S&P GLOBAL DIZ QUE ESCALADA DE TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO PODE TER SÉRIAS CONSEQUÊNCIAS PARA O FLUXO GLOBAL DE PETRÓLEO
Os drones lançados pelo Irã na madrugada de domingo (horário local) não deixaram danos significativos em Israel, mas abriram caminho para mexer em toda a geopolítica global, com potenciais danos também aos fluxos mundiais de petróleo, segundo avalia a consultoria S&P Global. Qualquer retaliação de Israel contra Teerã, especialmente direcionada às instalações de petróleo iranianas, teria grandes implicações nos mercados de energia e poderia rapidamente envolver outros grandes produtores, incluindo os colegas de Teerã, tais como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, que anteriormente tiveram suas refinarias, oleodutos e portos alvos de milícias houthis apoiadas pelo Irã no Iêmen. O Oriente Médio responde por cerca de 40% das exportações globais de petróleo. O Irã também ameaçou fechar o Estreito de Ormuz, que conecta o Golfo Pérsico ao Mar Arábico, por onde passam cerca de 20 milhões de barris por dia de petróleo, condensado e combustíveis refinados por via marítima, juntamente com quase 11 bilhões de pés cúbicos por dia de GNL.
“Um ataque direto do Irã contra Israel é muito alarmante, especialmente para o mercado de petróleo”, disse o chefe de pesquisa de petróleo bruto, energia e mobilidade da S&P Global Commodity Insights, Jim Burkhard. “A guerra não é sobre petróleo, mas os fluxos de petróleo poderiam ser impactados de forma significativa. Mas é cedo demais para ter certeza”, acrescentou.
Além de uma retaliação militar israelense, a Casa Branca poderia intensificar a aplicação de suas sanções ao Irã, restringindo as exportações de petróleo que foram permitidas a aumentar ao longo do último ano, mas isso poderia vir com uma pressão adicional dos EUA sobre a Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo bruto do mundo, e outros produtores da OPEP para aumentar a produção e mitigar quaisquer perdas nos fluxos iranianos.
A Agência Internacional de Energia estima que a aliança OPEP+ tenha cerca de 6 milhões de barris por dia de capacidade de produção ociosa que poderia ser utilizada, se considerado necessário. Os EUA também poderiam liberar mais petróleo de sua Reserva Estratégica de Petróleo. A produção de petróleo bruto do Irã atingiu 3,12 milhões de barris por dia em março, de acordo com a última pesquisa Platts OPEP+ da S&P Global Commodity Insights, um aumento de mais de 600 mil barris por dia em relação ao ano anterior.
A aliança OPEP+ implementou uma série de cortes na produção, sendo que o mais recente des entrou em vigor em 1º de janeiro, com o objetivo de reforçar o sentimento de mercado abalado pela perspectiva incerta da economia global em meio a uma inflação ainda alta nos principais mercados e dados industriais conflitantes da China. Os cortes levaram muitos analistas a estimarem que o mercado de petróleo estará em déficit de oferta durante grande parte, se não todo, o ano de 2024, e os preços do petróleo bruto subiram em consequência. As tensões geopolíticas decorrentes dos conflitos Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia também impulsionaram os preços.
“A situação é fluida e se Israel sinalizar que não irá retaliar, o mercado poderá ficar muito mais calmo”, disse o analista-chefe da Global Risk Management, Arne Anders Lohmann Rasmussen. Pouco antes dos lançamentos de drones e mísseis no final de semana, as forças militares do Irã apreenderam o MSC Aries, um porta-contentores de bandeira portuguesa e propriedade ligada a Israel, a cerca de 50 milhas náuticas do porto de Fujairah, no leste dos Emirados Árabes Unidos, perto do Estreito de Ormuz.
O Irã aumentou de forma significativa suas exportações de petróleo, sua principal fonte de receita, durante a administração de Joe Biden. Sob o governo anterior de Donald Trump, essas exportações foram drasticamente reduzidas. Trump enfrentará Biden em uma nova disputa nas eleições presidenciais de novembro. A diminuição das exportações iranianas poderia resultar em um novo aumento nos preços do petróleo e no custo da gasolina nos Estados Unidos, um tema que costuma ser decisivo em anos de eleições. Outro aspecto a ser considerado é o impacto no transporte marítimo pelo Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de um quinto do consumo total mundial de petróleo diariamente. O comandante da Marinha da Guarda Revolucionária do Irã afirmou na última terça-feira que Teerã poderia fechar o estreito se julgar necessário.
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