limpos. Se fala muito do gás natural e ele ganha representatividade em paralelo com as energias renováveis, que possuem a sua característica intermitente. O gás tem sim um grande valor, em virtude da redução de emissão que proporciona. Mas olhamos para o hidrogênio como o combustível que fechará esse gap, para que as empresas sejam realmente 100% descarbonizadas. Quando olhamos para o mercado, todas as grandes empresas voltadas para o setor de energia estão se propondo ser carbon neutral em X anos – cada uma com seu comprometimento.

Vemos que grande parte dessas empresas relacionadas com o mercado de energia se propõe a uma descarbonização completa. Assim, enxergamos o hidrogênio como o combustível que será usado para atingir essa meta. Por isso, temos a intenção de focar bastante em hidrogênio. Vemos essa tecnologia avançando cada vez mais rápido nos próximos anos – talvez décadas. Especialmente o hidrogênio verde, que é produzido a partir de energias renováveis para conduzir a eletrólise da água. Com a produção de hidrogênio e o uso de turbinas com este combustível, podemos ajudar nossos clientes a eliminar as emissões de CO2. 

No mercado de óleo e gás, temos desafios maiores para a parte offshore, em função da questão de espaço e energia necessária para produzir o hidrogênio. Mas estamos colocando alguns desafios para o mercado de óleo e gás offshore, sobre como funcionaria a produção de hidrogênio em águas profundas. No final do ano, participarei de alguns eventos para falar sobre o hidrogênio e fontes renováveis no ambiente offshore.

O tema da digitalização tem sempre muito peso dentro da Siemens e gostaria de ouvir do senhor quais são as soluções digitais que a Siemens Energy está preparando para óleo e gás?

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Ilustração mostra áreas de atuação da Siemens Energy

A digitalização está bastante em pauta neste momento. É interessante que, olhando para o mercado, vemos as grandes empresas com uma atenção especial a esse tema. Em várias delas, vemos a criação de um área dedicada à digitalização.

O mercado de óleo e gás no Brasil sempre foi marcado pela inovação. Apesar de ser uma indústria consolidada, os limites de profundidade de operação de plataformas, as áreas exploradas e os volumes de produção sempre foram evoluindo de maneira considerável no Brasil. 

Recentemente, eu vejo uma dedicação especial para digitalização dessas empresas de óleo e gás. Ao meu ver, o foco precisa ser na implementação do que o mercado está dispondo em termos de digitalização. Estamos falando de um setor um pouco conservador na utilização de novas tecnologias. Isso é natural, porque são centenas de operações críticas e de risco. Por isso, são necessárias tecnologias comprovadas. O mercado de óleo e gás não utiliza completamente todas as opções que são desenvolvidas. O desenvolvimento de tecnologias de digitalização andam em passo mais rápido do que a implementação e uso destas no mercado de óleo e gás, mas isso está mudando.

Estamos vendo as empresas investimento mais pesadamente em digitalização. Cremos que a Siemens Energy tem um portfólio muito interessante para auxiliar essas empresas. O foco em redução de pessoal a bordo de plataforma, redução de exposição de pessoal em refinarias ou operações, toda a parte de gêmeos digitais… com todo esse portfólio digital, conseguimos reduzir muito o custo dos nossos clientes e os riscos.

Agora, ao meu ver, cabe às empresas considerar melhorar seus ativos já existentes com as ferramentas de digitalização disponíveis. E, principalmente para os novos ativos, vemos a oportunidade das empresas já iniciarem a fabricação deles com níveis de digitalização mais alto. E aí sim, essas companhias conseguirão capturar todos os benefícios dessa tecnologia embarcada com digitalização. 

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