TRADENER ESTIMA POTENCIAL DE ECONOMIA DE ATÉ R$ 20 BILHÕES NO BRASIL COM A AMPLIAÇÃO DO MERCADO LIVRE DE ENERGIA
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
O mercado livre de energia vem ganhando novos adeptos com o tempo no Brasil, mas ainda está restrito ao setor industrial. E, mesmo assim, não em sua totalidade, além de trazer em si alguns problemas regulatórios que vêm afetando a competitividade de uma parte da indústria, segundo o presidente de Tradener, Walfrido Avila, que lidera o processo de comercialização de energia brasileira para a Argentina. O executivo exalta o mercado livre de energia e acredita que o país tenha um potencial para economizar até R$ 20 bilhões caso a abertura do sistema se dê para todos os consumidores, incluindo os comerciais e residenciais. “Nós abrimos o mercado há 20 anos, mas não abrimos para todo mundo. É uma incompetência brasileira. A CCEE quer saber quem está comprando energia de quem, mas não precisa disso. Basta controlar os consumidores grandes”, diz Avila, que reclama ainda do atraso na revisão de regulamentações antigas por parte da Aneel, como no caso da obrigatoriedade de compra de energia incentivada por parte das indústrias que foram ligadas em tensão de até 69 kV ao sistema nacional antes de 95. “Não tem explicação. Chama burocracia burra. Uma fábrica que consumia 3 MW antes de 95 não pode comprar energia convencional. Mas se ela foi inaugurada depois, aí pode. Não tem sentido. E isso está causando diferença de concorrência entre as empresas, porque o preço varia muito entre a energia incentivada e a convencional”, afirma o executivo.
Em relação à exportação para a Argentina, ele conta que as principais fornecedoras atualmente tem sido a Petrobrás, a Engie (ex-Tractebel) e a Norte Fluminense, com um preço médio de R$ 250 por MW, mas ressalta que há um total de cerca de 8 mil MW ociosos no País atualmente, de modo que a exportação poderia ir muito além dos os 2,1 mil MW a serem direcionados para o país vizinho, caso houvesse demanda – e estrutura para conversão.
Como está sendo o processo de comercialização de energia brasileira para a Argentina?
É um processo que acontece quase todo ano. A Argentina tem deficiência de energia na época do inverno e agora com a retomada da economia um pouco mais. Estão solicitando em média 500 MW por dia e o Brasil está fornecendo a partir de geração térmica, de todos os tipos, pela ordem de preço informado. A gente faz a comunicação com os geradores, que têm contrato conosco, eles informam o preço toda semana e os mais baratos exportam.
Toda sexta feira a Argentina comunica quanto ela quer para a semana seguinte, faz o depósito de garantia, e o despacho inicia na sexta à noite indo até a outra sexta.
Quem são os compradores?
São várias empresas inscritas. Hoje, são as térmicas maiores. Quem tem feito mais a exportação tem sido a Petrobrás, a Engie (ex-Tractebel), a Norte Fluminense, que estão mais competitivas, mas têm várias empresas de Goiás, do Nordeste, do Distrito Federal, do Paraná, entre outros lugares, que estão cadastradas para isso. Mas elas não têm preço competitivo ainda. Se o preço subir, elas passam a ser competitivas.
A Argentina importa por falta de térmicas apenas ou também por uma opção de competitividade?
À medida que temos térmicas mais baratas que as deles, vale mais a pena para eles importarem daqui. A hora que as nossas térmicas ficarem mais caras, pode ser que eles liguem mais as locais. Mas estão numa recuperação de mercado agora e não tiveram muitos investimentos nisso no passado, então estão precisando de mais energia mesmo.
Qual o perfil dominante atualmente entre as fontes utilizadas aqui para exportação dessa energia
Carvão e gás. O preço vai variar em média de R$ 250 por MW, que é um preço bastante competitivo para os próprios argentinos. O Brasil está numa fase em que quase não está usando energia térmica, então temos térmicas de um valor ainda baixo.
Como se dá esse contrato?
Vencemos uma licitação na Argentina. A CAMMESA (Compañia Administradora del Mercado Mayorista Eléctrico S.A) fez uma licitação de comercializadores brasileiros aptos a exportar e nós vencemos. Fomos contratados para fazer este trabalho que exige uma série de responsabilidades fiscais e contratuais aqui no Brasil, com prazo até o final de 2018.
Qual o cronograma de metas a serem atingidas neste processo?
O limite máximo é o da Estação Conversora de Frequência de Garabi, que passa no máximo 2.100 MW. Nosso sistema é de 60 ciclos e o deles é de 50 ciclos, então precisa haver essa conversão e a estação tem esse limite máximo. Mas não tem um piso para essa exportação.
