SINDIGÁS QUER ACABAR COM RESTRIÇÕES AO GLP E TENTA DESENVOLVER NOVOS MERCADOS | Petronotícias




faixa - nao remover

SINDIGÁS QUER ACABAR COM RESTRIÇÕES AO GLP E TENTA DESENVOLVER NOVOS MERCADOS

Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) –

foto 4Desenvolver novos mercados, acabar com barreiras institucionais e superar o estigma de gás de cozinha que até hoje acompanha o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Esses são alguns dos objetivos do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás) para os próximos anos. Um dos maiores problemas hoje para a expansão do uso do combustível é uma norma da Agência Nacional do Petróleo que proíbe a utilização em algumas circunstâncias. No entanto, o presidente do Sindigás, Sergio Bandeira de Mello, aponta outros mercados a serem desenvolvidos, como o agronegócio, que abarca diversos segmentos que podem se beneficiar com a utilização do GLP. Outro campo que pode aumentar bastante o consumo do gás liquefeito de petróleo é a substituição de chuveiros elétricos por sistemas de aquecimento de água com GLP. Porém, o Brasil ainda não é autossuficiente no produto, mesmo com um programa da Petrobrás de 2006 que previa o fim das importações até 2010. Este objetivo caiu por terra e a autossuficiência hoje é planejada para entre 2018 e 2025. A janela é bem grande, mas isso é porque depende de uma série de fatores”, afirma Bandeira de Mello.

Quais as vantagens da utilização do GLP no Brasil?

Em primeiro lugar, temos que falar das baixas emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Em seguida, o conceito de energia em lata é bastante interessante, dado a facilidade de transporte do produto. O botijão de GLP é comercializado em sete tamanhos diferentes, variando de 2kg até 45kg, além da modalidade reabastecível, onde um caminhão vai até o tanque que o consumidor possui e passa o produto para este recipiente. A infraestrutura para transporte do GLP é economicamente mais viável do que a implantação de gasodutos por toda a extensão das mais diversas cidades do país. Tanto isso é verdade que o GLP hoje já está presente em 100% dos municípios do Brasil. Dutos são feitos em direção à indústria, não para abastecer à população de uma maneira geral.

Quais os maiores desafios para a expansão do mercado de GLP?

Hoje, o GLP passa por um crescimento vegetativo, variando entre 1,2% e 1,8% ao ano. Como ainda é um produto associado basicamente ao gás de cozinha, 75% das vendas do GLP vêm de embalagens de até 13kg.

Como superar esse estigma de gás de cozinha?

O produto ainda tem algumas restrições de uso por conta de uma norma muito antiga da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Essa decisão foi tomada em uma época em que estava sendo fomentada a utilização de GLP, no entanto, o subsídio que existia para o insumo já não está valendo desde janeiro de 2002. Inclusive, a última terça-feira (4) foi a data final estabelecida pela ANP para contribuições na consulta pública à respeito das regras de distribuição de GLP. Nós do Sindigás consideramos absurdas a manutenção dessas restrições, que acabam travando alguns mercados, como saunas, piscinas, caldeiras e motores à explosão, exceto empilhadeiras.  

Que outros mercados podem ser explorados sem alterações nas normas da ANP?

São diversas as possibilidades, muitas delas não dependem de apoio do governo, apenas de vontade das empresas do segmento. Um ótimo exemplo é o agronegócio, que apresenta uma possibilidade de aumento de consumo da ordem de 250 mil a 300 mil toneladas de GLP ao ano.

Como poderia ser usado no agronegócio?

Entre as utilizações possíveis no agronegócio está o aquecimento de ninhadas, feito atualmente com energia elétrica, e a substituição da lenha na secagem de grãos pelo GLP. Com essa mudança, é possível estabelecer um controle na secagem, além de a lenha gerar resíduos cancerígenos que ficam no produto final e podem baixar o valor deste mesmo produto em mercados exigentes. Uma outra saída, ainda no agronegócio, é o combate a ervas daninhas com GLP. Ficar limpando as lavouras com enxadas é um trabalho muito difícil, portanto, os agricultores acabam optando pela utilização de agrotóxicos. O que o Sindigás apresenta como possibilidade é a limpeza dessa peste através de uma queima controlada da plantação, em uma temperatura que afete somente a erva daninha.

