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TRACTEBEL APOSTA EM SMRs PARA DIVERSIFICAR MATRIZ ENERGÉTICA E APOIA PROJETO INOVADOR CONTRA O CÂNCER NO BRASIL

paulo-coelhoO Brasil tem potencial para se tornar um protagonista global no setor nuclear, mas, para isso, precisa avançar em um novo marco regulatório que atraia investimentos privados, reduza a burocracia e viabilize tecnologias como os pequenos reatores modulares (SMRs). Essa é a avaliação de Paulo Coelho, Head de Nuclear da Tractebel para Brasil, Chile e Canadá, nosso entrevistado desta quinta-feira (17). Para o executivo, os SMRs podem contribuir para diversificar a matriz energética, descarbonizar indústrias, gerar energia em locais remotos e atender à crescente demanda de data centers. Coelho também destaca o potencial dos reatores modulares para impulsionar o desenvolvimento da cadeia produtiva nacional. “Porém, para que essas oportunidades se concretizem, é essencial um marco regulatório robusto. Esse marco precisa proporcionar segurança jurídica aos investidores, simplificar o processo de licenciamento e incluir incentivos fiscais estratégicos para atrair capital nacional e internacional”, defendeu. Além do foco em energia, o executivo comentou a atuação da Tractebel na área de medicina nuclear. A empresa está apoiando a instalação do primeiro equipamento de protonterapia do país — método avançado de radioterapia que pode transformar o tratamento do câncer. “A chegada dessa tecnologia no Brasil representa um marco, não apenas por ampliar as opções de tratamento para pacientes com câncer, mas também por fortalecer a integração de tecnologias avançadas de saúde no setor médico brasileiro”, concluiu.

Para começar nossa entrevista, poderia atualizar nossos leitores sobre os projetos mais recentes da Tractebel Engie no setor nuclear brasileiro?

angra3-foto001O setor nuclear brasileiro, em si, ainda é incipiente. Mas estamos envolvidos em projetos importantes como a reativação de Angra 3, o Reator Multipropósito Brasileiro e na área da Saúde, com a instalação do primeiro equipamento de protonterapia no país. 

Como avalia o papel do Brasil no cenário mundial de energia nuclear?

Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) 2025, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a fonte nuclear foi responsável por 2,1% da matriz energética brasileira em 2024, um pouco mais do que no anterior, quando a geração nuclear foi responsável por 2% da matriz energética. Brasil possui a 7ª maior reserva mundial de urânio e domina o ciclo completo do combustível nuclear, destacando-se em capacidade técnica e recursos naturais. O país também busca expandir sua participação com a conclusão de Angra 3, ampliando sua capacidade instalada de 1.990 MW para cerca de 3.395 MW, ou seja aproximadamente 3% da matriz energética. Este aumento da participação da energia nuclear na matriz elétrica brasileira, esse incremento de uma fonte de energia firme, confiável e de baixo carbono, fortalecerá a segurança energética e a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN), além de diversificar a matriz nacional.

Pensando no médio e longo prazo, quais são hoje as principais oportunidades de negócios para a companhia no segmento nuclear brasileiro?

wl1200hp1200q85_nuclear_power_plant_4535761A implantação de energia nuclear no Brasil, no médio e longo prazo, representa uma oportunidade estratégica de transformação econômica e energética, com impactos relevantes em várias áreas chaves para o desenvolvimento nacional. A energia nuclear pode cumprir um papel central ao oferecer geração firme e de baixo carbono, essencial para garantir segurança energética em um cenário de continuo aumento da demanda por energia impulsionada por novas tecnologias, como Inteligência Artificial (IA) e a expansão de data centers.

A médio prazo, a conclusão da usina de Angra 3 ampliará a capacidade nuclear instalada no Brasil em 1.405 MW, diversificando a matriz energética e reduzindo a dependência de fontes intermitentes como eólica e solar, além de suplementar a geração hidrelétrica em momentos críticos, como períodos de seca. No longo prazo, a adoção de novas tecnologias, como Pequenos Reatores Modulares (SMRs), pode revolucionar o setor ao oferecer soluções nucleares flexíveis, seguras e adaptáveis a diferentes cenários, desde áreas remotas até demandas urbanas e industriais específicas.

Paralelamente, o Brasil possui uma vantagem competitiva única com suas vastas reservas de urânio, atualmente subexploradas, que podem posicionar o país como líder global na produção e exportação de combustível nuclear. Associado à inovação tecnológica e a um mercado global em busca de alternativas de baixo carbono, o Brasil poderia ainda expandir sua atuação em áreas de alto valor agregado, como a produção de radioisótopos para aplicações médicas, industriais e agrícolas, atendendo à crescente demanda nacional e internacional.

A presença de um marco regulatório que permita o investimento privado no segmento nuclear é ponto fundamental para essas transformações.

Em sua opinião, quais medidas estruturantes e regulatórias considera essenciais para ampliar a atratividade de investimentos no setor nuclear brasileiro?

w500h265zcCq85_nuclear_new_build_taishanPara ampliar a atratividade de investimentos no setor nuclear brasileiro, é imprescindível adotar medidas estruturantes e regulatórias que proporcionem segurança jurídica, previsibilidade e um ambiente favorável à entrada de capital privado, mantendo o alinhamento às melhores práticas internacionais.

No campo regulatório, a criação de um novo marco que permita a participação do setor privado no ciclo nuclear é fundamental. Esse marco deve estabelecer regras claras e transparentes, previsíveis a longo prazo, além de facilitar o desenvolvimento de parcerias público-privadas (PPPs).

