SINAVAL REBATE PETROBRÁS E DIZ QUE ESTALEIROS BRASILEIROS NÃO FORAM CONSULTADOS PARA FPSO DE LIBRA
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A batalha do presidente da Petrobrás, Pedro Parente, contra o conteúdo local levou a empresa a fazer uma nova investida na justiça contra a indústria nacional, em relação à licitação do FPSO de Libra, alegando que a estatal e o governo estariam tendo um prejuízo de US$ 5 milhões por cada dia de atraso da concorrência, embargada por uma liminar obtida pelo Sinaval. Desse montante, US$ 1,3 milhão seriam da companhia e US$ 3,7 milhões de participações governamentais. A intenção do executivo é seguir adiante com a licitação sem exigência fixa de conteúdo local, já que a estatal tenta junto à ANP um perdão ao descumprimento das exigências do contrato, alegando que os preços para a construção do navio-plataforma no Brasil seriam 40% maiores do que no exterior. O problema é que a Petrobrás não esclareceu ao mercado nacional a origem dessa comparação e o Sinaval agora contesta o embasamento para essas afirmações.
O presidente do sindicato dos estaleiros brasileiros, Ariovaldo Rocha, afirma que os associados não foram procurados para cotar preço para o FPSO do campo de Libra e é categórico quando questionado se haveria alguma maneira de as afretadoras internacionais fazerem esse levantamento no País sem consultar os associados do Sinaval: “Não seria possível”.
Em contraponto, Rocha afirma que o prosseguimento dessa postura da Petrobrás resultaria num prejuízo de “bilhões de reais” para a indústria brasileira, “tendo em vista investimentos em ativos e em pessoal”, já que a maior parte dos estaleiros está sem novos projetos, à espera de oportunidades, depois de intensos investimentos em estrutura e formação de mão de obra nos últimos anos.
O presidente do sindicato afirma ainda que “desconhece” o meio utilizado pelas afretadoras para calcularem seus preços incluindo o conteúdo local, já que os estaleiros brasileiros não foram consultados, e não acredita nos valores 40% superiores alegados por Parente e pela Petrobrás.
“Sou da opinião de que deveria haver uma rodada entre os construtores, para a troca de informações, mas a nossa Petrobrás não se sujeita a isto”, afirma Rocha, defendendo a capacidade da indústria nacional: “Já temos comprovado que, com projeto detalhado pronto, entregamos obras deste porte até com antecedência dos prazos”.
É justamente neste ponto que sempre morou um dos principais problemas na relação dos estaleiros – e das epecistas em geral – com a Petrobrás: a falta de um projeto básico e detalhado bem feito. Nos últimos anos, muitas empresas se aproveitaram disso para mergulhar nos preços e ganhar nos pedidos de aditivos posteriormente, mas muitas também foram seriamente prejudicadas por orçarem suas propostas baseadas em projetos que não tinham o nível de qualificação necessária. O resultado foi uma mescla de corrupção entre algumas empresas – envolvendo políticos, executivos e diretores da estatal – com prejuízos para todos os lados, tendo em vista que muitas acabaram em recuperação judicial ou quebrando no processo.
Ainda assim, os atrasos e a frequência nos estouros dos orçamentos por aqui não divergiram muito de outras partes do mundo, como mostra uma pesquisa realizada pela EY (antiga Ernst & Young), que apontou problemas do tipo em 78% dos megaprojetos desenvolvidos entre 2004 e 2014 ao redor do globo.
Depois de analisar 365 empreendimentos de grande porte de diversos elos da cadeia, como upstream, refino e gasodutos, a empresa constatou que 64% desse total tiveram seus orçamentos estourados, enquanto 73% tiveram atrasos.
Separado por regiões, o estudo mostra que na América do Norte os atrasos se deram em 55% dos casos, enquanto que 58% dos projetos excederam os orçamentos iniciais. Na Europa, os atrasos se deram em 74% dos casos e os sobrepreços em 53%, enquanto que na Ásia – a queridinha da Petrobrás – os atrasos ocorreram em 80% dos casos e os estouros de orçamento em 68% dos casos. Já na América Latina, os atrasos se deram em 71% dos casos e as fugas do orçamento em 57% dos projetos. Veja abaixo o quadro preparado pelo Petronotícias comparando as regiões, segundo o estudo da EY, em ordem decrescente:
Região | Atrasos |
Oriente Médio | 87% |
África | 82% |
Ásia-Pacífico | 80% |
Europa | 74% |
América Latina | 71% |
América do Norte | 55% |
Região | Estouros de orçamento |
Oriente Médio | 89% |
Ásia-Pacífico | 68% |
África | 67% |
América do Norte | 58% |
América Latina | 57% |
Europa | 53% |
Os dados da EY mostram que a América Latina – não há dados específicos do Brasil – não é um bicho de sete cabeças quando se compara a capacidade de realização no preço e no prazo entre todos os continentes. Pelo contrário, a região fica na segunda melhor posição nos dois quesitos, ainda que também apresente problemas além do esperado nestes pontos.
Não são dados novos e há uma série de exemplos de empresas brasileiras que conseguiram fornecer com preço, prazo e qualidade à Petrobrás, assim como muitas estrangeiras que se instalaram no Brasil – influenciadas pela política de conteúdo local –, que investiram fortemente em suas estruturas locais e já até exportam em alguns casos.
É claro que ainda há muito o que evoluir, melhorias a serem feitas, e avanços a serem conquistados pela indústria nacional, mas não é pela indiferença dos contratantes e o abandono da Petrobrás que ela cumprirá essa trajetória. Afinal, todas as indústrias globais enfrentam desafios e precisam se superar para melhorarem suas competitividades e produtividades. Mas, para isso, precisam existir e ter a oportunidade de competir pelo fornecimento para projetos como os de Libra e Sépia.
Como mostra o estudo da EY, os principais fatores que levaram aos estouros de orçamento e aos atrasos na área de óleo e gás foram questões não-técnicas, como gerenciamento de pessoas, problemas de organização e de governança (65% dos casos); estratégias de suprimentos, contratos e gerenciamento de processos (21% dos casos); e fatores externos (14% dos casos), como intervenções governamentais e questões ambientais ou climáticas. Ou seja, o problema dos atrasos da Petrobrás não é a indústria brasileira.
Toda essa mulecagem que a petrobrás está fazendo com as empresas brasileiras só tem um objetivo. Chama-se privatização. Assim como aquele vagabundo ( FHC ), deu a VALE,agora querem dá a petrobrás.
PARECE QUE FOI ONTEM, MAS JÁ SE PASSARAM QUASE DOIS ANOS E A PETROBRAS NÃO AGE COM TRANSPARÊNCIA. VALE A PENA VER DE NOVO O ARTIGO PUBLICADO PELO ENG APOSENTADO ASSIS PEREIRA: https://www.linkedin.com/pulse/sustentabilidade-do-conte%C3%BAdo-nacional-jo%C3%A3o-batista-assis-pereira?trk=pulse_spock-articles SUSTENTABILIDADE DO CONTEÚDO NACIONAL O conteúdo nacional nas plataformas da Petrobras em suas instalações offshore, assim como nos grandes empreendimentos onshore, nas cinco refinarias em construção, não vem funcionado de maneira eficiente. Na prática, possui mais conteúdo político e não vem alcançando o verdadeiro propósito que seria de se esperar deste importante programa nascido com a então ministra Dilma Rousseff, quando da sua passagem pela Casa Civil… Read more »