SMART GRID REÚNE EM SÃO PAULO PRINCIPAIS EMPRESAS DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA E DEBATEM REGULAÇÃO, INVESTIMENTOS E TARIFAS
A expansão da geração distribuída (GD) no Brasil precisará de regras claras e lastreadas em boas técnicas, a serem criadas pela agência reguladora federal, a ANEEL, de forma a evitar problemas como a sobretensão das redes. Este foi um dos consensos obtidos por presidentes, diretores e altos executivos de CPFL, Energisa, Celesc, Neoenergia, Cemig e Copel reunidos, ontem, no último dia do 16o. Fórum Latino-Americano de Smart Grid, em São Paulo, quando apresentaram seus investimentos em andamento e planos para os próximos ciclos. Criado e promovido pela ECOee Energia Eficiente há 17 anos, o evento desenvolve a colaboração global entre diversas entidades, sempre com o foco de modernização dos serviços de eletricidade e energia, considerando aspectos técnicos, econômicos, ambientais, políticos, legais e sociais. Abrange temas sobre as tecnologias avançadas de integração e gestão de energia, conectividade e demais serviços nas redes elétricas e nas edificações.
Luis Henrique Ferreira Pinto, vice-presidente da CPFL, avalia que cabe ao setor reforçar o papel da ANEEL, para que a agência possa defender uma posição técnica. “A GD vai exigir muito da nossa rede. Vamos ter de pulverizar mais transformadores e reduzir a rede secundária. Mas a ANEEL vai ter de regrar o despacho, já que não será possível negociar o despacho com cada minigerador. E o regulador sabe deste desafio“, afirmou com preocupação. O representante da CPFL defendeu a necessidade de ajustes regulatórios para que as distribuidoras sejam incentivadas a investir nos medidores e tarifas inteligentes. “Agora vai! Finalmente esses investimentos, como a tecnologia smart meter, vão deslanchar“, lembrando, no entanto, o papel da ANEEL para alterar a forma de reconhecer tais investimentos, tema que está em consulta pública para a prorrogação dos contratos de distribuição. “Precisamos que a ANEEL regule, faça o ajuste que precisar para reconhecer investimento diferenciado em novas tecnologias. Assim, todas as empresas terão como investir em novas tecnologias. Se a velha tecnologia for melhor remunerada que a nova, não teremos como investir“, disse Ferreira Pinto.
Denis Mollica, diretor da Cemig, à frente de uma empresa que já conta com 430 mil medidores inteligentes na área metropolitana de Belo Horizonte, sendo 80 mil com conectividade, também se manifestou com temor em relação à questão da sobretensão. A Cemig, por sinal, é a distribuidora com o maior volume de GD no Brasil e, por isso mesmo, criou um P&D para pensar em formas de mitigar tais problemas. Para o diretor da Cemig, o uso de novas tecnologias e da Inteligência Artificial (IA) estará entre as soluções que precisam ser adotadas para dar conta dos desafios que estão postos na ordem do dia. “Batemos quase 4 GW de GD, somos a maior distribuidora do país nesse campo. Logo estaremos exportando energia ao meio-dia, uma situação complicada e atípica. O único jeito de conviver com isso será com tecnologia“, disse Mollica. O plano de investimentos da empresa, informou, está na cada dos R$23 bilhões para o ciclo 2023/2027, sendo R$8 bilhões destinado às novas tecnologias.
Julio Omori, diretor de Operação e Manutenção da Copel, também destacou a importância que medidores inteligentes e outras novas tecnologias podem ter na rede. Para o executivo, eles trazem mais informações aos distribuidores, o que permitirá monitorar novos tipos de elementos das redes, sejam eles GD, baterias ou veículos elétricos. Segundo Omori, o investimento amplo em redes inteligentes vem permitindo ganhos em diversas áreas para as distribuidoras, com novas modalidades tarifárias, observação e controle dos equipamentos conectados à rede, a criação do mercado livre de baixa tensão, o apoio à transição energética, a melhoria da qualidade de atendimento, a troca de dados e, até mesmo, a gamificação do relacionamento com o consumidor e eficiência energética. “Será inevitável essa jornada e, quando começarmos, vamos querer chegar ao fim o mais rápido possível, com diversos benefícios “, concluiu.