O País está com excedente de geração de que ordem?
Estamos com mais de 8 mil MW desligados de térmicas. Pode ser até um pouco mais que isso. Então temos de sobra para atender aos 2 mil MW que eles querem. Nosso sistema é muito maior que o deles.
Caso o nível dos reservatórios brasileiros volte a baixar, como aconteceu recentemente, e o risco energético suba, há cláusulas previstas para o rompimento desses contratos e o respectivo atendimento à demanda nacional?
Se essas térmicas de custo mais baixo forem chamadas para fornecimento ao Brasil, são suspensas da possibilidade de exportação. Então é comunicado outro preço para a Argentina e eles decidem se têm interesse ou não. Não gera nenhum risco para o Brasil. Essa é a premissa básica para a exportação. Consta do acordo que temos para exportar.
Outros países poderiam ser atendidos no entorno também? Algum já demonstrou interesse?
Só dá para exportar para onde temos linhas de transmissão, de modo que só conseguimos atender Argentina e Uruguai. Tem essa conversora na Argentina de 2.100 MW. No sul tem mais uma pequena, de 70 MW, e no Uruguai tem mais duas, uma de 500 MW e outra de 70 MW. As do Uruguai são da UTE, a estatal elétrica de lá. Nós éramos o comercializador deles até o ano passado, mas esse ano não estão mais importando. Pelo contrário, viraram nossos concorrentes e também estão exportando para a Argentina, com quem eles têm uma ligação de outros 500 MW.
Como avalia o avanço do mercado livre de energia no Brasil hoje?
Deu uma aquecida. Até o crescimento do mercado livre, que falaram que ia baixar, está superior ao que foi planejado. Hoje ele representa de 25% a 28% do mercado brasileiro. E o mercado global brasileiro cresceu esse ano, com uma carga superior à do ano passado já. A previsão era menor, mas o mercado está realizando mais do que se pensava. Inclusive com o inverno mais intenso no País, que poderia reduzir o consumo.
O que pode ser melhorado no mercado livre brasileiro?
O mercado livre no Brasil tem umas coisas interessantes que podem ser comentadas, que são as diferenças que existem entre alguns consumidores. A lei fala, por exemplo, que consumidores que demandem mais de 3 MW e que estavam ligados à rede antes de 95 só podem comprar energia de fontes incentivadas. Não pode comprar energia hidráulica, por exemplo. Já quem foi ligado à rede depois de 95 pode.
Qual a explicação?
Não tem explicação. Chama burocracia burra. Uma fábrica que consumia 3 MW antes de 95 não pode comprar energia convencional. Mas se ela foi inaugurada depois, aí pode. Não tem sentido. E isso está causando diferença de concorrência entre as empresas, porque o preço varia muito entre a energia incentivada e a convencional.
A lei previa abrir isso, mas a Aneel não abriu. A lei não foi cumprida. A lei, de 95, diz que depois de três anos iria rever isso, mas nunca reviu.
Procura?
Hoje tem uma parte da indústria que está prejudicada porque não pode ter acesso a esse tipo de energia. Essa regra vale para os antigos que estão ligados em tensão de até 69 kV. Tudo acima de 69 kV podia, mas abaixo, não. E não tem explicação. Não tem nenhum impedimento estrutural para isso acontecer. Um shopping center, por exemplo, que não é industrial e que esteja ligado a 69 kV poderia ser ligado à geração convencional.
Qual a economia o mercado livre pode gerar para a indústria em caso de expansão?
O Brasil tem um mercado de 65 mil MW médios, sendo que o mercado livre responde por cerca de 17 mil médios. Há então uma economia média de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões por ano, que se reflete diretamente no preço para o consumidor. Se o mercado fosse totalmente aberto, multiplicaria isso para até uns R$ 20 bilhões por ano.
Teria como fazer para todo o mercado?
O único país que não abriu o mercado inteiro foi o Brasil. Nós abrimos o mercado há 20 anos, mas não abrimos para todo mundo. É uma incompetência brasileira. Me incluo nisso, porque sou um interessado, e não consigo ajudar a implantar isso. A CCEE quer saber quem está comprando energia de quem, mas não precisa disso. Basta controlar os consumidores grandes.
Uma distribuidora ganha zero vendendo energia. Ela não pode ganhar nenhum tostão sobre a venda de energia. Ela pode perder dinheiro vendendo, porque tem uma regra dizendo que ela te que vender por um preço e depois pode custar mais, como aconteceu aqui recentemente. No mercado livre esse problema não existe.
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