TENSÕES ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA PODEM COMPROMETER ATÉ 30% DAS IMPORTAÇÕES DE GÁS DA EUROPA
A escalada das tensões entre a Rússia e a Ucrânia pode colocar em risco até 155 bilhões de metros cúbicos por ano de importações de gás natural da Europa, no caso de uma guerra entre os dois países. O volume corresponde a 30% da demanda anual de gás da Europa Ocidental, de acordo com uma estimativa da empresa norueguesa Rystad Energy. Mesmo que seja difícil um desligamento total do gás canalizado russo, os mercados de gás europeus estão entrando na reta final do inverno em uma posição precária. Os estoques do insumo estão em patamares mínimos de cinco anos, os preços internacionais de GNL são altamente voláteis e, para piorar, subiu no telhado o início de operação do gasoduto Nord Stream 2 – que não deve estar operacional até o segundo semestre deste ano.
“Apesar da política implícita da Europa de reduzir sua dependência do gás russo – como demonstrado pelo aumento significativo nas instalações de importação de GNL na costa da Europa Ocidental nos últimos anos – a Rússia desempenha um papel fundamental para ajudar a atender às necessidades de gás da região. Como resultado, qualquer conflito militar pode ter sérias ramificações para o fornecimento de gás europeu”, avaliou o vice-presidente de análise de mercado de gás e GNL da Rystad Energy, Sindre Knutsson (foto à direita).
Imaginando um cenário no qual as exportações russas fossem totalmente fechadas, a Europa teria problemas para atender às suas necessidades de gás. A Europa Oriental seria a região mais castigada, pois é a mais dependente das importações russas, enquanto a Europa Ocidental poderia, em teoria, preencher o vazio com o aumento das importações de GNL, principalmente dos EUA.
No entanto, a regaseificação, o processo de conversão de GNL de volta em gás antes de enviá-lo por gasoduto para os países importadores, pode ser um obstáculo para novas importações. A capacidade de regaseificação da Europa Ocidental estava operando a 100% no mês passado, e a capacidade ociosa para acomodar um aumento futuro nos volumes de importação é mínima.
Dos 155 bilhões de metros cúbicos de gás canalizado que a Europa importou da Rússia em 2021, 40 bilhões de metros cúbicos passaram pela da Ucrânia, um fornecimento que provavelmente seria interrompido no caso de uma escalada militar entre os dois países. Se apenas os 40 bilhões de metros cúbicos fossem retirados da mesa, a Europa poderia compensar a diferença com relativa facilidade, mas teria que pagar preços spot mais altos pelos volumes de reposição.
Os níveis de armazenamento de gás na Europa permanecem historicamente baixos em 45 bilhões de metros cúbicos atualmente. Isso é 30% inferior à média de cinco anos e equivale a apenas dois meses de gás para atender à demanda média de inverno. Como resultado, a região é particularmente vulnerável a movimentos de curto prazo na oferta e demanda, como evidenciado por picos recordes nos preços do gás negociados no Dutch Title Transfer Facility (TTF) nos últimos meses. Isso também significa que qualquer interrupção nos fluxos de gás russo via Ucrânia para a Europa afetaria imediatamente os preços negociados, a demanda de importação de GNL e a troca de gás para carvão para geração de energia, entre outros fatores.
A Rystad lembra ainda que a Europa Ocidental já está adquirindo gás extra do mercado de GNL e maximizando a capacidade de importação depois que os suprimentos russos caíram significativamente no mês passado devido aos menores fluxos de gás através da Ucrânia e do gasoduto Yamal-Europa funcionando em sentido inverso. As importações de GNL na Europa Ocidental totalizaram 294 milhões de metros cúbicos por dia em janeiro de 2022 – um novo recorde histórico utilizando 100% da capacidade de regaseificação da região – com a maioria dos volumes adicionais vindo dos EUA. Do total de 8,6 bilhões de metros cúbicos de GNL que a Europa Ocidental importou em janeiro, 56% ou 4,8 bilhões de metros cúbicos vieram dos EUA; 1,7 bilhões de metros cúbicos da Rússia; e 0,7 bilhões de metros cúbicosdo Catar.
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