Sávio Ricardo, gerente corporativo de Automação e Telecomunicações da Energisa, apresentou os desafios da empresa em suas concessões na região Amazônica, com os trabalhos de eletrificação dos consumidores em regiões isoladas. O projeto foi feito com recursos de pesquisa autorizados pela ANEEL e recursos próprios da empresa. Entre exemplos de projetos que incluem a instalação de medidores inteligentes, está o projeto de digitalização de comunidades ribeirinhas. “Essa população não tinha sequer energia elétrica, de repente, passou a ter Netflix, conectividade e banco. Eram distantes e, em pouco mais de um ano e meio, a realidade mudou. A capacidade que temos de mudar vidas nos motiva“, disse Ricardo. Outro projeto da Energisa é o dos Virtual Power Plants (VPP), que fazem a gestão dos recursos descentralizados, como as placas GD, de forma remota. As soluções da empresa para gerir a grande entrada de geração solar que ocorreu em sua área de concessão no meio do dia foi o uso de baterias, um projeto que está sendo estudado em P&D em Palmas (Tocantins) e se encerra em 2025.
Tarcísio Rosa, presidente da CELESC, trouxe detalhes sobre o plano de investimento da empresa catarinense, da ordem de R$ 4,5 bilhões para o período 2023/ 2026. Ele relatou que o agronegócio está crescendo muito no estado, com pequenos produtores buscando mais tecnologia. Ele contou sobre o projeto SAGA, que busca automatizar as operações da CELESC e a conduzir de forma remota. Serão investidos R$ 94 milhões nesse projeto, que já executou mais de R$ 7 milhões. Para o programa de eficiência energética, foram aprovados R$ 32 milhões, com 24 projetos que estão em andamento. Rosa também abordou o tema da GD, com dificuldade das distribuidoras em fazer qualquer balanço de carga, que hoje não pode ser feita pelas concessionárias e dependerá de regulação da Aneel, trazendo aspectos técnicos e de segurança. “Não somos contra a geração fotovoltaica, mas em Santa Catarina temos 40% das nossas subestações já operando com fluxo invertido em algum momento do dia. E quem assume o prejuízo e cuida disso é a distribuidora”, disse. “Temos de juntos defender uma lei ou regulação que vai evitar a instalação de excedentes de capacidade de geração que possam perturbar a distribuição de energia nas imediações. Como os problemas das distribuidoras do Brasil são para todas, vamos achar uma solução juntos“, disse o presidente da CELESC.
Daniel Picchi, especialista Sênior em Smart Grids da Neoenergia, enumerou os desafios que o setor já está enfrentando e que também motivam o estudo e adoção de soluções de digitalização: mudanças climáticas, descarbonização e eletrificação, GD e veículos elétricos. Para abordar tais desafios, a empresa aposta na inovação tecnológica. “A digitalização do grupo Iberdrola está em 77% em 2023. A meta, agora, é chegar em 90% até 2030?”, citou Picchi. Entre tais investimentos, Picchi destacou o investimento na frequência de LTE 400MHz, que permite preparar a rede da Neoenergia em suas diversas áreas de concessão para próximas fases de investimentos. “Falamos muito de universalização, de trazer a rede elétrica até o cliente, e agora temos de falar da universalização das soluções que trazemos. Os clientes na área urbana têm muitos serviços que nem sempre o rural tem. Temos de avançar nisso, o que passa por ter uma infraestrutura de comunicação, e achamos que a rede LTE é um grande ativo para alcançar essa universalização do serviço“, disse Picchi.
Deixe seu comentário