TRANSPETRO A PROCURA DE TECNOLOGIA EFICAZ PARA EVITAR ROUBOS EM SEUS DUTOS LANÇA TELEFONE PARA DENÚNCIAS

A idade da pedra não acabou por falta de pedra. Mesmo longínqua,  esta Era da humanidade é um bom exemplo de que não há como lutar contra a evolução através do tempo. Não há como lutar contra os avanços da tecnologia. Mesmo assim, eventualmente, ainda se encontram resistências. Veja o exemplo da Transpetro. Nunca se roubaram tantos produtos que a empresa transporta através de sua rede de dutos espalhada pelo Brasil. Os números são alarmantes: 74 roubos no último ano. Recentemente noticiamos aqui no Petronotícias até a identificação de uma quadrilha que operava uma refinaria clandestina montada no interior de São Paulo. Uma refinaria construída só para processar os produtos que roubavam da Refinaria Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Para se construir esta refinaria, imagina-se o quanto a Transpetro foi roubada diariamente.

Mesmo diante desses fatos e ciente de algumas tecnologias brasileiras e estrangeiras de última geração para identificar quase que imediatamente quando a empresa é roubada; mesmo ciente de que os responsáveis pelos seguidos roubos são quadrilhas fortemente armadas, milícias instaladas em comunidades, verdadeiras máfias, a empresa tomou uma medida de apoio quase medieval para tentar impedir estes roubos constantes. Mesmo diante da possibilidade de se usar tecnologias mais eficientes, recorreu a  um sistema para receber denúncias pelo telefone. Tecnicamente, basta ligar para o número 168 e haverá uma pessoa de plantão para atender. A Transpetro defende que o número não é apenas para identificar roubos, mas também para atender emergências, como incêndios e vazamentos.

Mas o que se espera alcançar com esta medida? Alguém denunciar os roubos? Será que a população sabe quando isso acontece? Por motivos óbvios, será que terão coragem de ligar? A indagação mais natural seria: por que a Transpetro também não contrata tecnologia de ponta  mais eficaz para este enfrentamento? As tecnologias disponíveis no mercado são capazes de identificar qualquer anomalia no tubo assim que ela acontece. Fizemos estes questionamentos à empresa, que nos respondeu da seguinte forma:

“A Transpetro conta com alta tecnologia no setor e desenvolve iniciativas como, por exemplo, o uso de pigs instrumentados especiais. A  companhia atua em conjunto com o Centro de Tecnologia em Dutos (CTDUT) e em parceria com a comunidade científica e universidades.”

Na verdade, os Pigs instrumentados são usados para inspeção do estado dimensional e para preservação da vida útil dos dutos. Ele também é capaz de localizar qualquer anomalia interna e externa, mas a sua operação é extremamente cara. Mesmo se usado semanalmente o custo inviabiliza a sua utilização. Hoje se tem notícias que a companhia utiliza o Software Stoner, que identifica anomalias por balanço de massa. E ainda uma outra tecnologia que certamente não está dando muito certo. O número de roubos que a companhia foi submetida em um ano, explica isso.

Procuramos saber também qual a tecnologia que o CTDUT já testou para evitar estes roubos. O CTDUT nos enviou esta nota:

“ O Centro de Tecnologia em Dutos – CTDUT promove estudos e pesquisa, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos da área de dutos.

Já testamos efetivamente três tecnologias para detecção de vazamento, podendo estas ser em por ataques a dutos ou fadiga do material.

• A primeira era direcionada para vazamento de Gás, podendo ser GLP ou Gás Natural. Esta tecnologia detectava a diferença de temperatura no local de fuga. Era um PIG que estava em desenvolvimento e obteve bons resultados, porém não acompanhamos os testes finais.
• A segunda era um sensor que passava junto com o fluxo e detectava fuga em líquido, chamada Smart Ball. Esta tecnologia apresentou bom resultado e já está no mercado.
• E a terceira era um detector de vazamento externo que através de ruído detectava o vazamento e sua localização. Este produto também está no mercado.

O CTDUT possui um conjunto de Laboratórios que se presta a auxiliar as empresas no desenvolvimento e demonstração de ferramentas para detecção de vazamentos por ação de terceiros ou ação da corrosão.

Temos um Duto de Testes de  14” em aço carbono, com 100 metros aéreos e dotado de carretéis móveis, onde podemos simular vários tipos de vazamentos com água e/ou N2.

Temos também  um Oleoduto de Testes de 12” também em aço carbono, que simula um Terminal Terrestre, com 2,7 Km de duto, faixa externa, 03 tanques, 04 bombas e todo instrumentado. Este laboratório é ideal para a simulação de tentativa de furto de combustível para o desenvolvimento de ferramentas que possam auxiliar na sua detecção.

Podemos testar tecnologias tipo:

• Fibra Óptica;
• PIGs;
• Emissão Acústica ;
• Balanço de Massa;
• Rede de Braggs;
• Fibra com sensor de presença de fluido, entre outros.

O CTDUT não cria, mas avalia estas tecnologias. E seja qual for a “alta tecnologia” que a estatal está usando até este momento, o mais lógico seria mudar os conceitos e buscar técnicas mais eficientes para acabar definitivamente este problema, que não se limita apenas a prejuízos, mas a segurança de milhares de pessoas. Até agora tudo que foi usado se mostrou ineficaz.

Na semana anterior ao Carnaval, a empresa divulgou um comunicado oficial para apresentar o seu novo serviço de telefonia, que vai  buscar os roubos de produtos em suas linhas. Veja a nota:

“A Transpetro conta agora com um novo sistema para contato entre a empresa e as comunidades por onde passam os dutos da companhia. O número 168 vai substituir seis diferentes 0800 que eram disponibilizados. O atendimento pelo 168 é grátis, 24 horas por dia e sete dias por semana. Por ser um canal único e de fácil memorização, o tridígito vai facilitar o contato da população com a companhia. Os números 0800 continuam operando em um sistema redundante pelos próximos dois anos.

A Transpetro reforça sua comunicação com as comunidades com o objetivo de evitar ações de pessoas não autorizadas em suas instalações, o que traz risco de incêndio e até mesmo explosão. Novas placas de identificação dos dutos estão sendo instaladas nas faixas para alertar sobre o perigo da intervenção de terceiros. O transporte dutoviário de combustíveis é seguro e eficiente, desde que executado pelos funcionários da Transpetro.

É fundamental que os moradores vizinhos às instalações contribuam com a empresa, seja no envio de críticas, sugestões ou comunicando qualquer movimentação suspeita na faixa de dutos ou em terrenos próximos, como exemplo:

Presença de tratores e veículos pesados perto da faixa de dutos; Obras e construções na faixa; Pessoas trabalhando na faixa sem o uniforme da Transpetro; Presença de carros e pessoas com mangueiras e outros equipamentos; Caminhões de combustível perto das faixas de duto; Cheiro forte de combustível na área.”

O Petronotícias teve o cuidado de ligar duas vezes para o número 168. Nas duas oportunidades, ouviu a explicação dos atendentes Danilo e Mayara informando que o serviço era para atender a reclamações contra incêndios ou mato alto nas vias da Transpetro. Indagamos sobre aviso de roubos. “ Sim, isso pode ser feito também.”

Para os alertas sobre incêndios, mato alto ou um vazamento pontual,  pode até funcionar. Mas não se pode esperar que a população se comprometa em denunciar quadrilhadas armadas deixando suas famílias em risco, sem receber qualquer garantia de segurança. O melhor mesmo seria dispor do que há de mais moderno para se fazer o controle tecnológico de suas linhas.