Do ponto de vista estruturante, é essencial investir na modernização da infraestrutura energética, garantindo que novas usinas nucleares e tecnologias avancem de forma integrada e eficiente ao SIN. Outro aspecto estratégico é aproveitar o potencial das grandes reservas de urânio do Brasil, desenvolvendo atividades de mineração, enriquecimento e exportação, o que poderia fortalecer a posição do país como um dos líderes globais no mercado nuclear. Para isso, é necessário implementar incentivos fiscais e linhas de crédito para operadores e empresas que queiram operar no setor, desde exploração de insumos até a gestão energética final.

Adicionalmente, o Brasil deve posicionar-se para se beneficiar das inovações tecnológicas, como os SMRs, que oferecem flexibilidade, eficiência e menores impactos ambientais. Medidas que agilizem os processos de licenciamento ambiental e operacional, garantindo rigor técnico sem excessos burocráticos, são igualmente indispensáveis. Por fim, harmonizar as regulações nacionais com padrões globais de segurança e operação definidos pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) trará credibilidade ao setor e ampliará o interesse internacional.

Essas iniciativas estruturantes e regulatórias, além de atrair investimentos, fortalecerão a segurança energética do país ao diversificar a matriz energética com uma fonte firme e de baixo carbono.

Muito se discute sobre o papel dos reatores modulares pequenos (SMRs) no futuro da geração de energia. Como a Tractebel tem se preparado para essa tendência?

SMR_new-website_4_cropA Tractebel tem mais de 60 anos de experiência em projetos nucleares. No caso dos SMRs trabalhamos em projetos para o setor industrial para avaliar a viabilidade da tecnologia para gerar energia em substituição a fontes de energia que geram emissão de CO2 e outros hidrocarbonetos.

E como avalia as oportunidades de negócios com SMRs no contexto brasileiro?

Os Pequenos Reatores Modulares (SMRs) representam uma das maiores oportunidades para o Brasil diversificar sua matriz energética e atender demandas específicas de setores estratégicos, com destaque para o impacto crescente da Inteligência Artificial (IA) e a expansão de data centers no país. Essas tecnologias têm o potencial de transformar a segurança energética nacional ao oferecer energia estável, limpa e personalizada para diferentes contextos geográficos e econômicos.

Uma das aplicações de maior relevância no contexto brasileiro está no fornecimento de energia para data centers, um setor diretamente impactado pelo avanço da digitalização e do uso intensivo de tecnologias de IA. Os SMRs, com sua geração firme e previsível, são uma solução estratégica, podendo ser instalados em locais próximos aos data centers para evitar perdas de transmissão e garantir independência energética, algo essencial para esse segmento.

Além disso, os SMRs são uma alternativa inovadora para atender regiões remotas e isoladas, como o interior do Brasil ou a Amazônia, onde a expansão da infraestrutura elétrica tradicional é cara e logística. Hoje, muitas dessas áreas dependem de geradores a diesel, que têm altos custos operacionais e são prejudiciais ao meio ambiente. Os SMRs podem substituir essas fontes por um modelo de geração mais limpo, eficiente e sustentável, alinhado aos compromissos de descarbonização do Brasil.

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Pequeno reator modular da Steady Energy, na Finlândia, conta com engenharia da Tractebel

No campo industrial, setores como mineração, siderurgia e petróleo e gás, que possuem altos requisitos energéticos, podem se beneficiar significativamente do uso de SMRs. Em locais de operação remota ou onde o acesso à rede elétrica é limitado, os SMRs oferecem uma solução confiável, reduzindo custos e garantindo estabilidade energética para sustentar operações intensivas.

Além do fornecimento de energia, os SMRs também representam um enorme potencial de desenvolvimento na cadeia produtiva brasileira. A fabricação de peças, desenvolvimento de tecnologia e projetos de engenharia poderiam fomentar a indústria local, gerar empregos qualificados e posicionar o Brasil como líder em inovação nuclear. Criar um ambiente de incentivo para financiar pesquisa e desenvolvimento, especialmente em tecnologias avançadas como SMRs, também contribuiria para que o país exportasse conhecimento e equipamentos para outros mercados.

Porém, para que essas oportunidades se concretizem, é essencial um marco regulatório robusto. Esse marco precisa proporcionar segurança jurídica aos investidores, simplificar o processo de licenciamento e incluir incentivos fiscais estratégicos para atrair capital nacional e internacional.

Gostaríamos de saber também sobre a atuação e os planos da Tractebel Engie no segmento de medicina nuclear — especialmente no que diz respeito à protonterapia, se for possível comentar.

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Projeto de protonterapia da Tractebel em parceria com a IBA na Bélgica

A Tractebel é parceira da IBA (Ion Beam Applications), referência mundial em tecnologia de aceleradores de partículas e fornecimento de equipamentos e serviços para protonterapia, desempenhando um papel estratégico no desenvolvimento de instalações para essa tecnologia. A empresa é responsável pelo projeto de engenharia, pela gestão de construção e otimização das instalações, além de realizar análises detalhadas de integridade estrutural, estimativas de custo e outros aspectos técnicos necessários para garantir o sucesso e a eficiência desses projetos.

Recentemente, a Tractebel está envolvida no suporte à instalação do primeiro equipamento de protonterapia do país, que terá um impacto transformador no tratamento de câncer. A chegada dessa tecnologia no Brasil representa um marco, não apenas por ampliar as opções de tratamento para pacientes com câncer, mas também por fortalecer a integração de tecnologias avançadas de saúde no setor médico brasileiro.

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