Que outros segmentos podem ser atendidos?

Alguns outros mercados são mais difíceis de penetrar, devido a uma cultura já estabelecida, mas a substituição de 25% dos chuveiros elétricos do país por aquecimento a gás geraria um aumento de 800 mil toneladas ao ano de consumo. Hoje em dia, 78% dos chuveiros do Brasil tem sua água aquecida com energia elétrica. Mas para adentrar esse segmento é preciso convencer projetistas e construtores. Um grande passo já foi dado com a criação do selo Procel Edificações, junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e ao Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel).

Como o selo se relaciona com o GLP?

Para um edifício obter qualidade A ou B, é obrigatório que não se utilize eletrotermia no aquecimento de água. Mesmo se a instalação usar de aquecimento solar, para obter os graus A e B, é preciso que gases combustíveis estejam presentes no sistema de backup. Se esses e outros mercados que nós estabelecemos como meta forem atingidos, nós estimamos um consumo anual de 10 ou 11 milhões de toneladas de GLP em até 10 ou 15 anos. Contamos também que a produção nacional até esse momento esteja fazendo frente ao consumo.

O Brasil já é autossuficiente em GLP?

Não. Por volta de 2006 nós enxergamos uma perspectiva muito boa de alcançar esse status, com a Petrobrás indicando a autossuficiência até 2009 ou 2010, baseada no aumento da produção obtida nas Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGNs). No entanto, o programa sofreu alguns adiamentos, bastante normais de acontecerem, mas atrasaram o planejamento. A demanda interna cresceu nesse meio tempo, saindo de 6,5 milhões para 7,3 milhões de toneladas/ano. Hoje nós temos como meta alcançar a autossuficiência entre 2018 e 2025. A janela é bem grande, mas isso é porque depende de uma série de fatores. Em termos estruturais, 2025 é uma realidade bem próxima, distante apenas dez anos de hoje. A participação do GLP importado no Brasil hoje está por volta de 24%.

O Brasil se tornará exportador um dia?

Essa possibilidade é real, entretanto, eu considero que seria um pecado nós ficarmos nessa posição. O GLP é derivado do petróleo ou gás natural. Quando se separa o metano dos demais condensados, ainda há uma quantidade enorme de butano e propano e, ao exportar, não estaríamos aproveitando o potencial do insumo ao seu máximo.

O custo do GLP no aquecimento de água é menor que o da energia elétrica?

Sem dúvidas. Basta imaginar o ciclo completo para aquecimento de água. Primeiro é necessário queimar o gás em uma térmica, transmitir a energia gerada pelo sistema, que tem sempre suas perdas, e utilizar o calor para aquecer a água. Com o GLP, o gás chega ao local e lá é feita a queima, minimizando perdas. Além do chuveiro elétrico e do custo, temos também uma utilização em larga escala, ainda, de carvão na matriz energética residencial. De acordo com o Balanço Energético lançado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no ano passado, 24% da matriz energética residencial vem da lenha, que gera diversos problemas para a saúde da população, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A maioria da lenha usada não é certificada, tratando-se de lenha catada por pessoas com menor condição financeira. Essa lenha gera gases tóxicos que, ao serem inalados, são muito prejudiciais à saúde.

O gás não convencional vem sendo bastante discutido. Como ele pode afetar o mercado de GLP?

Já afetou, mas positivamente. Quando entrei no Sindigás, em 2003, o gás não convencional era visto como um inimigo, mas, com o passar do tempo, fomos percebendo que não era da maneira como pensávamos. O aumento da oferta fez os preços despencarem nos Estados Unidos, por exemplo. Uma cultura de mais consumo de gás surgiu com a maior oferta e preços mais atrativos. Hoje, nós nos vemos até na posição de desenvolver mercado para outros tipos de gás, tornando interessante a abertura de gasodutos até locais que não consumiam gás, por exemplo.

Deixe seu comentário

avatar
  Subscribe  
Notify of