TRABALHO DE MODERNIZAÇÃO FEITO PELA ELETRONUCLEAR ELEVOU PROJETO DE ANGRA 3 AO MESMO NÍVEL DE CONFIANÇA DE USINAS MAIS RECENTES
Enquanto o governo brasileiro bate cabeça sobre o destino de Angra 3, uma considerável quantidade de países está abraçando a tecnologia nuclear. Na Ásia, por exemplo, a geração de energia por meio desta fonte cresceu 5% no último ano, segundo um recente levantamento da Associação Nuclear Mundial (WNA). No Brasil, contudo, existe ainda muita resistência que atrapalha a expansão do parque termonuclear no país. Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chegou a dizer que as tecnologias usadas em Angra 3 seriam antigas. A realidade, porém, é outra. A construção de Angra 3 começou em 1984 e foi interrompida em vários governos. Por conta dessas paralisações, a Eletronuclear precisou fazer grandes atualizações no projeto, de modo a manter o empreendimento dentro dos melhores padrões de segurança e desempenho. De acordo com um relatório produzido pela própria empresa, as melhorias introduzidas em Angra 3 são similares às soluções implantadas recentemente nas usinas existentes e em construção. Essas características, diz um relatório da empresa, colocam Angra 3 em um padrão de segurança compatível com as usinas nucleares mais recentes.
O tipo de reator adotado em Angra 3, como nas demais unidades da Central Nuclear de Angra dos Reis, é o de Água Pressurizada (PWR, na sigla em inglês). Esse modelo permanece predominante no cenário internacional, tanto entre as unidades em operação como nas novas unidades em construção. Outro ponto importante é o fato de o projeto de Angra 3 utilizar Angra 2 como usina de referência, incorporando todas as modificações introduzidas com o objetivo de melhoria de segurança e desempenho.
Angra 3 é considerada como uma “irmã gêmea” de Angra 2, mas ainda assim terá alguns atributos ainda mais modernos. A usina contará com equipamentos de Instrumentação e Controle digital no mesmo padrão dos projetos mais recentes de usinas nucleares, o que deve contribuir para um melhor desempenho e segurança da planta. “A sala de controle de Angra 3 é projetada com tecnologia digital e reflete o estado da arte em projetos de sala de controle. As atuações de componentes e monitoração de processos e alarmes são realizadas através de telas digitais em computadores”, diz o relatório da Eletronuclear.
O documento ressalta ainda as melhorias introduzidas em Angra 3 no quesito de segurança. Esses avanços são similares às soluções implantadas recentemente nas usinas existentes e em projetos atuais de concepção similar à de Angra 3. Essas características do projeto, diz a Eletronuclear, mostram que Angra 3 será uma usina moderna e com um padrão de segurança compatível com outras plantas atualmente em construção pelo mundo. Como exemplo, devido ao acidente de Fukushima Daiichi (em 2011, no Japão), os princípios básicos de projeto, que levaram ao acidente, foram reavaliados para Angra 2 e 3 pela equipe técnica da Eletronuclear.
“Angra 3 terá um desempenho similar e, em alguns casos superior, devido às melhorias e novos equipamentos (Instrumentação e Controle digital). Não foram identificadas melhorias nos projetos atuais que indiquem desempenho operacional inferior em Angra 3. Algumas características de Angra 3 indicam uma disponibilidade operacional maior do que outros projetos atuais”, finaliza o relatório.
GERAÇÃO NUCLEAR AVANÇA NA ÁSIA E NOS ESTADOS UNIDOS
Em 2022, a energia nuclear forneceu cerca de 10% da eletricidade mundial e cerca de um quarto de toda a eletricidade limpa de baixo carbono no planeta. Na Ásia, a geração nuclear aumentou 5% no ano passado e mais do que dobrou na última década. Os dados estão disponíveis no World Nuclear Performance Report 2023, relatório divulgado pela WNA neste mês.
Na Ásia, o governo sul-coreano reverteu a política de eliminação gradual da gestão anterior e divulgou uma versão atualizada do plano de energia de longo prazo, pedindo um aumento na capacidade nuclear. No Japão, o governo adotou uma política que maximiza o uso dos reatores existentes e desenvolve reatores avançados. “Embora o crescimento da geração nuclear na Ásia seja forte, em outros lugares não está crescendo rápido o suficiente para enfrentar os desafios de garantir a segurança energética, combater o clima mudança e fornecer acesso à energia limpa para todos”, alerta a diretora geral da WNA, Sama Bilbao y León (foto à esquerda).
Enquanto isso, na América do Norte, o trabalho para estender a operação dos reatores Candu do Canadá está progredindo bem, e há planos para a construção de vários pequenos reatores modulares (SMRs). Nos EUA, como noticiamos no final de semana, o processo de inicialização das unidades AP1000 em Vogtle está em andamento, e os investimentos e incentivos fiscais incluídos no Inflation Reduction Act reforçarão o compromisso do país em maximizar o uso de suas usinas nucleares existentes e incentivar a implantação de novas usinas nucleares tecnologia. “Um número crescente de governos está reconhecendo o valor da geração nuclear para enfrentar todos esses desafios”, avaliou Sama.
Além de ser uma fonte com baixa emissão de gases do efeito estufa, outros fatores estão pesando decisivamente a favor da escolha da opção nuclear. O diretor técnico da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares, Leonam Guimarães (foto à direita), afirma que a energia nuclear pode desempenhar um papel significativo na estabilidade dinâmica de sistemas elétricos de grande porte de várias maneiras.
“As usinas nucleares são capazes de fornecer uma geração constante de energia elétrica, independentemente das flutuações na demanda ou nas condições climáticas. Isso proporciona uma base estável para o sistema elétrico, ajudando a equilibrar a carga e a oferta”, analisou. “As fontes de energia renovável, como solar e eólica, são variáveis por natureza, sujeitas a mudanças climáticas. As usinas nucleares podem fornecer uma base de geração constante para compensar as flutuações nas energias renováveis, mantendo a estabilidade da rede”, acrescentou.
Por fim, Guimarães ressalta que a energia nuclear é uma fonte confiável e previsível de geração de energia, o que facilita o planejamento de longo prazo para o sistema elétrico. “Isso ajuda a evitar crises de energia e permite a implementação eficiente de medidas de mitigação”, concluiu.
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